A Lelei foi a primeira pessoa com nanismo que conversei, isso que eu já tinha mais de 40 anos quando a conheci. Eu estava participando de um encontro de pessoas com nanismo e ouvi a fala dela. Fiquei admirado com o discurso dela e conversamos depois. Foi o começo de uma amizade e de uma parceria em projetos e palestras.
Essa semana, a Lelei foi capa de um caderno do jornal Zero Hora (acesso exclusivo a assinantes) de Porto Alegre, falando sobre um dos seus assuntos preferidos: inclusão. Exatamente como ela fala aqui, nas colunas dela na SLER, uma leitura semanal indispensável.
Já conversamos bastante, trocamos ideias. Estivemos juntos em várias palestras, em diferentes lugares e com diferentes públicos. Já falamos ao vivo e online. Mas o maior aprendizado de todos é o convívio.
A Lelei não passa despercebida. Por mais normal que seja ser diferente, as diferenças desacomodam. Ao entrar em um recinto, com seu 1,10 m, posso garantir que todos os olhares estarão dirigidos a ela. Muitas vezes, o olhar mais demorado se transforma em dedos apontados e deboche. Muitas pessoas não sabem o que fazer quando estão diante de alguém que foge ao padrão. Problema delas, pois, como diz a Lelei, “seguimos firmes nesta incrível caminhada pela diversidade.”
Acompanhar os passos dela, pequenos mas decididos, nos levam a um mundo hostil, cheio de obstáculos. Um cotidiano feito de inalcançáveis botões de elevadores, de grandes e pesadas maçanetas de portas que permanecem fechadas. Quando fomos ao Rio de Janeiro, o farto café da manhã do hotel estava posto em mesas impossíveis de alcançar. Mesmo locais que são feitos para receber podem ser inóspitos.
Nessa e em outras ocasiões confirma-se algo que aprendi no convívio com a diversidade. Diante do problema, os responsáveis começam a enumerar desculpas, não buscam soluções. Resumindo: se fecham e passam a batata quente para quem é diferente. Muitos começam a citar leis e protocolos que não estudaram e nos quais não acreditam. De quem você espera uma solução, vem um apego repentino ao formalismo e a regulamentos.
E é impressionante como um autista ou como uma pessoas com deficiência física com nanismo é capaz de paralisar outra pessoa. O sujeito está lá trabalhando há 10 anos no mesmo lugar, já entediado de fazer a mesma coisa todos os dias. Basta aparecer alguém diferente que ele fica rígido, gagueja e esquece como se faz o seu trabalho. Quase diz “eu não tenho culpa de você ser quem você é”, querendo fugir e quase gritando “ema ema ema, cada um com seus problema”.
O xis da questão é que a inclusão é um problema de todos, não é só meu ou da Lelei. Inclusão é o direito a exercer seus direitos. Uma pessoa dentro dos padrões sociais não vai ter medo ou dificuldade de andar pela rua. Uma criança ou idosos podem ter. Para a pessoa cega, é necessário um piso tátil para guiar seus passos, uma pessoa com deficiência física precisa de um elevador para entrar em um ônibus. A luta pela inclusão é uma luta por direitos, para caminhar na rua, frequentar escola, ir ao cinema.
Se, algum dia, for você o responsável por uma agência de banco, um restaurante ou uma escola, não paralise, ouça quem está à sua frente. Esqueça os regulamentos e a burocracia, use sua empatia e sensibilidade. E lembre-se: a inclusão é um problema de todos nós. E todos fazemos parte da solução.