Jorge Ben Jor, aos 83, faz show em Porto Alegre no próximo dia 20. Gilberto Gil, que prossegue em turnê tamanho família pela Europa, chega em março de 2023 à cidade. Caetano comemora os 80 com uma live no domingo, dia 7, acompanhado dos filhos e da irmã Maria Bethânia (76). O show em Porto Alegre será em dezembro. Milton Nascimento solta a voz nas estradas até o final do ano na turnê que marca sua despedida dos palcos e também a chegada dos 80, em outubro. Milhares de ingressos esgotaram-se em poucas horas.
Representante ilustre da safra 1942, Paul McCartney assoprou as velinhas no dia 18 de junho e uma semana depois estava tocando para mais de 100 mil pessoas em Glastonbury, tornando-se o artista mais velho a se apresentar no festival em 52 anos. Falando em recordes, nesta quarta, dia 3, Mick Jagger (79) encerra na Alemanha a etapa europeia da turnê que comemora os 60 anos de uma banda chamada Rolling Stones. O tempo continua ao lado deles.
No Brasil, Chico Buarque (78) começa uma gira nacional no mês que vem, chegando ao Araújo Vianna em novembro. No repertório, um convite em forma de canção para espectadores de todas as idades desanimados com o sanatório geral da nação: que tal um samba?
A lista poderia continuar.
Se é certo que sempre houve artistas longevos, é difícil imaginar outro momento em que a ideia de envelhecer sob os holofotes tenha se assemelhado a um movimento geracional, como agora. A geração de artistas que, nos anos 1960, inventou a ideia de juventude (na política, nas artes, nos costumes, no consumo) talvez seja a primeira a estar se beneficiando de um novo tipo de velhice: mais longa, mais saudável e de certa forma mais livre para subverter expectativas.
Nada disso seria suficiente, claro, se esses artistas não tivessem algo a dizer às novas gerações. Muito mais difícil do que chegar à velhice com fôlego para enfrentar uma maratona sobre o palco é permanecer relevante como artista por décadas a fio. Manter-se em cena, mesmo quando a voz falha e o corpo não obedece como antes, torna-se um gesto de rebeldia contra as fragilidades físicas, além de uma espécie de reafirmação da potência criativa. E a plateia sabe disso. Por isso as palmas, as lágrimas, o coro de vozes embargadas e a gratidão dos espectadores pela graça alcançada. Os artistas que nós amamos são eternos. Perto deles, nós também somos.
Neste ano em que tantos músicos fabulosos celebraram a passagem do tempo e a permanência da arte (vita brevis, ars longa), Joni Mitchell (78) proporcionou o momento mais emocionante e surpreendente de todos, ao retornar ao palco do Newport Folk Festival, sete anos depois de um AVC que a obrigou a reaprender a cantar e a tocar.
Cercada de músicos e plateia em estado de devoção absoluta, uma das maiores compositoras do século 20, a poeta que deveria ter ganhado o Nobel no lugar de Dylan (se eu apitasse alguma coisa na Academia Sueca), tocou guitarra e relembrou algumas de suas canções mais conhecidas. Entre elas, Both Sides Now, que adquire todo um novo significado ao ser cantada por uma mulher mais velha e mais sábia do que aquela que compôs a canção, mais de 50 anos atrás: “I’ve looked at life from both sides now / From win and lose and still somehow / It’s life’s illusions I recall / I really don’t know life at all”.