O mês passado participei da Maratona da Escola do Futuro, que encerrou no dia 23. Considero uma das alternativas educacionais que pode viabilizar o alcance dos propósitos desejados por muitos. Integra o projeto “O Profissional do Futuro”, do Instituto de Transformação Digital (ITD), que tem como objetivo proporcionar aos jovens, alunos de escolas predominantemente públicas, o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, para atuarem nos novos modelos de negócios, impostos por um mundo em constante transformação. Além disso, trabalha competências exigidas para o Profissional do Futuro, a fim de tornar-se apto a suprir as carências do mercado de trabalho, apto a usufruir as oportunidades de lazer, de conivência, de educação continuada e de cultura, entre outras, da atualidade e do futuro.
Os resultados esperados pela Maratona são os de desencadear nos alunos de escolas públicas – que precisam ser valorizadas, apoiadas em suas demandas e que considerem às expectativas de saberes de seus alunos, assim como preparo qualificado dos integrantes do corpo docente – e privadas de educação fundamental (séries finais) e, principalmente, as de ensino médio, onde processos de construção e consolidação de competências e habilidades necessárias para empreendedorismo inovador e ingresso no mercado de Trabalho são importantes.
A proposta surgiu a partir de sonhos dos integrantes do Instituto, de caminhadas e experiências vivenciadas, de inúmeras trocas de ideias, de estudos, de conhecimento do que se faz mundo afora. O protótipo foi testado junto a duas escolas municipais, com resultado surpreendente. Em 2019, o ITD apresentou uma proposta ampliada e ajustada de atendimento a jovens do ensino médio, junto à Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda do Rio Grande do Sul. Diante da pandemia a tramitação parou. Entretanto, ao retorno da nova “normalidade”, estão sendo marcados novos encontros para retomada, o que estimulou realizar a experiência.
Com o aval da Secretaria Municipal de Educação, da direção do Programa do Futuro e da direção do Pão dos Pobres, em quatro sextas-feiras, do mês de setembro, o ITD realizou a Maratona da Escola do Futuro, no Instituto Caldeira, em espaço gentilmente cedido pelo Atitus Educação, com encontros presenciais e online ao longo da semana, valendo-se da disponibilidade e empenho dos mentores, especialistas do Instituto: Eduardo Gross, Érica Grellet, Giovani Machado, Paulo Kendezerski e eu.
Somos integrantes do Coletivo o Paulo, que coordena o projeto, e eu e temos difundido nos grupos a possibilidade de realizar o trabalho da Maratona, não apenas junto às Escolas Municipais de nossa periferia, mas junto a grupos de jovens de nossos bairros para sanar lacunas em suas comunidades.
A Maratona envolveu alunos voluntários de duas escolas municipais, de uma aceleradora de Jovens Talentos vinculada à IES e três turmas de alunos do Ensino Médio dos cursos de Hidráulica e Refrigeração do Pão dos Pobres. Eles fizeram uma imersão, para pensar sua escola como um ambiente coletivo, onde identificaram e mapearam os problemas e necessidades da própria escola ou da sua comunidade próxima. Propuseram soluções, no formato de pré-projetos, que serão aprimorados e aplicados. A partir de outubro, o Instituto dará sequência à execução das propostas, pois precisamos saber sair do papel e concretizar as propostas. Na próxima etapa, a ocorrer em outubro próximo, os maratonistas serão estimulados e orientados na consolidação das competências e serão levados em consideração o pensamento crítico, a flexibilidade cognitiva, a execução inovadora, o comportamento humano e a criatividade, pelos mentores do ITD.
No primeiro encontro, tiveram que descrever o desafio e, valendo-se da ferramenta Canvas, de gestão de projetos, fizeram a ideação, a prototipagem, defenderam a minuta inicial do projeto por meio de um pitch, procedimento de apresentação da proposta, para uma banca examinadora. Defenderam a pertinência, a sustentabilidade e a viabilidade física e econômica da proposta com base em dados e fatos coletados. O trabalho, desenvolvido com autonomia, efetivamente facilitou o processo de aprender a aprender, como atores do processo de construção e não integrantes passivos. O dar-se conta desta conquista os tornou mais seguros.
No ITD, demonstramos sempre a confiança de que, no prazo estipulado, os maratonistas seriam capazes de concluir o desafio, desde a decisão de organizar o grupo e dividir tarefas, até a conclusão e defesa de seu trabalho. À medida que os trabalhos avançavam, os jovens recebiam reconhecimento e estímulo para avançar. A cada impasse, eram-lhes feitas perguntas, que os ajudaram a retomar a caminhada. No terceiro encontro presencial, quando do “ensaio” da apresentação do Pitch, eles se deram conta do quanto apreenderam.
