O estrangulamento de George Floyd, um homem negro, por um policial branco nos EUA em 2020 fortaleceu a luta antirracista e a “cultura Woke”, que significa a necessidade de alerta constante contra os preconceitos, algo semelhante ao que se chamava de “politicamente correto”. A discussão sobre diversidade, tolerância, respeito e reparação de desigualdades ganhou força na última década, o que resultou na aprovação de leis que garantem direitos e punem quem não os respeita. Esta jornada não foi pacífica, existem ainda hoje os que contestam essas medidas, talvez o maior grupo seja o do “racismo estrutural”, que é uma forma de preconceito inconsciente, e, do outro lado, a cultura Woke. Segundo consta na reportagem da Veja (6/12/24), a professora Staci Zavattaro, da Universidade Central da Flórida, a cultura Woke vem perdendo força e virou um ativismo simbólico, desconectado da realidade.
Mas o que tudo isso tem a ver com microagressão? Totalmente, pois as microagressões são parte fundamental dessa discussão. O termo foi criado na década de 1970 pelo psiquiatra Chester Pierce, da Universidade de Harvard, mas só ganhou visibilidade em 2007 com o psicólogo Derald Sue, da Universidade de Colúmbia. Ele definiu categorias de microagressões: Microataques (difamações conscientes e intencionais), Microinsultos (comunicações verbais ou não que transmitem insensibilidade em relação à pessoa), Microinvalidações (comunicações que excluem ou negam os pensamentos, sentimentos ou experiências das pessoas agredidas).
Em resumo, microagressões podem incluir comentários ou atitudes aparentemente inofensivas, como sugerir que alguém “passou da idade” para algo, duvidar da competência de uma pessoa, ou usar expressões como “Você tá surdo?” ou “Seu sotaque é engraçado”.
Para muitos, essas atitudes podem parecer exageradas, mas o impacto é real. Recentemente, presenciei uma situação em que uma pessoa acusou outra, diante de um grupo, de torná-la “invisível”. Durante um almoço com oito pessoas, a acusadora afirmou ter se sentido ignorada porque a outra pessoa não olhava para ela enquanto falava com os demais.
Quem acha que essas questões são exageradas geralmente está no papel de quem ofende, mesmo que de forma não intencional. Não basta “se colocar no lugar do outro”, já que quem não compartilha do histórico de discriminação não consegue compreender totalmente o impacto de suas palavras ou gestos. A dor de quem sente deve ser respeitada. A cultura woke reforça a necessidade de atenção e cuidado ao tratar com o próximo, principalmente quando essa pessoa pertence a um grupo historicamente discriminado.
Todos nós, em algum momento, já cometemos microagressões sem perceber. A reflexão que proponho é se devemos revisar comportamentos, brincadeiras e comentários que antes eram considerados normais, mas que podem causar dor a outras pessoas.
Na sua opinião, as microagressões são uma moda passageira, um radicalismo que pode se voltar contra si mesmo, ou um novo código de ética que será incorporado ao nosso comportamento?
Referências:
- Como os excessos da onda woke viraram um tiro no pé – Revista Veja, 6/12/24:
- O que são microagressões? Como detectá-las e lidar com elas. PsyMeet Social
Todos os textos de Luis Felipe Nascimento estão AQUI.
Foto da Capa: Freepik