Não me lembro da vida sem livros. Tive o privilégio de nascer em uma família em que a leitura sempre foi algo cotidiano. Nunca cheguei a ser o tipo de leitora voraz ao ponto de abrir mão de outras atividades para ler, mas não creio que tenha passado um dia sem ler ao menos uma ou duas páginas, por maior que fosse o cansaço na hora de dormir. Desde que me conheço por gente, essa é a minha mais duradoura “rotina de autocuidado”, para usar uma expressão da moda.
Nesta semana, um amigo do Facebook lançou uma questão interessante em um grupo de discussão de que ambos participamos: “Quais livros marcaram o início da sua vida como leitor? Não falo de livros infantis, mas livros que durante a adolescência e vida adulta ‘viraram a chave’ e fizeram você amar literatura?” No meu caso, não tenho dúvida de quem seja esse autor. Luis Fernando Verissimo ainda é para onde sempre vou ou volto quando não consigo ser conquistada por nenhuma outra leitura.
Já faz muitos anos que ler uma crônica do Verissimo, para mim, é como colo de mãe e pai, uma demonstração de que as coisas podem ser simples e geniais ao mesmo tempo, de que o humor é fundamental. Não por acaso reler toda a obra dele foi um dos meus tratamentos durante toda a pandemia da Covid-19. E tem mais: normalmente, (re)lendo o que ele escreveu, tenho ideias sobre o que (re)ler a seguir. Já tive fases intensas (que duraram anos) de leitura sistemática e quase obsessiva de alguns autores, mas LFV é meu melhor remédio.
Há poucos meses, a jornalista Cláudia Melane me chamou para participar de uma ação de incentivo à leitura da biblioteca do Sesc de Caxias do Sul. No projeto Leitura Secreta, pessoas de alguma forma envolvidas no mundo dos livros compartilham indicações de seus livros favoritos, e esses ficam à disposição do público em embalagens “secretas”. O leitor escolhe sua próxima leitura sem saber o título da obra, apenas com um spoiler do enredo e o nome de quem a indicou. Com isso, a ideia é ampliar o acesso a diferentes títulos e gêneros literários. Ao receber o convite, decidi despejar de chofre os que me viessem automaticamente à mente e depois pesquisar o restante. Poucos minutos depois, tendo listado aqueles que já dei de presente ou indiquei várias vezes ao longo da vida, as lembranças já passavam de 50.
Pensando no que ler nos próximos feriados, lembrei de publicar a lista por aqui. Não reparem na bagunça e na aparente falta de critério, mas as dicas, que vêm de muito tempo, são honestas, com pouco filtro (tem até livro infantil) e até cabotinas (tem tradução minha e livro do marido). Ah, claro, a caixa de comentários, o e-mail e meus perfis nas redes sociais estão abertos para as tuas sugestões!
- A invenção da solidão, Paul Auster
- A língua absolvida, Elias Canetti
- A maldição das Flores, Angélica Lopes
- À mão esquerda, Fausto Wolff
- A morte é um dia que vale a pena viver, Ana Claudia Quintana Arantes
- A pediatra, Andréa Del Fuego
- A ridícula ideia de nunca mais te ver, Rosa Montero
- Achei que meu pai fosse Deus, Paul Auster
- Afiadas, Michelle Dean
- Alta fidelidade, Nick Hornby
- Antes não era tarde, Pedro Gonzaga
- As boas mulheres da China, Xinran
- Café da manhã dos campeões, Kurt Vonnegut
- Cão como nós, Manuel Alegre
- Comédias da vida privada, Luis Fernando Verissimo
- Como falar dos livros que não lemos, Pierry Bayard
- Copo vazio, Natalia Timerman
- Cozinha confidencial, Anthony Bourdain
- Crônicas de um país bem grande, Bill Bryson
- Desvarios no Brooklyn, Paul Auster
- Dias de abandono, Elena Ferrante
- Disciplina sem drama, Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson
- Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal, Hannah Arendt
- Elza, a garota, Sérgio Rodrigues
- Em defesa da comida, Michael Pollan
- Ensaios de amor, Alain de Botton
- Enterro celestial, Xinran
- Fazes-me falta, Inês Pedrosa
- Fragmentos de um discurso amoroso, Roland Barthes
- Fica comigo esta noite, Inês Pedrosa
- Laços, Domenico Starnone
- Lado B, Sérgio Augusto
- Lágrimas na chuva, Sérgio Faraco
- Matadouro 5, Kurt Vonnegut
- Memórias do esquecimento, Flávio Tavares
- Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis
- Não me lembro de nada, Nora Ephron
- Nas tuas mãos, Inês Pedrosa
- Noites azuis, Joan Didion
- Notas sobre o luto, Chimamanda Ngozi Adichie
- Nunca treze à mesa, Orietta del Sole
- O amor é fogo, Nora Ephron
- O ano do pensamento mágico, Joan Didion
- O brilho do bronze, Boris Fausto
- O cachorrinho Samba, Maria José Dupré
- O cérebro da criança, Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson
- O curso do amor, Alain de Botton
- Quem soltou o pum, Blandina Franco e José Carlos Lollo
- Rato de redação: Sig e a história do Pasquim, Márcio Pinheiro
- Reparação, Ian McEwan
- Sorte sua, Carl Hiaasen
- Talvez você deva conversar com alguém, Lori Gottlieb
- Timbuktu, Paul Auster
- Tomo conta do mundo, Diana Corso
- Tudo se ilumina, Jonathan Safran Foer
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