Andréia Schefer
Li tanto que, para mim, fica difícil escolher um livro só, mas vou me deter aos livros: Vera, do José Falero, Os Canibais da Rua do Arvoredo, do Tailor Diniz, e Rosa e Violeta, de Clara Corleone que foram os mais recentes, adquiridos na feira do livro. Também gostei muito do livro da Lelei Teixeira, E fomos ser gauche na vida, que me ensinou muito.
Airton Gontow
O Mundo, de Simon Sebag Montefiore
Uma história através das famílias. Ainda estou lendo. É uma obra monumental, de 1398 páginas, editado pela Companhia das Letras, que conta cinco mil anos da história da humanidade – política, guerra, religião, produção cultural, a partir de famílias em diferentes épocas e lugares.
Machado de Assis
Não seria necessário que Courtney Henning Novak, blogueira norte-americana, nos lembrasse que é sempre bom e necessário ler ou reler as obras de Machado de Assis. Em minha opinião, mas posso mudar de ideia depois de enviar essa “resenha”, são sempre fundamentais “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (a história mais genial), citada por Novak; “Dom Casmurro” (a que mais nos toca, corrói e nos leva a eternos debates) e “Quincas Borba” (a história melhor construída).
A Cronologia do Alef Bet: O abecedário judaico contra a ignorância e a maldade do antissemitismo, de Léo Gerchmann
Pode parecer “nepotismo”, já que Léo Gerchmann é meu amigo e a SlerBooks é a editora onde quero um dia publicar meu livro, mas estou preocupado e assustado com o “ressurgimento” do antissemitismo, desta vez oriundo de pessoas do campo democrático, liberal e humanista que não percebem que também “gente do bem” pode ser influenciada por preconceitos milenares. A obra de Léo é fundamental nesse sentido.
Carlos André Moreira
Berlim, de Jason Lutes
Romance em quadrinhos monumental que esboça um panorama abrangente da ascensão do nazismo na Alemanha dos anos 1930 por meio de um rico mosaico de personagens cujas trajetórias se entrecruzam na Berlim em que o fascismo e o comunismo lutam por corações e mentes (Veneta).
Vera, de José Falero
Falero volta ao romance com este livro em que a perspectiva feminina é central e o machismo que perpassa a sociedade é discutido de modo complexo – com a contraposição de situações em que também os oprimidos na escala social podem agir como opressores no contexto das relações de gênero (Todavia).
Faca, de Salman Rushdie
Ressurgido depois de um atentado quase fatal perpetrado por um fanático que não havia sequer nascido quando o Aiatolá Khomeini proferiu uma sentença de morte ao escritor, Rushdie reflete com lucidez, perplexidade e até raiva sobre o breve encontro entre sua vida e a de seu quase assassino (Companhia das Letras).
Fernando Guedes
O Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano
Tenho, e recomendo, quase como livro de cabeceira, sempre ao alcance da mão, essa obra de Eduardo Galeano, lançada em 1991, que serve para todos os momentos. O meu exemplar é da 9a edição, da L&PM. Em 270 páginas, o escritor uruguaio, que morreu em 2015, divide com a gente, em curtos e espetaculares textos, histórias que recolheu em suas andanças. Conversas com amigos, reações dele mesmo a algum acontecimento presenciado, casos contados por gente do povo, tudo vira um abraço no livro do Galeano.
Crônicas
Puxado pela Eduarda, minha filha, que tem 14 anos, reencontrei os cronistas – Drummond, Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, o Luís Fernando. Leveza, bom humor e profundidade indispensáveis nestes tempos bicudos.
O Quinze, de Raquel de Queiroz
Reli o romance, de Rachel de Queiroz, o primeiro dela, publicado em 1930 e ambientado na nordestina de 1915. Rachel de Queiroz sempre vale a pena.
Vamos comprar um poeta, de Afonso Cruz
Vale a pena esse gostoso livro do português Afonso Cruz. Em tempos em que tudo – até a quantidade de saliva de um beijo paterno – é mensurado em custo, possibilidade de lucro, uma menina pede que o pai comore um poeta. Crítica profunda do materialismo exagerado numa sociedade onde um poeta pode substituir o animalzinho de estimação.
