Faz frio e José conseguiu na fila de doação de Padre Lancellotti um cobertor novo. Não havia para todos e José retornou ao seu lugar embaixo do viaduto, mas antes sujou a pontinha da coberta para não aparentar ser novo.
Hector, no Dia das Mães, foi no supermercado e comprou uma picanha para o churrasco, mas na hora do elogio disse que era uma maminha em frente aos convidados daquele domingo iluminado.
Carla e Davi foram a Porto de Galinhas pela primeira vez e ficaram em um airbn com cara de resort, e passaram a postar seus momentos no grupo amigos, aquela bolinha verde do Instagram.
O que isto tem a ver com luxo silencioso, ou a tendencia chamada quiet Luxury?
Vem comigo que te explico…
Em post do Neofeed podemos entender o que esta nova tendencia significa.
“O que vou vestir hoje?” Essa dúvida Mark Zuckerberg não tem. Camiseta de malha cinza, calça jeans de um azul médio e tênis; o figurino é sempre o mesmo. O cofundador do Facebook, agora Meta não quer perder tempo com questões tão comezinha. Desapegado? Nem tanto. A simplicidade do bilionário é puro luxo. A camiseta “básica” leva a assinatura da grife italiana Brunello Cucinelli. É feita a mão, sob medida para ele. O Preço? R$ 300,00 no mínimo. Fundada em 1976, a marca é uma das mais exclusivas do mundo. O conceito é o que importa, é invisível aos olhos – quem conhece reconhece – e isto basta.
Mais do que uma tendência, a riqueza furtiva é um estilo de vida. Sofisticado, porém discreto. Elegante sem ostentação.
Como dizia Ralph Lauren: “Alguém que paga 3 mil euros por um suéter de cashmere não quer reconhecimento de ninguém. No máximo dos seus pares.”
Luxo não é acesso. Luxo é exclusividade e código de seletividade. Luxo é distinção simbólica. E o luxo silencioso na linguagem popular é acessível apenas aos ultrarricos, 1% da população mundial. Esta tendência demonstra a saída do culto exagerado às marcas da era aspiracional e o que está em cena é a elegância aristocrática reconfigurada no século XXI.
Mas, se eu queria falar sobre luxo silencioso, por que iniciei o texto com as atitudes de José, Hector, Carla e Davi? Porque ela escancara a ideia do pobre que acha que ao ter acesso a alguma coisa melhor está acessando riqueza, e se preocupa em esconder suas pequenas conquistas sob o argumento de não gerar inveja ou má energias daqueles ao seu lado que não tem.
A relação com o acesso a bens pelas pessoas pobres passa pela culpabilização, pela ideia de inveja e o medo do “olho grande” e uma necessidade de viver algo bom em silêncio. Porque se os outros souberem ele irá perder.
Em comum entre os ultrarricos e os pobres apenas o silêncio, mas sob motivações totalmente diferentes. Luxo é luxo em qualquer tempo histórico sob o nome que for. O que José, Hector, Carla e Davi escondem sob a ideia de “olho grande” é apenas conforto ou acesso a bens que geram dignidade e algum poder de escolha na vida.
O luxo para o pobre ou classe média é sempre um aspiracional interpretado das condições dos mais ricos. Mas quando os pobres imitam os mais ricos, estes já reconfiguram sua exclusividade e a tornam ainda mais inacessível. Distinção. Luxo se baseia nisso. Distinguir pouquíssimos dos muitos da massa.
Não existe luxo para quem não é ultrarrico. Para os pobres e trabalhadores existe as conquistas, o acesso ocasional, a fuga de vez em quanto do mesmo de sempre. E este luxo é o possível. O pequeno luxo possível poderia ser esta denominação.
Mas, mesmo não existindo este luxo dos ultrarricos para nós pessoas pobres, meros mortais o luxo nos deslumbra, nos encanta e nos faz sonhar. Talvez seja esta mesmo a mágica do capitalismo com todas suas mazelas e dores.
Como dizia Joãozinho Trinta, o sábio carnavalesco brasileiro: “Pobre gosta de luxo! Quem gosta de miséria é intelectual.”
Eu desejo que, quando cada um puder ter acesso a seu pequeno luxo, não precise se calar e nem achar que o olho grande irá tirar seu momento de brilhar.