Os dias 6 e 27 de outubro se aproximando, e os ânimos esquentando mais que as queimadas no país. De norte a sul, da nascente do rio Moa à ponta do Seixas, a preocupação em votar no melhor candidato está nos corações e mentes de todos, certo? Errado, muito errado.
O debate e propaganda eleitoral nunca foram, em sua maioria, sobre propostas realistas e discussão civilizada. Apresentavam soluções simplistas e promessas vazias de folheto turístico, criando cidades de filme de ficção científica misturados a contos de fadas, e candidatos querendo parecer estrelas de cinema, diluídos em discussões rasas e acusações pessoais.
O horário eleitoral na TV tinha até momentos engraçados, apesar de não servir como programa de humor pela seriedade com que o tema deve ser tratado, com candidatos que não sabiam nem o que estavam fazendo ali. Dicção, aparência bizarra ou apelidos esdrúxulos para chamar a atenção, valia tudo na tentativa de receber alguns votos, como a Galega do Churrasco, Toninho do Diabo, Beleza, Xurras e Dentinho. Completando a feira, Repolhinho e Cebola. Isso, citando só alguns nomes das décadas de 80 e 90, pra não ferir nenhuma lei eleitoral e favorecer algum candidato, divulgando seu nome na minha coluna de audiência tão grande em tamanho e abrangência geográfica (contenho bastante ironia).
As últimas eleições, e essa em especial, têm mostrado que quando a gente pensa que chegou no fundo do poço, percebe que ele desceu mais um nível, de tão sinistra que se tornou a campanha. Não vou me posicionar politicamente aqui, nem defender minha candidata nos Estados Unidos, onde eu voto, por uma cláusula contratual. Tenho aqui no Brasil, obviamente, minhas preferências e reticências, mas vou ficar devendo essa, como dizem os atendentes de loja, quando pedimos um sapato tamanho único e que fique confortável em qualquer pé.
O candidato de hoje não é mais nada divertido. São bem mais perigosos do que a Perversa Angelita ou o Lagartixa do Plástico. Eles são disruptivos por encomenda, mesmo que a maioria dos eleitores que vai votar neles não saiba o que isso significa. Alguns votam na novidade, sem saber ou sem querer saber da história dos sujeitos, e manifestam nas pesquisas, muitas vezes, os nomes que mais ouvem, excetuando os que mais rejeitam, e desconhecendo se o mais ouvido é o mais preparado ou o candidato mais próximo a ser indiciado por algum crime.
A cruzada eleitoral atual conseguiu aliar a Inteligência Artificial com a barbárie, criando episódios de uso de deepfakes, imagens e sons manipulados, falsos e convincentes, a cenas de Rocky: Um Lutador. O verdadeiro debate e as propostas sérias perderam o pouco espaço que tinham, enquanto os candidatos mais espectaculosos, grosseiros e propositalmente mal-informados crescem como uma neoplasia maligna.
Então, mesmo sem saber em quem você vai votar nessa eleição, venho pedir o seu tempo, para refletir e escolher o candidato pelo comprometimento, pelas propostas, pelo planejamento, pela história real. Tenho saudade mesmo de quando crime eleitoral era fazer campanha de boca de urna e sujar a cidade distribuindo santinhos na esquina dos locais de votação.
Foto da Capa: Acervo da Autora
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