A Máquina do Caos, de Max Fisher, e Políticas do Encanto, de Paolo Demuru
Também andei folheando essas duas obras excelentes que podem funcionar como vacinas preventivas contra os males das redes sociais. Os dois livros mostram o impacto das redes sociais na sociedade e como elas se tornaram o grande megafone por onde a direita mundial faz seu discurso de ódio, espalha fake news e molda extremismo vários. Dois livros, na minha opinião, indispensáveis. Demuru e Fisher, para além de denunciar as armadilhas das redes, apontam saídas e estratégias de prevenção a essas emboscadas.
Jorge Barcellos
Capitalismo paradoxante, de Vincent de Gaulejac (Hucitec, 2024).
Um dos autores atuais que eu considero mais crítico do capitalismo e o menos conhecido da esquerda, Gaulejac desde Gestão e Doença Social (Ideias e Letras, 2007) é leitura obrigatória para todos os que combatem os efeitos do capitalismo financeiro. Denunciando as técnicas utilizadas pela iniciativa privada para construir uma subjetividade adequada ao capital e as estratégias através das quais faz com que o sacrifício físico e psíquico seja aceito naturalmente, mostra como as relações de exploração se tornaram a forma dominante de produção de adoecimento de nossa época.
Animais arquitetos, de Juhani Pallasmaa (Olhares, 2024)
Eu já perdi a esperança no homem pela destruição das cidades provocadas pelo avanço do capital especulativo imobiliário que produz prédios absurdos à custa do meio natural e do convívio humano. Por isso, concordo com Pallasmaa de que talvez a saída seja aprender com a inventividade dos hábitos de construção de inúmeras espécies coletadas pelo autor. Eu fiz algo raro que é fazer esta leitura junto com o catálogo da exposição Elainten Arkkitehtuuri, publicado pelo Suomen Rakennustaiteen Museu finlandês em 1995 e que deu origem ao livro é que possui imagens impressionantes. Já aviso que esta última obra é rara e que, se você achar na internet, faça como eu e compre sem pensar.
Estrada para lugar nenhum, de Paris Marx (Ubu, 2024).
Hoje não há crítica ao capital que não passe pela crítica aos efeitos do capitalismo na subjetividade, na arquitetura das cidades e do uso que fazemos da tecnologia. O tema da crítica à sociedade motorizada já havia sido feito por pelo filósofo francês André Gorz (1923-2007), mas a obra de Marx avança muito ao combinar as três formas de crítica que defini no conceito de Carrocracia, que o autor define como parte de um projeto de exclusão social que vincula grandes interesses, plataformas de tecnologia, grandes empresas e redesenho das cidades tudo guiado pelos interesses perversos de mercado e cujo o efeito conhecido é a destruição do meio ambiente.
Karen Farias
A Corneta, de Leonora Carrington
Aos 92 anos e com a audição prejudicada, Marian descobre que sua família decide mandá-la para uma instituição. Lá ela embarca em uma jornada imprevisível, cheia de seres fantásticos e surreais. A obra e autora que são referências para artistas como Björk e Ali Smith.
Morte em Suas Mãos, de Ottessa Moshfegh
Recém viúva, Vesta se muda para o outro lado do país para viver uma velhice calma. Porém, em uma de suas caminhadas com seu cachorro encontra o bilhete “Seu nome era Magda. Ninguém jamais saberá quem a matou. Não fui eu. Aqui está seu corpo” que a lançará numa busca frenética pela solução deste crime, colocando-a contra seus vizinhos, e também em cheque com suas próprias frustações. Uma história policial que vai muito além do que seus clichês.
Minha História das Mulheres, de Michelle Perrot
Nele a autora conta, a partir da história francesa, a história das relações entre homens e mulheres, abordando desde a participação feminina no trabalho, na família, nas cidades, nas artes, nas áreas do saber, etc.
O Mito do Normal, de Gabor Maté com Daniel Maté
Um livro para saber mais como bem-estar emocional e conexões sociais estão conectadas à saúde, doenças e aos vícios, lançando caminhos para possíveis para restabelecimento e melhora.
Lelei Teixeira
É um grande desafio indicar três livros, com uma ou duas linhas justificando a escolha, mas vamos lá. O Brasil de ontem, o Brasil de hoje e um mergulho no Oriente Médio que provoca uma revolução interna.
