Uma matéria de maio no Le Monde mostra que a Suécia está investindo na volta do livro didático físico nas escolas. Alguns veículos de notícias brasileiros citaram recentemente a matéria, que vem a calhar nesse momento em que a prefeitura de São Paulo foi questionada e acionada por abrir mão dos livros impressos do Plano Nacional do Livro Didático, que receberia gratuitamente do governo federal, alegando que preferia investir, uma baita grana, em livros digitais.
A Suécia liderou no mundo, nos últimos quinze anos a digitalização no ensino e, agora, pesquisas de desempenho apontam que os alunos perderam muito da capacidade de leitura. A ministra da Educação fala que o país corre o risco de criar uma geração de analfabetos funcionais.
A decisão de investir em livros impressos baseou-se também em estudos científicos de sessenta especialistas que pesquisam sobre o cérebro em crianças e concluem que elas não se beneficiam do ensino com base em telas. A estratégia a partir de agora é menos tempo de tela e mais tempo de leitura em papel.
Esse fato se insere num questionamento que vem ocorrendo hoje no mundo todo sobre o tempo que se dedica às telas. Há uma intoxicação digital. Há um vício de consultar o celular para ver, ver, o que mesmo que se iria ver? Entra-se num labirinto de links que nos levam para lugar nenhum e de lá quase que não conseguimos voltar. Essa atenção compulsiva e paradoxalmente desatenta tem prejudicado muitas vezes o convívio e a comunicação de carne e osso.
No que toca à leitura, é evidente que a possibilidade de baixar pdf, e-books num tablet, num celular, muitas vezes livros virtuais gratuitos, facilitou o acesso às obras. Quando fiz o meu mestrado há poucos anos foi uma mão na roda.
Nesse caso, o objetivo de ir adiante, o prazo a cumprir, a dissertação a escrever, tudo isso foram diretrizes internas que combateram e, felizmente venceram, a dispersão. Mas, no iPad, enquanto lia, não paravam de entrar notificações de chegada de e-mail, notícias, spam… Tudo me convidando a abrir mão da concentração e me jogar no mundo da dispersão digital.
Também tenho notado que a leitura de livros impressos, dos livros que pego e sento pra ler atualmente em minha poltrona, tem sido constantemente bombardeada pelas mensagens dos grupos de WhatsApp, conteúdos novos de Instagram, notícias selecionadas pelo Google, que apitam no celular. Me agarro às duas capas e tento resistir arduamente. Se isso tem acontecido comigo que me criei lendo a palavra impressa, o que esperar de um estudante nascido no ambiente digital?
Talvez uma das coisas a se ensinar hoje é como ler um livro impresso.