Boscardin (@Boscardin) publicou no Twitter que “dá pra ser contra o Hamas e a favor de um Estado Palestino digno para seu povo. Dá pra se solidarizar com os judeus atacados pelos terroristas e isso não significa apoiar Netanyahu”.
A substância da condenação aos atos terroristas do Hamas contra Israel é mesma que sustenta a dignidade do Estado Palestino.
Nem bem a última bomba tinha explodido e a extrema direta já se lançava numa cruzada pró-Israel endossando por antecipação qualquer resposta violenta contra os palestinos. De repente, aqueles cujo líder foi convidado a se retirar do exército depois de planejar um atentado a bomba contra uma adutora, a turma que na véspera do Natal tentou colocar um artefato explosivo num caminhão de combustível no aeroporto de Brasília no contexto de um golpe de estado, ficaram perplexos com terrorismo e a violência.
A pastora Damares Alves, ministra durante o genocídio Ianomami, aquele que para o bolsonarismo não aconteceu ou, se aconteceu, foi na Venezuela, desta vez foi as lágrimas pela tragédia israelense e desabafou: “-Ó, Israel, como te amo!”
Aquilo que a extrema direita tem na cabeça e apelidou de cérebro, funciona numa `lógica´ que se aproxima da dos assassinos do Hamas: nossas próprias razões nos permitem fazer qualquer coisa (colocar bomba em aeroporto pra colocar nosso Mito no poder via golpe/sequestrar e matar inocentes em nome de um estado islâmico). Deve ser uma redenção pra quem na COVID debochou de pessoas sufocando nos próprios fluídos se colocar em favor de inocentes, poder se olhar no espelho e balbuciar: “-Viu, não sou 100% escroto!”
Melhor seria amar a todos, ser a favor das coisas certas, aquelas que não dependem da religião, ideologia e/ou cor de pele, que possuem uma universalidade intrínseca, a que permite a repudiar a morte de inocentes sem perguntar se são sionistas ou islâmicos.
Israel passou a frequentar o pentecostalismo como a confirmação do retorno de Jesus e por isso virou pauta de tantas igrejas evangélicas. 64% dos evangélicos republicanos-trumpistas se importam com a posição do presidente com aquele país, contra 33% dos republicanos não-trumpistas.
Aliás, seu Jair inclusive cogitou transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém na esteira do seu congênere norte-americano, mostrando que a extrema direita também tem um fascínio mítico por Israel.
Fico me perguntando como essas pessoas lidarão com a realidade se suas previsões se confirmarem: Jesus então volta pro julgamento final. E como ficam os judeus que não O reconhecem como seu Messias Soberano? Vão queimar no fogo do inferno?
Então, prezados sionistas, a extrema direita e o pentecostalismo até gostam de vocês, mas saibam que o julgamento final está chegando e, caso vocês não se convertam para o cristianismo, o futuro não será bacana…
Junto com o retorno da humanidade perdida, veio pra extrema direita a decepção: praticamente ninguém apoiou o Hamas e maciçamente todos condenaram os atos terroristas, a começar pelo presidente Lula. Buster Gunslinger (@BusterScruggs12) resumiu no Twitter a decepção bolsonarista: “O mundo todo incluindo o Brasil estão repudiando os ataques terroristas do Hamas, e a direitinha extremada brasileira estava achando que iriamos apoiar o Hamas! Idiotas!”
É fácil de entender que a extrema direita não consiga conceber que as pessoas ajam por princípios, condenem atentados cometido contra países governados por mandatários como Netanyahu que têm uma pauta pra lá de sinistra. Na Terra Plana, as pessoas são divididas entre apoiadores do Mito e inimigos, sendo que os primeiros não deixam de ser “cristãos-cidadãos-de-bem-patriotas” nem depois de colocar bomba em aeroporto, pois, afinal, os fins sempre justificam os meios. Então, se o Hamas tivesse colocado uma bomba na sede do PT, ou mesmo no aeroporto no de Brasília na véspera de Natal matando famílias de brasileiros, e isso culminasse num golpe de estado a favor do seu Jair, não seria de estranhar que os tarados estivessem com a camisa da seleção gritando Allahu Akbar a pleno pulmões…
É que o apoio desse pessoal não nasce do amor e empatia ao próximo, mas em viés de confirmação de suas próprias convicções, interesse objetivo, tanto que um indígena morrendo de fome pode ser atacado e culpado por sua desgraça se essa responsabilidade recair sobre seu líder, daí não têm lágrimas e nem “-Ó, Ianomami, como te amo!”
Buga o cérebro bolsonarista alguém ser contra a extrema direita e ao mesmo tempo condenar o terrorismo do Hamas, já que por lá tudo é muito raso, a lógica do grupo do WhatsApp é pouco mais que um filme da Sessão da Tarde dividindo o mundo entre maus e bons. Uma compreensão mais apurada é incompatível e excludente com o estado mental do fanatismo bolsonarista, por isso eles a evitam a todo o custo, e por isso sempre precisam endossar realidades paralelas para manter narrativas descoladas dos fatos.
É exatamente por isso que a extrema direita jamais abordará o apagão na segurança de Netanyahu em não conseguiu prever, evitar e minimizar o ataque terrorista do Hamas, é que Bibi é amigo deles, então as vítimas já deixam de ser tão importantes, pois o amor ao próximo naquele caso depende de outras variáveis.
“Amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Amar as vítimas por serem vítimas independente da cor, origem e/ou ideologia. Repudiar as coisas erradas por serem erradas. Enfim, a civilização.
Como disse a querida Cássia Zanon: “O Hamas não é a Palestina. É um grupo terrorista”.
Deus conforte as vítimas do ataque covarde.
Justiça seja feita contra os assassinos do Hamas.
Foto da Capa: Reprodução do Youtube