Se você algum dia já teve um passarinho, sabe bem como era cuidar da gaiola: montar um pequeno ninho, forrar o fundo com papel, ter água sempre fresca, colocar alpiste, frutinha. Houve um tempo em que ter um pássaro na gaiola era algo normal. Ainda bem que já não é mais.
Recorro hoje ao exemplo da gaiola, mas quero mesmo é falar sobre o ninho, mais precisamente sobre o ninho vazio. Porém, começo pelo final: o meu ninho está cheio de novo!
É verão aqui por estes lados e eu acabei de arrumar o quarto da minha filha caçulinha que está chegando para passar as férias. Quando estava forrando a cama, lembrei dos passarinhos, do cuidado com a gaiola, do medo que tinha de que eles fugissem dali. O pensamento é uma coisa engraçada, assim como os pássaros, ele voa. Foi por isso que falei sobre a gaiola, pois costumava chamar meus filhos de “meus passarinhos”. Dos três, apenas um ainda continua morando conosco. Os outros dois já bateram as asinhas e, assim como as andorinhas, voltam no verão. São os ciclos da vida.
Um dia, há muitos anos, minha mãe chorou quando eu saí de casa para morar fora. Me lembro muito bem quando ela disse que um dia eu entenderia o motivo das lágrimas. Sim, mãe, eu hoje entendo! Há um ditado que diz que “crescer dói”, e como dói… Mesmo antes do momento em que colocamos um serzinho no mundo, vamos experimentando as dores do crescimento. A barriga vai crescendo e já começamos a pensar como será viver sem eles mexendo aqui dentro. Esse dia chega, eles deixam o nosso ventre e partir daí é um deixar atrás do outro. Deixam o peito, deixam as fraldas, deixam o bercinho, deixam a mamadeira e a “pepeta”.
Um dia, eles deixam a casa vazia durante uma tarde que parece não ter fim, pois saíram orgulhosos com a mochilinha nas costas para o primeiro dia de aula. E assim, passo a passo, eles vão descobrindo a própria individualidade, vão crescendo fisicamente, amadurecendo, e nos deixando um pouquinho a cada dia. À medida que isso acontece, nós somos obrigados a crescer também. Crescer emocionalmente. É um processo ao mesmo tempo gratificante e dolorido. Quanto mais eles crescem, mais nos deixam com nossas dores. Amadurecer como pais é acolher essa dor com respeito e orgulho pelo caminho que eles decidem trilhar, e admiração pelos homens e mulheres que estão se tornando.
Hoje, se me perguntam como me sinto sem meus passarinhos, respondo sem medo de errar: me sinto feliz. Vê-los seguros, seguindo o caminho que escolheram, me dá a certeza de que acertamos como pais. Claro que o coração fica apertadinho, mas ele continua batendo. Bate alto e forte, me lembrando que nunca estará sozinho, pois ele deixou de ser um e passou a ser quatro. Mesmo distantes nossos corações batem no mesmo compasso. Esse som, imperceptível aos ouvidos, cria uma frequência tão intensa e tão nossa, que faz minha alegria superar a dor da separação. Danço mentalmente com esta melodia, cuja letra tem só uma palavra: AMOR.
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