Mais um dezembro chegou. Mais um ano vai se acabando e, parece, vem mais do mesmo por aí, ou aquela velha lesma lerda como cantavam As Frenéticas em 78 do século passado. Como quase sempre acontece, terminamos o ano com o governo fazendo uma nova (mais uma) tentativa de ajuste nas contas públicas e de redução das desigualdades humanas. A receita do governo é óbvia: redistribuir melhor a farinha para engrossar o pirão de todos. Especialmente dos que têm menos.
E como sempre, também, o MMPP, o poderoso Movimento Meu Pirão Primeiro, que tem infiltrados nos partidos da esquerda à direita e, agora, ganha adeptos nas Forças Armadas, no Judiciário e em outras corporações, se agita. O MMPP prepara suas colheres (enormes) para recolher o máximo de farinha que puder e engrossar o próprio pirão.
Um ingrediente da receita governamental faz o MMPP brandir as colheres: a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.
De onde o governo vai tirar farinha para fazer esse agrado aos que ganham menos? Ora, essa isenção será coberta com farinha retirada da panela dos que ganham supersalários até superiores a R$ 500 mil por ano. Claro? Fácil?
Não mesmo, os donos desse panelão, acomodados no próprio Congresso, dificilmente vão apoiar aumento da tributação que mexe nos seus ganhos. Do outro lado, integrantes das Forças Armadas, do Poder Judiciário, do Ministério Público chiam como chaleiras de água fervente e se preparam para barrar outra medida que mexe com o próprio pirão: a discussão sobre supersalários que ultrapassam o teto constitucional por uma brecha da própria constituição que deixa uma série de bonificações fora do teto.
Sabe o que é curioso? Os principais representantes do Poder Judiciário, os ministros do Supremo Tribunal Federal, impuseram, há poucos dias, limites às emendas parlamentares, as doses da farinha do bolo federal a que cada deputado e senador têm direito. Hoje, o valor dessas emendas chega aos R$ 50 bilhões.
A decisão – acertadíssima – do STF, de relatoria do ministro Flávio Dino, diz que o aumento das emendas não pode ser maior que o crescimento das despesas não obrigatórias do governo, que a execução (pagamento) das emendas depende de prévia apresentação de projeto e que verbas para ONGs e outras organizações da sociedade civil só serão liberadas se não existir nenhuma irregularidade anterior. E a receita do governo vai sendo cozinhada em fogo branco enquanto o MMPP trata de amenizar a parte que lhe cabe nesse pirão e deixar mais ralinha a parte do que já tem pouca farinha.
Ah! O que é curioso? Integrantes do Poder Judiciário, que podem criar regras para a distribuição da farinha para o pirão dos outros, não querem que mexam no seu próprio pirão.
Então, nada de muito novo no réveillon. Cada um defendendo o seu e deixando o todo para ver depois. A novidade talvez seja um pouco mais de pimenta na política. A disputa pela sucessão de Lula pode ser a mais longa campanha eleitoral desde a redemocratização. Afinal, desde a eleição de 2022 só se fala na eleição de 2026, com cada um querendo chegar lá com o pirão mais temperado possível.
E assim vai começar 2025. Bolsonaro vai para a cadeia? Quem será o candidato da direita? Lula vai abrir mais espaço para o Centrão? Lula será candidato à reeleição? O PT vai ampliar a frente popular? Teremos terceira via? É, ou não é mais do mesmo, ou a velha lesma lerda?
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Foto da Capa: Reprodução do Youtube