Essa semana fiz um checkup que incluía exames cardíacos. Sou curioso e gosto de fazer perguntas, para os médicos, para o motorista do Uber, para o porteiro, seja quem for, sempre puxo um papinho e tento aprender alguma coisa com eles. Nos exames de hoje não foi diferente. Enquanto fazia o ecocardiograma, eu ouvia as batidas do meu coração e perguntei ao cardiologista se os demais órgãos do corpo ouvem aquela barulheira noite e dia por toda a vida? Ele me respondeu: “Se os demais órgãos tiverem ouvidos, iriam ouvir sim, não tão alto quanto estamos ouvindo, porque aqui tem um amplificador”. Eu fiquei imaginando o estresse que deve ser para o pulmão, rim, fígado… ouvindo aquele barulho. Do estômago e intestino nem falo, pois eles também produzem os seus ruídos. Quem nunca ouviu o estômago roncar de fome ou o intestino emitir sons estranhos?
A conversa continuou e o médico foi me dizendo que o coração gera o seu próprio impulso elétrico, ele tem uma célula que funciona como uma bateria, por isto que ele consegue continuar batendo mesmo fora do corpo. Que loucura isto, não é mesmo? Os impulsos elétricos estimulam a contração das paredes e impulsiona o sangue, e a abertura e fechamento das válvulas é que provoca o barulho, mas não é como canta Elba Ramalho: “Tum, tum, bate coração”. Na verdade, ele faz “tum, tá”. E eu continuei perguntando: como que o coração sabe quando precisa bater mais rápido? Quantas vezes ele bate ao longo da vida? Eu estava achando que ele iria me mandar procurar no Google, mas o cardiologista teve paciência de explicar algumas coisas e admitiu que o corpo humano é uma máquina tão maravilhosa e complexa que não se sabe como certas coisas funcionam.
Depois fui fazer um eletro de esforço, cheio eletrodos e de fios pendurados, subi naquela esteira e comecei a caminhar, logo ela foi se elevando e aumentando a velocidade. Aí já era uma médica que me perguntava a todo minuto se eu estava cansado e eu só acenava com a cabeça que não, querendo poupar o fôlego, enquanto olhava para o relógio na parede. Eu queria chegar pelo menos nos 10 minutos. Ela continuou insistindo e quando bateu 10 minutos e confessei que estava cansado, mas nem deu tempo de eu dizer que ainda poderia ir mais um pouquinho, e ela já reduziu a velocidade e a inclinação da esteira. Quando a esteira parou eu me senti como se estivesse recém escapado de uma perseguição de um leão. A doutora então parou de olhar a para a tela e me deu os parabéns, disse que o meu coração estava muito bom. Eu me senti um atleta e fiquei feliz da vida, mas aí ela completou a frase: “Para a tua idade!”. Putz! Um balde de água fria. Ela devia estar esperando menos de um idoso.
Saí de lá e fui pesquisar sobre o coração. Descobri que, ao longo da vida, ele bate 2,5 bilhões de vezes e bombeia cerca de 150 milhões de litros de sangue que são distribuídas para 75 trilhões de células do nosso corpo. Na ida alimenta as células com suprimentos essenciais e na volta recolhe o lixo que é descartado pelos músculos. É como as redes na frente da sua casa, tem a de água potável e a do esgoto. As emoções e os exercícios deixam as células famintas por alimentos e oxigênio, por isto ele bate mais rápido para atender a demanda do mercado, digo, das células.
Lembrei da minha decepção quando a professora da escola mostrou um coração de borracha e foi então que eu percebi que o coração verdadeiro não era vermelho e nem do formato que eu desenhava nos cartões do Dia das Mães. Agora fiz novas descobertas, eu não sabia que no feto, o coração fica do lado direito, só depois que ele assume uma posição centro-esquerda no peito. Me pergunto, por que persiste a imagem do coração do Dia das Mães? E por que o coração é o símbolo do amor?
Certa vez ouvi um pneumologista dizer que o pulmão é que deveria ser o símbolo do amor. Na sua opinião, um coração apaixonado pode bater mais forte, mas nada se compara com um “suspiro” de uma paixão, ou com aquele beijo de “perder o fôlego”. Talvez o pneumologista tenha razão, mas eu continuo impressionado com este músculo que bate sem parar, até mesmo fora do peito. Me interesso muito pelos mistérios do cérebro e pelas descobertas da neurociência, mas confesso que hoje me apaixonei pelo coração!