A emoção de participar do evento que marcou os 50 anos da TVE do Rio Grande do Sul, no dia 26 de março, lá no Morro Santa Teresa, em Porto Alegre, me fez voltar a um texto que escrevi faz tempo e traduz um tanto da minha alegria e orgulho de ter trabalhado lá. Foi uma experiência fundamental na minha vida profissional e pessoal. E encontrar ex-colegas e amigos festejando, se abraçando, revivendo histórias e atualizando trajetórias de vida, confirmou o meu sentimento.
Vamos ao texto.
1987. Pedro Simon é eleito governador do Rio Grande do Sul. O jornalista e publicitário Alfredo Fedrizzi assume a presidência da TVE. Eu o conhecia pouco. Sabia que era um dos diretores da agência Escala e que tinha trabalhado na RBS TV. Vez que outra a gente se encontrava em eventos culturais, seminários, lançamentos de livros, filmes, palestras.
Minha vontade de trabalhar na TVE era grande, inspirada por Jorge Furtado, pela ousadia do programa “Quizumba”, Eduardo Peninha Bueno, Zé Pedro Goulart, o programa “Pra começo de conversa”, Ana Luiza Azevedo e tantos outros. Fui falar com o Fedrizzi. Alguns anos antes, quando o jornalista Luiz Figueredo era diretor de programação, eu já havia tentado. Ele foi gentil, mas não tinha vaga. Recolhi o desejo e segui trabalhando onde estava.
Quando Fedrizzi assumiu, desengavetei o desejo. Ele também foi gentil, me ouviu e quis saber da minha experiência em TV. Estava iniciando a gestão e não sabia se teria como me contratar. Na saída encontrei Tânia Carvalho, com quem já havia trabalhado e virou uma grande amiga. Expliquei a ela porque estava ali. Por coincidência, o novo diretor de programação, Luiz Eduardo Crescente, passava pelo corredor e Tânia me apresentou a ele. Conversamos um pouco e me fui para o Correio do Povo, onde trabalhava na época.
E eu que não queria ser chefe de nada, virei chefe.
No final de julho de 1987, Fedrizzi me convidou para chefiar os setores de Divulgação, Chamadas, Arte e Cenografia. Eu, que nunca quis ser chefe de nada, seria responsável pelas equipes de divulgação da programação interna e externamente, de criação de vinhetas e gravação e edição de chamadas e pelos cenários. Argumentei, disse que só queria ser produtora, que não tinha vocação para chefia. Em vão. Assumi. Enfrentei algumas dificuldades no início, tive muita ansiedade, quis desistir, mas, com o apoio dos amigos e de gente boa que trabalhava muito bem, fui aprendendo, ganhando experiência e segurança.
Formamos uma equipe cheia de garra, que se somava às equipes da produção e do jornalismo. Foram 4 anos de ações e invenções incríveis, realizadas com profissionalismo e entusiasmo. Conteúdo, qualidade técnica e intercâmbios faziam parte dos projetos. Tínhamos total apoio da presidência e da direção, sempre presentes, tanto para criticar, como para conversar, trocar ideias e aplaudir. Muitos programas locais foram criados – Palcos da Vida, Menor questão Maior, Radar, Pandorga, para citar alguns.
A TVE fez parcerias com a TV Cultura de São Paulo e passou a exibir programas como Roda Viva, Metrópolis e Jornal da Cultura. Da TVE Rio, exibia o Sem Censura. As discussões que envolviam o trabalho eram acaloradas. E quase ninguém se omitia.
Nesse período, 1989, foi fundada a FM Cultura, muito festejada por todo mundo. Sob a direção da jornalista Liana Milanez, a rádio virou referência para as artes no Rio Grande do Sul, especialmente a música.
Essa movimentação fez parte do sonho de profissionais que queriam abrir cada vez mais espaços para a informação, a arte e a cultura do meio em que viviam, transformando a TVE e a FM Cultura em emissoras que refletissem, com talento, ousadia, liberdade e crítica, a produção local e nacional. E assim foi.
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