O texto anterior deu início a uma série de artigos que tratarão da arquitetura e urbanismo em Montevidéu. No primeiro viu-se como surgiu a capital uruguaia, como se constituiu o seu primeiro tecido urbano e como se deu a sua primeira expansão. Agora o leitor verá como ela cresceu no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, período no qual os montevideanos a chamam de “Cidade Liberal”, marcado pelo surgimento de seus núcleos urbanos mais tradicionais, pela abertura das grandes avenidas, pela implantação de seus mais importantes parques e pela difusão das arquiteturas Art Nouveau e Eclética Historicista.
No primeiro texto mostrou-se que da cidade colonial espanhola (“Cidade Velha”), ficou o traçado ortogonal colonial e alguns exemplares arquitetônicos. Após a independência, entre 1829 e 1830, decidiu-se pela derrubada das cortinas das muralhas que protegiam o casco antigo para expandi-la. Permaneceram a “Cidadela”, que virou mercado (até 1869), e dois módulos do paiol conhecido como “Las Bóvedas”. Surgiu então a “Cidade Nova”, no antigo “ejido” colonial, concebida pelo Sargento-Mor de Artilharia José María Reyes (1803-1864), num traçado igualmente ortogonal com um eixo central no sentido do Caminho de Maldonado (oeste-leste). Esta primeira expansão também ficou conhecida como “cidade republicana”, cuja ocupação primitiva ocorreu no divisor de águas entre a “Aguada” e o Rio da Prata, que receberia o nome de avenida 18 de Julio, num crescimento preliminarmente linear. A “Aguada” era a denominação da área mais baixa, situada próxima da cidade velha e do porto, na borda da baía de Montevidéu. Posteriormente é que se efetivou a ocupação de toda a área destinada à Cidade Nova, aí sim configurando um aparente crescimento do tipo contínuo como se percebe nos mapas de Montevidéu a partir da segunda metade do século XIX.
Urbanismo e paisagismo
Por outro lado, depois da independência (1829) surgiram uma série de núcleos urbanos próximos, com “crescimento polar”, dando origem a assentamentos periféricos como Villa Cosmópolis (criada pelo decreto de 9 de setembro de 1834, para assentar imigrantes que chegavam e serviam de mão-de-obra para a indústria charqueadora que se estabelecia na zona), Bella Vista (iniciada em 1842, nas proximidades do Arroio Seco, no Caminho para o Paso del Molino, contíguo ao matadouro de reses, loteada por Francisco Farías, proprietário das terras na zona), Pueblo Victória (loteamento de 1842, nas bordas da baía entre os arroios Miguelete e Pantanoso, promovidos por Samuel Lafone, dono de uma charqueada na região), etc. Estes núcleos se comunicavam entre si e com a cidade através dos caminhos coloniais (GAETA, 1992, p. 15).
A Guerra Grande (1843-1851) exigiu a execução de uma linha de trincheiras para defesa da cidade sitiada. As autoridades que defendiam Montevidéu ocuparam a área prevista para a Cidade Nova, recebendo o grande fluxo de imigrantes que começou a chegar, superando 30 mil habitantes, dos quais segundo o mesmo autor, só 37% eram nativos (Idem).
Ao mesmo tempo que se desenvolviam estas operações planejadas, surgiram de forma espontânea, assentamentos urbanos nos subúrbios de “Cordón” e “Aguada”. O primeiro no Caminho de Maldonado (ao leste da área central, na continuação daquela que viria a ser a avenida 18 de Julio) e o segundo, sobre o Paso del Molino (que depois se tornaria a avenida da Agraciada). Na década de 1860, foram delineados e loteados oficialmente, constituindo-se na segunda expansão da cidade (LENZI, ARANA & BOCCHIARDO, 1986, p. 14).