Vale destacar a dedicação dos participantes. Muito antes do horário estipulado, a sala da atividade já contava com quase todos os integrantes dos grupos (todos eles tinham dificuldade de transporte). Nesse tempo antes das 14h, eles se dedicaram à organização das produções individuais, para não perder o tempo de contato presencial com os mentores. Ao serem questionados como tinha sido o final de semana anterior, expressaram satisfação em contarem que tinham se dedicado à tarefa e descoberto, pelas pesquisas, informações e dados que desconheciam e que foram muito úteis. Alguns, apresentaram resultado de pesquisa quantitativa de opinião realizadas junto a professores e colegas.
Um dos focos dos projetos foi acessibilidade à escola para os cadeirantes, a partir de exemplos documentados das realidades enfrentadas pelos mesmos, nas escolas municipais e na escola que viabiliza profissionalização, diante das restrições de acesso. O questionamento foi em que medida os sacrifícios viabilizaria a conclusão do curso ou impediria o acesso de novos estudantes. Indicava dificuldades do acesso dos cadeirantes ao mercado de trabalho pela baixa escolaridade a que eles estavam sendo condicionados. Apontaram a distância entre o discurso de inclusão e a realidade de muitas crianças e jovens que vivem em nossa cidade. É preciso olhar as causas das vagas não preenchidas e dos índices de evasão, que, em muitos casos é da estrutura físicas e não de ensino.
Outros grupos identificaram a falta de cultura e educação digital, dos seus pares e professores. Propuseram-se a viabilizar esta formação, dispondo-se exercer docência, ou pela realização de parcerias com entidades possuidoras desta competência.
A necessidade de preparo dos professores para as novas disciplinas das Diretrizes Curriculares da Educação Básica foi outro foco. Propuseram que os docentes tivessem, junto às Instituições de Ensino Superior, uma nova preparação mais enriquecedora, do que a adquiridas em um ou dois dias de treinamento. Para eles uma prioridade e uma expectativa foi aulas mais atrativas, os assuntos mais atualizados, as dinâmicas mais convidativas para a vivência.
A Higiene e bem-estar nos sanitários foi outra proposta. Necessidade de recuperação e manutenção dos sanitários, masculinos e femininos, pela falta de privacidade (portas sem fechaduras), higiene (vasos sem assentos) e muito velhos, paredes requerendo manutenção. Necessidade a ser suprida pera todos
A banca examinadora foi composta por especialistas em educação, empreendedorismo e inovação, exercendo cargos e funções diferenciados. Integraram a banca: Luiz Carlos Pinto, Secretário de Inovação de Porto Alegre; Raquel Teixeira, Secretária Estadual de Educação do RS; Sonia Maria Oliveira da Rosa, Secretária de Educação de Porto Alegre; Jorge Imperatore, Diretor de Inovação e Projetos Estratégicos da Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda do Governo do Estado; Vinicius Severo, Diretor da Atitus Educação; Luciane Campana, do GetEdu – Google for Education; Eduardo Gross e eu, como especialistas do Instituto.
Seus integrantes reconheceram a consistência da justificativa e dos benefícios do que estava sendo apresentado. Os jovens responderam aos questionamentos com segurança e acataram com humildade e reconhecimento as sugestões de melhoria recebidas.
Valorizam-se, no momento altas tecnologias, que em breve estarão obsoletas, enquanto tecnologias sociais, como as propostas, conseguem, com maior agilidade e menores custos ser extensiva a todos. Nada contra as altas tecnologias. O questionamento que se faz é, em que medida seu uso, poderá atingir a TODAS as crianças e TODOS os jovens dos rincões de nossa cidade, estado e país, sem investimentos que os orçamentos atuais não sustem?
Não se trata apenas de instalações, equipamentos, manutenções e atualizações. A maioria das escolas existentes foram construídas no século passado. Enquanto esse processo de educação digital se desenvolve como prioridade, outros investimentos precisam ocorrer, para cobrir outras prioridades, a custos menores. Certamente seriam obtidos melhores resultados, com segurança, acesso e permanência, satisfação pessoal e coletiva, autoestima elevada e, principalmente, construção de uma educação cidadã que amplie a consciência de todos para seus deveres e direitos.
Termos vastamente utilizados em discursos inflamados: inclusão, parceria, colaboração, competências e habilidades podem se concretizar no uso de tecnologias alternativas. O propósito do ITD, ao apresentar a Maratona, está associado à prática do aprender a aprender, para que esses jovens a partir do desafio que seu iniciou com a primeira fase da Maratona, sigam a sua jornada de aprendizado contínuo. Estamos sempre aprendendo, isso é suporte para assumirem novas competências, diante de desafios externos ou internos e cambiantes ao longo dos anos. Segundo o cientista Albert Einstein: A vida deve ser um crescimento e aprendizado constantes. Vale lembrar que Albert Einstein não teve uma vida fácil. Mau aluno na escola e considerado “inútil” pelos seus professores e pares, teve de lutar muito para provar as suas capacidades. Mas é a prova de que quando não desistimos, quando acreditamos no que defendemos, não há nada que nos derrube!
*Rita Maria Silvia Carnevale, Me, é Diretora de Projetos Sociais e Educacionais do ITD, articuladora do POA Inquieta