Flocos de neve e água pura, ao congelarem, formam cristais em desenhos perfeitos de mandalas, o que talvez signifique um arquétipo da ordem básica do universo. Para os budistas, a mandala é um padrão representativo do cosmo, do universo espiritual, um símbolo que expressa a intuição de integridade ordenada. Carl G. Jung escolheu o termo alemão selbst (si-mesmo) para denominar o fator arquetípico que opera na psique ao produzir esse padrão, acompanhando os Upanishades indianos em sua designação da alma individual, o atman (o absoluto em miniatura, como o ponto dentro do círculo). A experiência de desenhar mandalas, para Jung, era uma experiência central do si-mesmo: emergindo lenta, empírica e espontaneamente na consciência.
A filosofia grega nasceu com Tales de Mileto ao afirmar que “tudo é água”. Ele observara que a vida vem da água, que a semente de todas as coisas tem natureza úmida, assim como o alimento de todas as coisas é úmido e o próprio calor provém dele e vive graças a ele. Somos nós sementes úmidas, vicejadas na redoma líquida do útero materno. Ao nascermos, somos 90% água. Na vida adulta, o cérebro é 75% água, que, em constante movimento, hidrata, lubrifica, aquece, transporta nutrientes, elimina toxinas, repõe energia, etc. A água é uma estrutura molecular altamente impactada por vibrações do ambiente e dos organismos sencientes. Suas moléculas são empurradas de um lado para o outro no campo reverberado. Por consequência dessas vibrações, a água se articula e agrupa, desarticula e repele moléculas, forma e deforma cristais.
O médico japonês Masaru Emoto pesquisou por décadas a medição da flutuação das ondas na água e fez experiências com fotografias em alta velocidade de cristais de gelo, concluindo que a água se expressa de diversas maneiras. A água de fonte pura e exposta a vibrações suaves (Mozart, mantras, gestos amorosos, paz) forma cristais em mandalas de padrões brilhantes, complexos e até coloridos. A água de torneira, poluída ou exposta a vibrações pesadas (heavy metal, gestos violentos, gritos, xingamentos), não forma mandalas, e sim desenhos de padrões incompletos, assimétricos e de cores opacas. Os flocos de neve também formam mandalas perfeitas e não existem dois iguais, como já se comprovou através de fotografias (cada vez mais precisas) desde 1885, quando Wilson Bentley, um fazendeiro em Vermont, se encantou ao capturar a primeira imagem da estrutura da neve.
Onda, partícula = energia. A onda existe em possibilidade, a partícula é a realização da possibilidade. Toque, som, luz, tudo move tudo. Tudo é movido por ondas. Elas movem cada partícula de nossos corpos formados de água (de todos os corpos: animais, vegetais e minerais). O planeta é mais de 2/3 água, altamente reverberadora. A observação possibilita a onda em partícula, comprovou a ciência quântica. Ou seja, a nossa atenção é o que manifesta nossa realidade. Se a atenção está “dentro”, há uma frequência leve, que flutua e voa, nos conectando à verdade, ao universo, e reverbera. Se a atenção está “fora”, há frequência pesada, que atrai tudo para baixo, e a conexão falha.
Buda dizia que, devido à natureza instável, impermanente de todas as coisas, tudo o que experimentamos tem qualidade de duhkha. Na exata intensidade da alegria, se manifesta o sofrimento. Qualquer tentativa de controle é ilusória, especialmente nas relações humanas. Se a onda “sai” do seu leito, ficamos à mercê das emoções do ego. Se a onda permanece “dentro” do seu leito, a programação condicionada pelo ego se desfaz. É a água se estruturando e desestruturando, nos movendo. Sem a intenção de controle, podemos centrar vibrações puras e suaves e ver emergir na consciência belíssimos cristais, como mandalas de um tempo em que só as águas habitavam nosso belo globo Terra.
No fundo do mar
Machos baiacu japoneses de apenas 12 centímetros desenham mandalas perfeitas no fundo do mar, de cerca de 2 metros de diâmetro, trabalhando incansavelmente com suas aletas em nado circular. O peixinho reúne os sedimentos finos usando o próprio padrão circular. Com isso, ele cria um centro onde a velocidade da água fica reduzida e a fêmea pode colocar os ovos; a vida segue seu curso. Veja o belíssimo vídeo da BBC aqui.
Outros vídeos lindos, de Slava Ivanov – filmagem de flocos de neve com microscópio e aceleração de imagens: SnowTime II e SnowTime III.
Foto da Capa: Alexey Kljatov (flocos de neve congelados, em plano fechado) / Divulgação
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