A partir de fevereiro de 1843, durante a Guerra Grande, quando se instalaram as forças comandadas pelo General Manuel Oribe (1792-1857), no campo sitiador, no entorno de Montevidéu, atividades próprias de uma cidade também ocorreram, inclusive se incentivando a urbanização: se estabeleceu um porto em “Buceo”, conectado pelo caminho do Cardal (depois “do Comércio”), com a “Villa Restauración” (sede do poder executivo e centro residencial, depois rebatizada, em 1851, como “La Unión”); surgiu o “Cerrito de la Victória” (como acampamento militar e sede do governo sediador) e no Miguelete, no Paso del Molino, zona das chácaras, que foram se subdividindo em parcelas menores, surgiram as quintas, nas quais se radicaram famílias patrícias simpatizantes dos sitiadores, formando um núcleo semirrural (Idem). Declarada a paz, em outubro de 1851, estes assentamentos foram incorporados à estrutura urbana da cidade, situação atípica que incidiu no seu desenvolvimento, modificando tanto o caráter como a imagem da mesma, já que se tornou uma cidade aberta com vários pontos de referência (Idem, p. 14 e 15). No final do conflito Montevidéu passou a ter o núcleo central (Cidades Velha e Nova) e uma série de urbanizações periféricas conectadas com o centro e entre si. A malha urbana que se constituiu acabou composta de radiais (Camino de Maldonado, agora 18 de Julio e 8 de Octubre; Camino del Paso del Molino, hoje Agraciada; Camino de la Estanzuela, atuais Constituyente e 21 de Septiembre), saindo da área central nas diversas direções, como um leque, e transversais de conexão entre estes bairros periféricos (Camino de Sierra, hoje Daniel Fernández Crespo; Camino de la Figurita, atual Garibaldi; Camino de Larrañaga, agora Luis Alberto de Herrera, quase uma perimetral; e o Camino de Propios, na atualidade, Bulevar José Batlle y Ordóñez) (Ibidem, p. 15).
Superado o traumático conflito, Montevidéu cresceu aceleradamente, especialmente a partir da década de 1870, devido a explosão demográfica que se deu com o grande fluxo imigrantista ocorrido nas duas décadas anteriores. Logo depois da Grande Guerra, contabilizaram cerca de 40 mil habitantes. No final da primeira década do século XX, chegava a quase 310 mil habitantes. A população tinha aumentado quase oito vezes. Saturada a capacidade da malha central, a mancha urbana se estendeu, seguindo as antigas vias que conectavam o centro com os povoados periféricos, ocupando os vazios intersticiais, determinando a estrutura básica da futura cidade (GAETA, op. cit. P. 15). Uma conurbação. Para se ter uma ideia, em 1852, Montevidéu tinha 6.219 edificações. Em 1911, quase sessenta anos depois, chegava a 42.800. Sete vezes mais. A cidade, que ocupava em seu centro (cidade velha e nova, 330 hectares, passou a ocupar uma superfície inscrita em um setor de círculo de raio superior aos 10 quilômetros (Idem).
Além das localidades que surgiram mais afastadas do centro, foram criados vários novos loteamentos praticados pela iniciativa privada, campo no qual se destacaram Alfredo Echevarria, Emilio Reus (1858-1891) e Francisco Piria (1847-1933), especialmente a partir da década de 1870. Piria realizou mais de 70 loteamentos em Montevidéu (SCHLOSSER, 2023, p. 8). Para atender estes novos bairros, foram instalados serviços de transporte coletivo. Para conectar as diversas áreas da cidade surgiram primeiramente os bondes de tração animal, em 1868, e em doze anos o fundamental da rede estava consolidada (LENZI, ARANA & BOCCHIARDO, op. cit., p. 26). Em 1906 e 1907, substituiu-se a tração animal pela eletrificação. O automóvel chegou na capital uruguaia em meados desta primeira década do século XX.
O governo assumiu o controle de algumas situações. Foi o caso do delineamento do traçado da circunvalação Bulevar General Artigas (1878) e a retícula contida nele que deu lugar à chamada “Ciudad Novísima” (GAETA, op. cit., p. 16); na segunda metade do século XIX surgiram os primeiros projetos para criar uma circunvalação costeira em Montevidéu, algo que só se efetivaria no segundo quartel do século XX. Também foram tomadas uma série de medidas, desde os governos de José Fructuoso Rivera (1784-1854), entre 1830 e 1834, e de Manuel Uribe, de 1835 a 1838, para definir a localização industrial na periferia (aquelas nocivas à higiene e à saúde pública, como as charqueadas, curtumes, de velas, olarias e indústrias químicas, ficaram mais afastadas: em bairros como o Cerro, Maroñas, Unión, Nuevo Paris e Pantanoso). As inócuas, procuravam a proximidade do porto, estação ferroviária e do mercado consumidor (Arroyo Seco, Bella Vista, Paso del Molino, Pueblo Victoria, Aguada, Reducto e Capurro). Francisco Piria se referia a Maroñas como “nossa Manchester”, e um historiador contemporâneo chama o Arroyo Seco e a Aguada como “uma pequena Birmingham” (LENZI, ARANA & BOCCHIARDO, op. cit., p. 30). Também coube ao Estado a fixação de alturas às edificações da área central (GAETA, op. cit., p. 16).