Ainda Estou aqui, de Marcelo Rubens Paiva (Alfaguara)
Relato sobre a vida de uma família que teve o pai, Rubens Paiva, torturado e morto pela ditadura militar, com foco na mãe, Eunice Paiva, que cria os cinco filhos, enquanto se reinventa para seguir.
De Onde Eles Vêm, de Jeferson Tenório (Cia das Letras)
Lei de Cotas, pobreza, preconceito, exclusão e o sonho de Joaquim – negro, órfão, desempregado, responsável pela avó – que sonha com a faculdade em um ambiente hostil.
O Islã e a Maçã, de Amaro Abreu (Pubblicato Editora, 2024).
Uma imersão no Oriente Médio, aventura ousada que provoca uma viagem interna instigante. Acompanhei desde o início e escrevi um dos prefácios.
Sílvia Marcuzzo
Da sempre tua, de Cláudia Tajes e Diana Corso
O livro é uma troca de correspondências que traz à tona o quanto nós, mulheres, carregamos uma série de julgamentos, preconceitos e culpas que muitas vezes nos trazem problemas. As duas tem sacadas e tiradas geniais. É um livro leve, de fácil leitura e serve para as leitoras e leitores que quiserem dar uma aliviada no dia a dia. Recomendo para quem sabe o quanto precisamos melhorar para sermos mais humanas. As duas escrevem bem e sintetizam situações desse momento de tanta afetação.
Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord
O autor simplesmente antecipou “tudo ou quase tudo” que temos nos deparado nas redes sociais. Lançado em 1967, ele desmascarou muito antes da internet várias faces da nossa sociedade consumista, onde tudo é voltado para a venda, para parecer o que não se é. A edição que me refiro é a última antes do autor morrer, aos 62 anos. No prefácio, da edição de 1992, dois anos antes de Debord falecer, ele interpreta os significados do declínio do império russo. E sentenciou: … o próximo desaparecimento de uma sociedade mundial, que, como se pode dizer agora, será apagada da memória do computador, propunha um juízo estratégico que se torna cada vez mais evidente: “A decomposição mundial da aliança com a mistificação burocrática é, em última análise, o fator mais desfavorável ao desenvolvimento atual da sociedade capitalista”.
Guy Debord teve a intenção de perturbar a sociedade do espetáculo. E conseguiu. Tudo o que vivemos não deixa de ser uma representação.
Os dias de sempre, de Helena Terra
Esse livro me tocou profundamente porque traz à tona como se dá as relações entre pessoas que vivem em cidade do interior do RS. Além do mais, me identifiquei com a autora por algo que fiz muito ao longo da minha vida, que foi o de batalhar por atendimentos médicos para a minha segunda mãe. Além disso, a escritora fez um encadeamento que prende a atenção do leitor.
Vera Moreira
Este ano fiz dezenas de leituras focadas para escrever meu TCC, Nosso corpo, o universo, do pós-graduação em Ciências Humanas (PUCRS) e é bem difícil destacar algumas, mas vamos lá.
O despertar do universo consciente, de Marcelo Gleiser
Toda a obra do astrofísico Marcelo Gleiser merece ser lida/relida. Esse seu último livro é um manifesto para o futuro da humanidade. E ele se colocou ativamente como um agente de mudança ao inaugurar, em outubro passado, a Ilha do Conhecimento, um centro de estudos na Toscana, Itália.
Antropologia do corpo, de David Le Breton
Uma análise abrangente desde a modernidade até a genética atual, mostrando que o corpo é uma construção simbólica e não uma realidade em si, um demarcador das fronteiras entre o indivíduo e o mundo ou dissociado do homem, mais como um ter do que um ser.
O sagrado selvagem, de Roger Bastide
Filosofia e sociologia em ensaios, artigos e conferências. O sagrado explode os limites das instituições religiosas e ganha a contemplação mística da natureza e do belo, o universo onírico, os movimentos revolucionários e as mitologias modernas.
A canção da célula, de Siddhartha Mukherjee
Adoro os livros do Mukherjee, que consegue transmitir informação científica de forma acessível e combinada com o aspecto metafísico. É um médico e biólogo de primeira linha e um escritor inspirado.
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