Provavelmente você, leitor ou leitora da minha coluna na Sler, sabe sobre o importante encontro programado para o final do ano, de 10 a 21 de novembro, em Belém do Pará: a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30.
O evento reunirá líderes mundiais, organizações não governamentais, cientistas, ambientalistas e representantes da sociedade civil para discutir e negociar ações destinadas a combater as mudanças climáticas.
A Conferência é ainda mais fundamental e emergencial nessa época em que vemos algumas lideranças mundiais trabalhando contra a defesa do meio ambiente, mesmo com tantas tragédias ambientais, como enchentes, desabamentos e incêndios, castigando o planeta.
Ler sobre a COP30 remeteu-me a fantásticas lembranças das viagens que fiz à capital paraense. Por isso, esta coluna não é sobre o evento que, já disse, é importante. Há colegas, aqui mesmo na Sler, bem mais gabaritados para escrever sobre o tema. Quero contar aqui sobre a visita que fiz há alguns anos ao mercado Ver-o-Peso.
Antes de mais nada, quero dizer para você que o famoso mercado não é o que dizem. É muito mais! Cheguei, como recomendam, às 4 horas da manhã. Ali, o sono é logo vencido pelo burburinho. É fascinante ver os barcos atracando com seus produtos. É estupendo observar o mercado com frutas, verduras, peixes (mais de 30 espécies), artesanatos, ervas medicinais, essências, perfumes e temperos da região.
Tudo isso em meio ao ruidoso e animado som dos trabalhadores. Inesquecível acompanhar os raios de sol surgindo e tornando tudo ainda mais alegre e colorido.
Há muito para ver e provar. Existem, por exemplo, três tipos de açaí. Tem aquele que todos nós conhecemos, com cor entre o vinho e o roxo; o açaí branco e até um tal de bacaba, que só é encontrado em algumas épocas do ano. Os paraenses costumam consumi-lo (a polpa do açaí) com farinha de mandioca e peixe frito. De café da manhã! Como a gente sempre tem a ilusão de conseguir ser por alguns momentos menos turista e mais um habitante da própria terra, faço o estranho desjejum e até que gosto. Decido provar de tudo, das variadas frutas e sucos aos quitutes que enfeitiçam os olhos e aguçam o paladar da barriga! Esqueço a dieta. Ver o peso na balança só na volta das férias.
Ando mais um pouco e chego à parte em que predominam as bancas com ervas e essências ditas medicinais. A “feirante” olha para mim e diz: “Venha comprar esse creme para passar na piroquinha”. Respondo: “Você está querendo vender para mim ou quer me humilhar?” Ela não entende: “Humilhar por quê?”. Eu digo: “Estou aqui com quatro jornalistas. Você olha para mim, só para mim, e diz ‘piroquinha’!”
A simpática mulher indaga em voz alta: “Por que o seu é grandão?”
Ela deve ser famosa no local, já que vários funcionários e donos de outras bancas se aproximam rindo para ouvir o diálogo.
Como se fosse um ator, assumo um personagem.
– Minha amiga, vou contar uma coisa pra você: quando pedi a mão da minha esposa em casamento, meu sogro, paraense de muitas gerações, respondeu: “para casar com a minha filha, precisa ter um de 25 cm”. Ao que respondi: “Não tem problema. Por amor, eu corto um pedacinho”.
Ela ri (todo mundo riu) e oferece uma gama de produtos. “Com este Viagra natural, tu vais fazer três vezes seguidas.” Olho para a barraca e o nome da proprietária está estampado: Socorro. Dou um slogan de presente para ela: “Os homens pedem por Socorro no Ver-o-Peso”.
Sigo caminhando, mas paro muito para conversar com o máximo possível de pessoas. Dona Coló, por exemplo, exibe em sua banca jornais com entrevistas e fotos em companhia de famosos, como o apresentador Ratinho. Nas orelhas, folhas de arruda. Ela entende da manipulação de produtos, arte aperfeiçoada nos cursos organizados por uma associação de donos de bancas do mercado. Desta vez, o alvo é outro jornalista do grupo, que está ao meu lado: “Compre essa pomada para passar lá no seu. Garanto que sua mulher vai gostar…”
Amo viajar e curtir praias incríveis, visitar cidades grandes, médias e pequenas, ir a museus e, ainda, me deliciar com a gastronomia de cada região. Mas nada é tão bom quanto conhecer pessoas. Lembro com carinho desta história e daquele período em que eu não me preocupava tanto com o efeito estufa. Nem mesmo o da barriga.
Que a COP30 seja um sucesso! Cada vez mais, o planeta e a humanidade precisam de Socorro!
Todos os textos de Airton Gontow estão AQUI.
Foto da Capa: Agência Belém