Nesta época, a referência de cidade para a América Latina era a Paris de Georges-Eugène Haussmann (1809-1891). Isto explica a adoção de planos viários, de embelezamento e saneamento. O primeiro passo dado foi o “Plano de transformação e embelezamento da cidade de Montevidéu” (1891), de Édouard-François André (1840-1911), cujas ideias foram retomadas mais adiante no “Plano Regulador” (1912), nascido do Concurso público Internacional de projetos para o traçado de avenidas e localização de edifícios públicos em Montevidéu (1911), vencido pelo italiano Augusto Guidini (1853-1928). Neste plano regulador se definiria a localização dos futuros prédios dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), e como seriam conectados entre eles; a nova Plaza de Armas e o Teatro Municipal (onde hoje é a intendência, e de onde partiriam três avenidas, a Constituyente, a General Rivera – que seria prolongada e retificada -, e a 18 de Julio); e a concepção de uma Rambla Sul, margeando o rio da Prata. O plano não se concretizou.
Com a criação da Direção de Passeios Públicos da Municipalidade, para promover a política de embelezamento dos seus espaços verdes, o poder público contratou o francês Louis-Ernest Racine (1861-1903), formado pela École Nationale de Horticulture de Versalhes, para dirigi-la. Naquela época, a cultura francesa era predominante, o que se manifestou na obra de jardineiros, horticultores e paisagistas de tal nacionalidade (ANDREATTA; CARBIA & MAZZINI, 2010). Também atuaram neste período Pedro Antonio Margat (1806-1890), Jules Charles Thays (1849-1934), Charles Racine (1859-1935), irmão de Louis Ernest, e Édouard Gauthier (1855-1929). Estes dois últimos também formados na École Nationale de Horticulture, de Versalhes, onde foram alunos de Édouard André (DOURADO, 2011, p. 85).
Do modelo francês veio a ordenação e tratamento geométrico, a racionalidade. Do inglês, a recriação “natural” da paisagem, e a utilização da sinuosidade no traçado. Do sistema misto criado por Jean-Charles-Adolphe Alphand (1817-1891), deu-se a síntese das duas correntes predominantes. Não obstante primou pelo modelo pitoresco inglês no traçado e composição destas estruturas verdes.
No processo de modernização da cidade, na região central, além do espaço público gerado para a implantação da Praça Independência, na articulação entre a Cidade Velha e a Cidade Nova, ocorrida na década anterior (tratada no artigo anterior), também se arborizou a Praça Maior e surgiu a Praça Zabala.
A primeira intervenção realizada pelos franceses foi o ajardinamento da Plaza Mayor, que passou a ser chamada oficialmente de “Plaza de la Constitución” e popularmente de Plaza Matriz. Seu traçado foi concebido em 1851. A estruturação é centralizada, de inspiração clássica, criando caminhos perimetrais e diagonais, pavimentados e arborizados, enfatizando o centro da composição onde foi colocada uma fonte (1871) (GAETA, 1994, p. 48). Sabe-se que o ajardinamento foi atribuído a Pedro Antonio Margat (SIERRA, 2003, p. 48 & DOURADO, op. cit., p. 83).
Na Cidade Velha, em 1878, foi demolida a Casa de Governo, conhecida como “El Fuerte”, para a criação de uma praça. Somente no final do ano de 1890, foi inaugurada a Plaza Zabala, disposta de forma oblíqua em relação a malha ortogonal da Cidade Velha. A denominação homenageia o fundador da cidade, Bruno Mauricio de Zabala (1682-1736). Foi concebida pelo paisagista francês Édouard-François André. Hoje, se destaca no seu interior a estátua equestre do fundador, inaugurada no final de 1931, obra do escultor andaluz Lorenzo Coullaut Valera (1876-1932), com a colaboração do basco Pedro Muguruza Otaño (1893-1952).
Desde o final da primeira metade do século XIX, na região em que hoje situa-se o Bairro do Prado, afastado da área central, fixaram residência, famílias da classe alta local. Neste local surge, em 1889, o Paseo del Prado, criado a partir de um jardim privado (1873), da Quinta del Buen Retiro (1862-1867), pertencente ao banqueiro alsaciano de origem judaica, José Buschental (1802-1870), concebido pelo paisagista francês M. Lasseaux, localizado no vale do arroio Miguelete. Após a sua morte a viúva decidiu vender a propriedade. Foi orientada pelo assessor dela, o argentino Adolfo Del Campo, a oferecer ao Estado para a criação de um jardim zoológico ou um passeio público. Adolfo acabou adquirindo uma parte dos terrenos e deu o nome de “Prado Oriental”. O Parque do Prado, o primeiro de Montevidéu, se forma pela incorporação sucessiva ao patrimônio municipal de diversas quintas e jardins particulares. Para formar o parque de maneira global, procurou-se harmonizar o conjunto, mantendo o aspecto original de cada setor (GAETA, op. cit. p. 114). O projeto de transformação e ampliação do Parque Municipal do Miguelete, em 1891, coube ao paisagista Édouard-François André, encarregado, como foi dito, do projeto de transformação e embelezamento da cidade. De 1893 a 1904, José María Montero y Paullier (c.1855-1907) cria o lago artificial, pontes, estufa para plantas, canalização do arroio e ampliação do parque. Em 1907, foi criado o Jardim Botânico (único do país) realizado pelo paisagista Charles Racine, que, em 1912, idealizou também o Roseiral que homenageia a poetisa uruguaia Juana D’Ibarbourou (1892-1979). Devida a sua distância do centro da cidade, foi utilizado pela classe alta que podia chegar com seus veículos particulares (www.nómada.uy, 4614).
O projeto político batllista – referência a José Pablo Torcuato Batlle y Ordoñez (1856-1929), presidente do país, de 1903-1907 e de 1911-1915 – de construção do Estado moderno que buscava embelezar a cidade, propiciar o turismo e a gerar o acesso a espaços abertos públicos onde a população, especialmente os trabalhadores pudessem disfrutar de seu tempo livre. Nesse contexto, os espaços abertos públicos começaram a ser valorizados como centros de participação democrática e nivelamento social, convertendo-se em âmbitos coletivos formadores de cidadania (TORRES, citada por NÓVOA & SPÓSITO, 2016, p. 4).
Nesta orientação surgiria um segundo parque urbano. Em agosto de 1871, foi inaugurado o Balneário de Praia Ramirez, com a implementação da linha de bondes “Tranvía del Este”, da companhia homônima. Tratava-se de uma construção de madeira que avançava para dentro do rio, elevando-se sobre pilares e a cujo terraço ascendia o bonde puxado por tração animal através de uma ponte. O balneário foi dotado também de casinhas de banhos para homens e para mulheres utilizarem, com restaurante próximo das casinhas masculinas e uma galeria para banhos à sombra junto das femininas (SCHLOSSER, 2013, p. 6). No ano de 1880 foi inaugurado o balneário de Pocitos, como resultado de investimentos da companhia ferroviária “Pocitos, Buceo y Unión” (VARESE, 2011, p. 38). também contava com uma estrutura que oferecia banhos flutuantes separados por sexo, cordas para delimitar o espaço de banhos e carrinhos privados na orla do rio. Aos poucos estes locais se tornariam bairros de Montevidéu.
Dado o sucesso do empreendimento da Praia Ramírez, chamada por Francisco Piria de a “Biarritz do Uruguai” (Idem, p. 10), e aproveitando-se da aplicação da lei de liquidação do falido Banco Nacional, que cedeu os terrenos para a Junta Econômico Administrativa, decretou-se, em 1896, a criação do Parque Urbano. A iniciativa partiu de Carlos M. de Pena que desejava criar um parque na costa sul. Entre 1900 e 1902, procedeu-se o plantio das primeiras árvores através do paisagista Charles Racine. O projeto coube ao engenheiro José María Montero y Paullier, da Direção de Parques e Jardins, que adotou o traçado pitoresco do paisagismo inglês. A partir de um lago artificial – aproveitando as águas do Arroio Estanzuela, que atravessava anteriormente o terreno e desembocava na Praia Ramírez -, criado como elemento central da composição, concebeu diversos ambientes – pequenos bosques, ambientes com rochas, labirintos vegetais, aleias de palmeiras, etc. – vinculados com variados recursos e usando o efeito surpresa (www.nomada.uy, 4558). Entre os vegetais, selecionados pelo porte e cor de folhagem, foram incluídas numerosas espécies nativas. Com o transcurso do tempo foram feitos e substituídos vários equipamentos, contando atualmente com um grande número de monumentos, pequenos templos, ponte rústica, gruta artificial, pavilhões, pequenas pracinhas, paradores e o cenográfico castelo “medieval” do lago. Este parque foi favorecido pela paisagem costeira e pela proximidade do centro, atraindo um público formado por imigrantes e trabalhadores.
