Com todo o respeito aos sertanejos e aos coaches, alguém aí acredita que Lula, mesmo com o bloco dele desafinado e descompassado, perderia a festa popular da eleição, em 2026, para Gustavo Lima e para Pablo Marçal? Menos, né, pessoal?
A quase dois anos da eleição, me parece que Lula ainda não precisa ficar muito assustado com esses números indicando que, hoje, ele não ganha de ninguém…Tem muito ensaio pela frente e o apito do presidente, como a gente sabe, sempre soa mais alto aos ouvidos dos foliões nos blocos e na arquibancada…
É muito pessimismo dar ares de definitivos aos números apurados pela pesquisa Genial/Quaest em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Pernambuco.
Mas afinal, o que leva o povo a pensar tão mal assim do homem que ganhou cinco eleições – três pessoalmente e duas por interposta pessoa, como diria um jurista antigo – uma delas depois de ficar quase dois anos preso?
Como acontece em tempos de crise, a culpada é sempre a mesma: a comunicação. Mas, neste caso, culpar a comunicação é simplificar demais a crise.
O Brasil tem melhorado em alguns aspectos. Fiquemos com o que mexe diretamente com toda a gente. O índice de desemprego nunca esteve tão baixo como agora. Pouco mais de 6% dos brasileiros estão sem trabalho. O menor número em mais de 10 anos.
Mas Lula prometeu mais do que emprego na campanha eleitoral. Prometeu a volta da picanha…
Aí, a pessoa arruma um emprego. Sai de casa de madrugada para o batente. O ônibus sempre atrasa. E quando chega, está lotado… Não é raro, durante a viagem, o pessoal se ver no meio de um tiroteio. Na volta para casa, passa no mercado… está tudo mais caro do que estava no mês passado… lembra da picanha prometida, passa no açougue… e leva carne de segunda… encontra um amigo que foi assaltado e pergunta pelo outro, que está na fila do SUS esperando o dia do exame que nunca chega…
De repente, vem um cara e pergunta: “O que você acha do governo Lula? Se a eleição fosse hoje e os candidatos fossem esses (mostra um cartão com os nomes de Lula, do Pablo ou do Gustavo), em quem você votaria?”
Alguém precisa de ajuda para saber que respostas daria o estressado pesquisado?
Então, por mais competente que seja a comunicação, o que vale, mesmo, é a percepção que o cidadão tem da realidade. O chefe da Secom, Sidônio Palmeira, prepara o lançamento de uma campanha que terá o título ‘O Brasil é dos Brasileiros’.
Mas o Brasil dos brasileiros apresentado nas peças publicitárias será o mesmo Brasil que os brasileiros percebem quando fecham as janelas de casa para se proteger das balas perdidas, quando se apertam nos ônibus e metrôs, quando sofrem nas filas dos postos de saúde e quando voltam da feira com menos comida que no mês anterior?
Também há quem atribua os problemas do Lula e do governo à falta de cara, de marca para o governo. Quem diz isso, lembra do PAC, do Minha Casa, Minha Vida, da Bolsa Escola dos governos passados de Lula e de Dilma.
Marcas fortes, é verdade. Mas de uma época em que as redes sociais não tinham a força de hoje. Nem a polarização era tão carregada de desinformação e de manipulação de informações.
E há, também, desde o advento de Bolsonaro em 2018, uma outra protagonista da cena política nacional a influenciar as pesquisas: a rejeição. Não é preciso repetir os resultados das eleições.
Todos lembram que a maioria dos votos em Bolsonaro/2018 foi de quem não queria a volta de Lula e do PT ao Palácio do Planalto. Do mesmo jeito que a maioria dos votos em Lula/2022 foi de quem queria tirar Bolsonaro e seus generais do Palácio do Planalto.
E a rejeição não dá margem para condescendência do cidadão com o vencedor. Ao menor problema, vem a lembrança: eu sabia que nenhum dos dois resolveria os problemas, só votei nele para o outro não ganhar.
A rejeição também é forte fator de desestabilização da ampla, amplíssima, frente montada por Lula para compor o governo. A queda de popularidade do presidente e do governo, com certeza, já está fazendo muita gente tirar a fantasia de lulista e buscar inscrição em algum bloco melhor avaliado nas pesquisas.
A rejeição canta alto e cola como samba-enredo nos ouvidos do povo. Poucos têm coragem de ir contra ela e defender o rejeitado…
Outro quesito onde o bloco lulista vai mal é a economia. E, aqui, é a própria bateria petista que atravessa o samba. Por melhor diretor de bateria que Lula seja, ele não consegue enquadrar no mesmo ritmo o tamborim do ministro Fernando Haddad com o bumbo agora nas mãos da deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT e assumindo a secretaria de Relações Institucionais. Gleisi quer mais luxo no desfile. Haddad quer cortar gastos com adereços e alegorias.
É com isso que Lula precisa se preocupar daqui para a frente. Formar um bloco que não pense só na vitória, mas, principalmente, em fazer um desfile que agrade as arquibancadas.
Será que o presidente consegue promover uma reforma ministerial com um time que pense mais numa agenda de Estado do que nas pautas identitárias, de interesses regionais, corporativos, setoriais e até pessoais que movem a maioria dos partidos?
Lula já ganhou cinco eleições. Ele sabe jogar o jogo. A posse da deputada Gleisi Hoffmann – que nada tem de agregadora – na Secretaria de Relações Institucionais, onde se afina o coral governista, será um sinal de que Lula quer o governo com a cara do PT? E, aí, o Centrão iria cantar em outra freguesia??
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Foto da Capa: Valter Campanato / Agência Brasil