De todas as missões realizadas pelo Coletivo POA Inquieta, a Missão IV foi a maior em quantidade de participantes e, sobretudo, em diversidade de atores. Além dos componentes do coletivo, integraram agentes do governo municipal, representantes de organizações sociais, fundações, iniciativa privada e universidades.
A Missão foi recebida pelos representantes do escritório de resiliência de Medellín, que preparam uma intensa agenda. Percorremos vários territórios da cidade, com visitas a espaços emblemáticos para o desenvolvimento social e econômico nos últimos 20 anos.
A programação foi preenchida com reuniões junto aos gestores dos espaços, onde foram apresentadas a forma com que funcionam, os resultados de cada um dos respectivos programas e aberto um canal direto de intercâmbio de informações e de cooperação entre os agentes das duas cidades.
Entre os inúmeros locais visitados, pode-se destacar três em que Porto Alegre precisa conhecer mais, pois o impacto que eles têm na comunidade é imenso e são modelos inspiracionais que, considerando as características locais, podem ser desenvolvidos por aqui: a RUTA N, o MOVA e o Parque del Rio.
Entre tantos bons exemplos, estes três representam nesta ordem, desenvolvimento econômico, inovação na educação e resiliência urbanística.
Criado em 2010, a Ruta N faz a conexão entre a academia, as empresas e o Estado para desenvolver o ecossistema de ciência, tecnologia e inovação de Medellín.
Ele desenvolve este ecossistema levando transformações disruptivas aos processos sociais, conectando organizações e atraindo capital local e estrangeiro para usá-lo como doação ou capital semente em iniciativas de impacto social.
Funciona como um grande hub na cidade, mas entende a importância da descentralização, garantindo a participação de extratos mais vulneráveis socioeconomicamente tanto com programas de aceleração, como também com espaços de aprendizagem como o Vale do Software, estrategicamente instalados nos territórios de maior vulnerabilidade.
Já o MOVA é um centro de inovação para professores que promove uma articulação pedagógica em um espaço físico de encontro para o diálogo e cooperação entre professores, equipe diretiva e demais agentes educativos da cidade. Estabelecido em 2015, é um dos únicos centros de formação de professores do mundo, o outro fica na Índia.
O MOVA visa preparar os professores para a quarta revolução industrial e as competências para o século XXI. Para isso, se utiliza de metodologias e espaços flexíveis, abertos e criativos. Ele tem como princípios fundamentais o diálogo através do reconhecimento da subjetividade de cada pessoa, de saber criar para inovar a partir de contextos e realidades distintos e de reconhecer a convivência como aspecto central na formação.
Vale ressaltar uma particularidade que tanto a Ruta N como o MOVA tem em comum, eles foram financiados com recursos oriundos da privatização de parte de uma companhia pública. Os gestores públicos realizaram um concurso entre as secretarias para que fossem desenvolvidas soluções de impacto para a cidade e eles foram os escolhidos. O que fica de lição para nós, brasileiros, é o entendimento de que os recursos não se diluem dentro da máquina da administração pública, mas, sim, são transformados em novo patrimônio, mais consistente e em sintonia com os desafios do novo século.
Em terceiro, o último exemplo de boa pratica a ser comentado por aqui é o Parque del Rio, ele é uma solução urbanística de integração entre a população e o rio que corta a cidade. Novamente, cabe aqui um paralelo comparativo com o Arroio Dilúvio, que, da mesma forma, faz parte do cenário de Porto Alegre atravessando de uma ponta a outra.
Seu propósito é de articular os corpos de água, os vazios verdes, e as infraestruturas subutilizadas sobre o rio por meio de sua recuperação e articulação ao restante da cidade. Auxiliando a permeabilizar as zonas de vegetação, integrando-as a um sistema geral que dá maior hierarquia e continuidade a estrutura natural do próprio rio. Isto se dá com a construção de ciclovias e espaços de lazer, oferecendo para os moradores um espaço de convivência com maior qualidade de vida, que estimula o desporto e a prática de atividades ao ar livre.
São muitos outros exemplos vindos de Medellín com os quais podemos nos inspirar. Aqui foram citados apenas três deles, mas que deixam a mensagem: a cidade é formada pelos seus cidadãos e a oferta de serviços públicos deve ser sempre pensada para eles, respeitando as particularidades características de cada território para seu desenvolvimento social e econômico.
Cleiton Chiarel é cientista político, diretor do INSPE, chefe de divisão na diretoria técnica da Superintendência de Ensino Profissional do RS e articulador do Spin de Economia Criativa do POA Inquieta.
Foto da Capa: Sede do Projeto Ruta N – Alcadía de Medellín