No último sábado, 03 de maio, o coletivo Porto Alegre Inquieta realizou a primeira edição da Caminhada das Flores, um ato cívico e silencioso de profunda carga simbólica, que percorreu o trajeto entre o Mercado Público de Porto Alegre e o Monumento aos Voluntários das Cheias de 2024 no início da orla do rio Guaíba.
A Caminhada das Flores nasceu como um gesto de solidariedade às pessoas atingidas pelas enchentes, mas também como um convite à reflexão coletiva sobre a crise climática, seus impactos crescentes e a urgência de construirmos uma cidade resiliente, capaz de enfrentar eventos extremos com menos sofrimento.
Flores como gesto e símbolo
Carregamos flores nas mãos e no coração, em memória dos que sofreram e seguem lutando. A caminhada não foi barulhenta – foi carregada de sentido. O silêncio predominante no trajeto era uma linguagem de respeito, escuta e cuidado. Ao final do percurso, em um momento de grande emoção, Mãe Bia, da Ilha da Pintada – uma das regiões mais vulneráveis e atingidas da cidade – entoou “O Canto das Três Raças” numa linda capela improvisada sob as árvores. Enquanto sua voz ecoava, os participantes depositavam as flores ao pé do monumento, transformando o espaço em altar coletivo de memória e esperança.
Mais do que lembrar, queremos nos transformar
A caminhada foi também um clamor coletivo por uma Porto Alegre resiliente, capaz de se preparar, responder e se recuperar de eventos extremos como os que vivemos. Queremos uma cidade que coloque a vida no centro, que repense sua relação com a natureza e com seus territórios mais vulneráveis.
Aderiram à caminhada cidadãos comuns, lideranças comunitárias, ativistas ambientais, urbanistas, jovens e idosos — todos movidos por um desejo comum: reimaginar Porto Alegre como uma cidade viva, justa, inclusiva e sustentável.
Um compromisso com o futuro
Segundo a disposição dos articuladores do coletivo Porto Alegre Inquieta, a Caminhada das Flores deverá se repetir todos os anos, ganhando novas dimensões: mais ampla, mais cidadã e mais transformadora. Que esse gesto se torne parte do calendário afetivo e político da cidade, lembrando que resistir e cuidar também são formas de transformar.
Porto Alegre precisa — e merece — ser uma cidade onde o futuro seja construído com inquietude, empatia, coragem e ação. Oxalá, as flores da caminhada se traduzam em justiça climática, participação cidadã e uma cidade resiliente com oportunidades para todos.
Cesar Paz é articulador do Coletivo POA Inquieta, empreendedor, professor e Cidadão Emérito de Porto Alegre.
Todos os textos dos membros do POA Inquieta estão AQUI.
Foto da Capa: