O marco temporal é uma ideologia extrativista. A hashtag #MarcoTemporalNão é uma das mais comentadas nas mídias sociais digitais desde que o tema entrou na pauta do Judiciário. Coalizões e redes da sociedade civil — Observatório do Clima (OC), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Climainfo, WWF Brasil, SOS Mata Atlântica e outras — fazem seu papel de revelar alguns movimentos nas esferas públicas, principalmente no Legislativo e no setor privado.
O marco temporal é parte de uma gramática capitalista. Bancada ruralista, frente do ogronegócio e outros contramovimentos ultraextrativistas encontram-se ativos no Brasil. Pesquisas recentes apresentam o tamanho do estrago realizado por essa ideologia extrativista de alta intensidade e extensão: o Atlas do Problema Mineral Brasileiro. O documento de 2023 é uma publicação do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, produzido no âmbito do Observatório dos Conflitos da Mineração no Brasil. A figura a seguir apresenta a extensão territorial das áreas com práticas de extração mineral no Brasil.
Nas redes sociais digitais, como o Twitter, esses diferentes grupos travam uma guerra gramatical — ou mais especificamente de narrativas. A rede do ogronegócio aliado à rede dos extrativistas minerais realçam a necessidade de continuar a extração de minerais com vistas a uma transição energética sustentável para o país. Do outro lado, a rede ambientalista e climática busca trazer argumentos que demonstram o caráter destrutivo desse tipo de estratégia extrativista.
Ao se comparar as narrativas com os efeitos físico-territoriais no Brasil é relativamente nítido entender como esse tipo de prática afeta as regiões e as comunidades de forma bem diferente. Os étnico-territórios da Amazônia Legal — composta por nove estados brasileiros sem contar a extensão do bioma amazônica por cima de outras fronteiras geopolíticas sul-americanas — já estão em situação de devastação.
O marco temporal, quando entendido como uma ideologia capitalista extrativista, já demonstrou como pode ser destrutivo para os povos da floresta, para as comunidades locais e para as sociedades brasileiras. Em defesa de uma utopia climática, há indivíduos e grupos que argumentam haver outras formas de habitar esse mundo. Cabe às cidadãs e aos cidadãos tornarem-se sujeitos políticos ativos. Precisa-se de ativistas no presente e para o presente, pois se os sujeitos políticos presentes aprovarem a tese do marco temporal na legislação brasileira não haverá futuro para nossas florestas nem para nós mesmos.
Foto da Capa: Garimpo ilegal na Amazônia – Agência Brasil