Sou alguém que acredita profundamente na ciência e no poder do conhecimento, mas não posso negar que, de vez em quando, acontecem coisas que desafiam toda lógica — verdadeiros “milagres”. E aí vem a grande pergunta: de onde surgem esses milagres? Seriam dádivas de Deus, intervenções de santos, forças do universo ou talvez um sopro de vontade que carregamos dentro de nós? Cada um encontrará a sua resposta. Hoje quero dividir com vocês uma história que, para mim, é um desses milagres.
Em 2020, quando a pandemia nos forçou para o mundo online, surgiram possibilidades de novas conexões: alunos de todo o país puderam se juntar às nossas salas virtuais. Foi assim que conheci a doutoranda Elaine Jordan, de Curitiba. Ela me contou, em meio a sorrisos de esperança, que a Luize, sua filha com 20 anos, fora diagnosticada com um câncer ósseo na pelve. Mesmo abalada, Elaine repetia com firmeza: “Em breve, ela voltará à universidade.”
O semestre acabou, mas continuei em contato e torcendo muito pela Luize. Em 2024, estive em Curitiba e me encontrei com a Elaine — que contou que as notícias não eram boas. Os médicos consideravam uma batalha perdida, nada mais a fazer. Mas, com uma convicção que me cortou o coração, afirmou: “Minha filha vai vencer.”
Desde o início do tratamento, os médicos se dirigiam aos pais, mas logo Luize tomou as rédeas do próprio destino. Pediu que os médicos falassem diretamente com ela. Queria a verdade nua e crua — e recusou tudo o que não fazia sentido para seu corpo e para sua alma: próteses, bolsas de colostomia, congelamento de óvulos. “É a minha vida, minhas escolhas”, dizia ela, com uma força que não imagino de onde tirou. E os pais, mesmo aflitos, a apoiaram.
Elaine tentava transformar o caos no mais suave possível e não se rendia ao desespero. Quando confessava que daria sua vida para salvar a filha, Luize respondia: “Mãe, não quero a sua vida. Quero a minha, com você ao meu lado.” E assim, a força dessa menina e o amor dessa mãe criaram uma corrente de apoio que uniu amigos, familiares e desconhecidos.
Depois de 11 cirurgias, o corpo de Luize parecia apenas pele e ossos — sua voz dizia que não havia mais alma ali. Foi quando ela, serenamente, pediu para conversar sobre a morte: escolheu a roupa para o caixão e disse que não queria morrer no hospital. Então, voltou para sua casa. E, contra qualquer prognóstico, três dias depois, começou a melhorar.
Em 26 de maio de 2025, mãe e filha estiveram no “Podcast Vírgula” para contar esta história. Luize subiu dois andares de escada com bengala para chegar ao estúdio. Hoje, alterna cadeira de rodas e bengala, ainda convivendo com o tumor, mas livre da sentença de morte: “Não vou morrer de câncer”, diz aos médicos. “Sei que não vou voltar a ser a pessoa que eu era, a fazer o que eu fazia, pois eu renasci como uma nova pessoa.”
O mais bonito dessa história não é só a recuperação, mas a dignidade e a fé que floresceram em meio à dor. Luize contou que o pior era o olhar de pena. Que nessas situações as pessoas não sabem o que dizer e dizem o que a paciente não quer ouvir. Mãe e filha, porém, acolheram energias de todas as crenças, sem se prender a nenhuma religião específica.
Elas enfrentaram o canto suave das pseudociências: promessas milagrosas que não entregam o que prometem. Confiaram nos médicos, buscaram segundas opiniões, abraçaram o que funcionava. Como diz Elaine, “se você só olhar para a doença, acaba adoecendo junto. Mas, se tira o foco, ela ainda existe, mas não domina sua vida.”
Parabéns à Luize, à Elaine, ao Maurício e a toda essa rede de amor. Que possamos aprender com eles: a vida é muito mais do que traumas e sofrimento — é viver cada dia acreditando que tudo pode ser melhor. Basta olhar de forma diferente, perceber o sol brilhando, as plantas crescendo… e lembrar, como diz Elaine, há sim uma estrela que nos protege e ela brilha mais forte quando a noite parece infinita.
Referência:
- Assista à história completa em Vírgula Podcast - Da sentença final ao milagre, com Luize e Elaine Jordan.
Todos os textos de Luis Felipe Nascimento estão AQUI.
Foto da capa: Luize e Elaine Jordan no Podcast Vírgula