Começo a minha crônica semanal com total transparência para você – leitora ou leitor. Já nas primeiras palavras, preciso que você saiba que a minha coluna está uma porcaria.
Não pense que é exagero ou recurso de quem coloca tudo em tons fortes para ter mais visualizações e, talvez, receber mais likes. Sou um colunista, não um influencer. Ter seguidores e avaliações positivas é um prazer. Não uma obsessão.
Também quero contar que minha cunhada veio a Santos, onde vivemos, Maria e eu, há pouco menos de um mês, para nos visitar e passar uns dias com a gente.
Hoje cedo, pouco antes do café da manhã, ela contou que queria comprar um tênis para fazer cami\nhadas esportivas. Comprei um ótimo tênis há pouco e tenho caminhado com ele uma média de 10 km por dia. Quis mostrá-lo como um ótimo exemplo de custo-benefício.
Estava no chão da área de serviço, debaixo de um armarinho.
Fui pegá-lo. Inclinei-me, sem flexionar os joelhos.
A coluna travou na hora. Mesmo com Dipirona de seis em seis horas e uma tal de Canela de Velho, sigo encurvado, como se estivesse procurando algo no chão.
Escrevo a minha coluna desta semana na Sler, que você lê agora, de uma maneira diferente. Estou deitado de barriga para cima, na cama do meu quarto. Ao invés de digitar no notebook, dito cada palavra desta crônica para o celular.
A cena é um tanto ridícula. Ou ridícula por inteiro. Imagine você entrando no quarto: há um homem de 63 anos com um celular nas mãos e as pernas esticadas para cima, encostadas na parede. Nem sei se esse é de fato um tratamento eficaz, mas confiei na IS (Inteligência da Sobrinha, que também nos visita), sem conferir o que sugeria a IA.
O que descrevo talvez tenha alguma graça para alguns leitores. Não para mim. Você não encontrará nenhuma frase – uma palavra sequer – de bom humor nessa crônica. Claro que o humor liberta e que sempre é bom demais encarar as coisas com leveza e rir das nossas próprias desgraças. Mas qualquer risada – e costumo rir enquanto escrevo – faz doer o corpo inteiro.
Risadas e, mais ainda, espirros, fazem com que eu trema de pavor.
Minha coluna está uma porcaria!
E sem a menor graça…
—————————————————————–
Geralmente, é complicado dar o título para uma crônica. A gente busca associações, algumas poucas palavras que sintetizem o que está no texto.
Pensei há pouco em fazer algum jogo de palavras ou ideias com a citada Canela de Velho.
– Coluna de Velho!
Mas abortei a ideia. Não teria, provavelmente, sentido.
Não que não exista relação entre problema na coluna e idade.
Muitas vezes “caminham” juntas.
Alguns estudos indicam que mais de 70% das pessoas com mais de 60 anos têm algum tipo de dor ou alteração degenerativa na coluna.
Isso acontece por várias causas. Vamos a alguns exemplos: desgaste natural (como a degeneração dos discos). Com o tempo, os discos vertebrais perdem água e elasticidade, o que pode reduzir a capacidade de absorver impactos e, ainda, levar à hérnia de disco ou à espondilolistese (descolamento vertebral); artrose, que é o desgaste das articulações da coluna, o que afeta principalmente a cervical e a lombar; enfraquecimento muscular: no caso, dos músculos abdominais e das costas que sustentam a coluna; osteoporose. É mais comum em mulheres, mas pode afetar a todos, levando a dores fortes, agudas e muitas vezes crônicas. Tem também a postura. Quem nunca ouviu um “corrige a postura”! A somatória de posturas erradas ao longo da vida não passa incólume. Costuma se manifestar de maneira mais forte e visível na “velhice”.
Este cronista, que agora está aqui de barriga e pernas para cima, ditando para o smartphone, geralmente permanece encurvado por horas e horas ao dia diante do computador ou do celular, digitando. É essa postura encurvada que, por exemplo, realça a vértebra cervical mais saliente! Não há saúde que resista…
Mas não quis associar a dor à “Coluna de Velho”, já que não sei se há de fato alguma relação entre o que estou sofrendo e o passar dos anos.
Não tenho certeza sobre o que teria causado a atual crise.
Dias atrás, tive um acidente aqui em Santos. De certa forma, o município teve parcela de culpa. Maria e eu andávamos à noite na areia da praia, como fazemos quase todos os dias.
Na região da orla, entre cada um dos canais da cidade, há uma pequena ponte próxima à praia e outra próxima à calçada, para que ninguém precise molhar os pés na água. Tinha chovido muito nos dias anteriores. Quando eu estava quase ao final da passagem do canal 5, uma senhora gritou:
-Cuidado!
Pena que não foi um segundo antes. Na hora do alerta, eu já estava no ar, após ter escorregado no limo. Caí de costas, violentamente, no chão. Talvez por praticado judô, por ter jogado muito futebol (sim, a violência afasta os craques do gramado) ou se foi por pura sorte, o fato é que consegui atenuar parte do choque com os braços.
Elogio muito, demais, a organização de Santos, mas é difícil entender por que, se uma ponte está com limo e, como disse depois minha mulher, mineira, “um quiabo de tão escorregadia”, resolveram colocar uma placa de “perigo, não suba na ponte”, em apenas um dos lados. Será que ninguém imaginou que os pedestres sobem pelos dois lados? A pedestre que caminhava no sentido do canal 6 viu a placa. Eu, que ia no sentido do 4, não tinha nenhum alerta para me prevenir…
A dor foi grande, ralei os braços, mas segui caminhando.
Em três dias já estava bem. A queda ficou para trás e para a história.
Não dá para saber se a dor de agora – a coluna travada – tem relação com a questão, foi só devido à forma descuidada com que peguei o tênis no início da manhã ou se faz parte das questões da idade.
———————————————————————
Escrever essa crônica me fez lembrar de um dos primeiros “textos” de humor que escrevi. Uma vez, peguei uma chapa de raio-x da minha coluna e publiquei em um jornalzinho de clube.
Talvez tenha sido em O Macabeu. Não tenho certeza.
Ao lado da chapa, eu coloquei escrito:
– Meu sonho sempre foi ter minha própria coluna em um jornal ou revista.
Foi humor, mas também a mais pura realidade. É bom demais ter um espaço para dividir nossas experiências: o que vivemos, o que vimos, o que escutamos e também aquilo que gostaríamos de ter vivido.
Mesmo com dor, sinto uma alegria enorme em estar agora “conversando” com você.
Mesmo sem ser obcecado por likes, é bom demais saber que você acompanha semanalmente (talvez eventualmente) as minhas crônicas.
Preciso sim da tua companhia. É importante, sim, ter seguidores.
No passado, os paranoicos diziam:
– Tem alguém me seguindo. Tem alguém me seguindo.
Já os paranoicos e criadores de hoje dizem:
– Não tem ninguém me seguindo. Não tem ninguém me seguindo…
Obrigado, leitor, leitora, por me fazer feliz. Mesmo nesse dia de dor…
Nem tudo está de pernas para o ar!