Em 1905 foi anexado o setor ao leste da avenida Julio Herrera y Reissig, o que mantém certo caráter autônomo dando lugar a atividades culturais recreativas e desportivas. No ano seguinte, chegou o bonde elétrico, na recém-inaugurada Rambla de Ramírez. Logo em seguida surgiu o Parque Hotel, com seu cassino, que passou atrair a burguesia. Em 1911, o governo decidiu ampliar o parque, incorporando a península de Punta Carretas. Foi encomendado a Charles Thays um projeto para a ampliação do parque até Punta Brava, incluindo a parte já existente. Tal projeto não se concretizou. Na realidade essa ampliação se limitou a ocupação da orla até as pedreiras. Na década de 1920, o parque mudaria de denominação para Parque Rodó, homenagem ao ensaísta uruguaio José Enrique Camilo Rodó Piñeyro (1872-1917). No período entre 1930 e 1945, viriam a ser incorporadas as pedreiras e no ano de 1945, edificado o Teatro de Verão. Na parte não ocupada pela última ampliação, surgiria em 1922, o Golf Club. Atualmente, a feira dominical, os jogos mecânicos, a proximidade da praia e o Teatro de Verão, fazem dele o parque montevideano mais concorrido.
No final da principal avenida de Montevidéu tinha no início do século passado um sítio conhecido como “Campo Pereira”, doado por Antonio Gabriel Pablo Pereira y Vidal (1838-1906) para a construção de um parque. Inicialmente eram 11 hectares. No testamento, deixou recursos para o município adquirir uma parcela ainda maior visando formar um grande parque. Coube ao paisagista Charles Thays, com a colaboração de Charles Racine, projetar o então chamado “Parque Central”, criado em março de 1907, e ampliado em 1911, através de desapropriações. Na época foram ainda projetados amplos bulevares e avenidas, se destacando a circunvalação que leva o nome do médico e escritor Américo Ricaldoni (1867-1928). No final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o parque passou a ser denominado de Parque de los Aliados, em homenagem às nações vencedoras do conflito bélico. As desapropriações avançaram ainda mais, fazendo com que a área do espaço público chegasse aos seus atuais 60 hectares. Com a norte de José Batlle y Ordoñez, em 5 de maio de 1930, o parque recebeu definitivamente o nome do político, que dentre as suas realizações, foi um incentivador do esporte no país. Nele se destacam o Estádio Centenário (1930), o principal estádio de futebol do país, a pista de atletismo e o velódromo, construídos entre 1935 e 1938.
Para concluir, pode-se afirmar que, num período de pouco mais de cinquenta anos, a capital uruguaia se transformou, especialmente pela colaboração de profissionais imigrantes, de origem francesa, italiana e espanhola, que lhe deram os ares parisienses, sonhado pela sua elite política e cultural. Ao mesmo tempo, a cidade se preparou para explorar a vocação turística enfatizada pelo batllismo. No próximo artigo o leitor verá a arquitetura gerada nesta mesma época.
BIBLIOGRAFIA:
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GAETA, JULIO c. Guías Elarqa de Arquitectura. Montevidéu: Editorial Dos Puntos, Tomo I (Montevideo-Ciudad Vieja), 1994.
LENZI, Ricardo Alvarez, ARANA, Mariano & BOCCHIARDO, Livia. El Montevideo de la expansión (1868-1915). Montevidéu: Ediciones de la Banda Oriental, 1986.
NÓVOA, Alexandra & SPÓSITO, Ernesto. La construcción de la Rambla Sur (1923-1935). Montevidéu: Centro de Fotografia de Montevideo, Colección Gelatina y Plata, 2016.
SCHLOSSER, Joana Carolina. A cidade na praia: utopias marítimas no Rio da Prata. Natal: XXVII Simpósio Nacional de História – ANPUH, 2013.
SIERRA, Fernando (coord.). Montevideo a cielo abierto: el espacio público. Sevilha: Consejería de Obras Públicas y Transportes, 2003.
TORRES, Alicia. La mirada horizontal. El paisaje costero de Montevideo. Montevidéu: Banda Oriental / FARQ, 2007, p. 100.
VARESE, Juan Antonio. Pocitos: fotografias e Historias. Montevidéu: Banda Oriental, 2011.
Nómada – Parque El Prado. FADU-Nómada (nómada.uy). https://www.nomada.uy/guide/view/attractions/4614 Acesso em 9 de fevereiro de 2023, 08:50h.
Nómada – Parque Enrique Rodó – ex-Parque Urbano. FADU-Nómada (nómada.uy). https://www.nomada.uy/guide/view/attractions/4558 Acesso em 9 de fevereiro de 2023, 10:30h.