Semana passada realizei uma breve análise sobre alguns aspectos de uma potencial moeda comum para a América Latina, proposta ventilada pelos países latino-americanos (leia aqui). Ao longo da semana recebi alguns questionamentos sobre outros tipos de ordenamento social por meio de moedas alternativas.
Além da moeda comum, duas formas podem ser relevantes no contexto brasileiro: moedas sociais (social currency) e moedas digitais (cripto money).
As moedas social e digital são formas de movimentar a economia local. Na essência, trata-se de interagir com as necessidades diárias sem intermediários. Entende-se como intermediários os grupos do sistema rentista (banqueiros e corporações que tem o lucro como único objetivo). Veja caso do conglomerado Black Rock (aqui).
No Brasil existe uma série de iniciativas de moedas sociais. Em Porto Alegre (RS), uma moeda social foi criada pela Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários no Rio Grande do Sul (UNISOL): o Justo. Uma moeda que circula nas comunidades da Zona Norte da capital rio-grandense do sul. O ponto a ser ressaltado é o efeito social na vida econômica das pessoas. Mais do que escapar do sistema bancário dominante (e dos juros exorbitantes), a moeda social gera controle e autonomia para a própria comunidade.
Já as moedas digitais (também conhecidas como criptomoedas), ao menos no Brasil, continuam associadas ao sistema rentista. A questão é: qual o propósito de usar uma criptomoeda? Se a resposta for: “Apenas ganhar dinheiro”, então o objetivo social já se perdeu. Por outro lado, se a moeda digital está vinculada ao modo de viver o cotidiano, nesse caso, o propósito de escapar do sistema bancário dominante é alcançado. Na Alemanha, por exemplo, moedas digitais como o bitcoin são utilizadas no cotidiano para pagar mercadorias na frutaria, os pães na mercearia ou cerveja no pub local. Atualmente existe uma infinidade de criptomoeda nos espaços digitais (na internet): bitcoin, ethereum, theter, casper, sui e tantas outras. As criptomoedas nasceram de uma ideia anarquista, no sentido de produzir autonomia em relação aos grupos dominantes do poder econômico. Quando o sujeito entra na arena das moedas digitais com o horizonte capitalista, esse já faz parte do sistema rentista.
Não é à toa que alguns Bancos Centrais de países ao redor do mundo estão a planejar lançar suas próprias versões de criptomoedas. No Brasil, há um projeto desse tipo. Objetivo: manter o controle sobre as formas de vida dos sujeitos impondo taxas de juros estratosféricas e indecentes.
Enfim, longe de ser uma ilusão, moedas sociais e digitais são utopias realistas que melhoram a dignidade das pessoas. Criptomoedas e moedas sociais, como o Justo, transformam de fato, ao menos em partes, a vida dessas comunidades mais vulneráveis.