Estamos quase em fim de janeiro de 2024, e neste último dia 20 eu completei 30 anos do dia que recebi o meu diploma de graduação no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do RS. Não consigo ter a nostalgia que vejo em muitos, dos tempos da minha juventude. Acho que por desejar intensamente acelerar minha vida, vivi com uma energia focada em rejeitar a realidade presente, em busca de um futuro, em que uma vida boa fosse factível.
Quando olho para trás vejo borrões de cenas, momentos, mas sempre uma insatisfação enorme me guiando para ir além. Nunca me preocupei com carro, casa, casamento, viagem de férias. Eu mirava em mais educação, em reconhecimento por um bom trabalho, em algo que agora começo a entender melhor: deixar uma marca profunda no mundo, o tal legado.
Estes dias recebi uma mensagem de uma amiga da época da faculdade: “Tua chegada na minha vida foi algo importante. Uma amiga inteligente, corajosa, divertida e maluquinha. Amava estar contigo. Amava pensar coisas contigo.” Quando recebi esta mensagem enchi meus olhos de emoção, pois me revi naquele tempo e qual o impacto da energia que eu ressoava ao meu redor. A criatividade sempre orientou minha vida. Em um mundo cheio de regras, eu via através de frestas outras possibilidades.
Me perguntava por que as coisas precisavam ser como eram. Porque eu deveria seguir um script e não desenhar meu próprio caminho. Existia lá atrás algo em mim que não me deixava esquecer que eu não precisava me apagar no caminho da vida. E assim foi e tem sido. Mas das palavras mais legais que ela me trouxe e me bateu com força foi “coragem”.
Se eu fizer um balanço rápido a “Coragem” foi o motor norteador da minha vida até agora. Eu sempre tive coragem em todos os momentos: coragem para bater pé, coragem para falar o que ninguém verbalizava, coragem para procurar saber, desvendar, ir atrás de novas versões ou possibilidades. A coragem me norteia sempre. Ouvi de outra amiga mais nova também nesta semana: “Paty, eu fico abismada com a tua capacidade de realização.” E quando ela falou, eu pensei: novamente a coragem de pensar e ir atrás para tirar do nível dos sonhos para a concretização. A coragem de colocar o coração em ação, e buscar realizar.
E aí, no sábado, no grupo Minas da Menô, compartilhei que acreditava que poderíamos montar um grupo de mulheres para viver uma viagem diferente para Portugal. E provoquei: tenho certeza de que isto não precisa ser um sonho grande, e sim um projeto viável que se colocarmos energia ele pode acontecer. Pois o que aprendi até agora é que pessoas ditas “sonhadoras” conseguem idealizar, mas a realização vem da força – que é um pouco (muito) desconfortável – de colocar a ideia em ação. Transformar sonhos em realidade demanda uma energia enorme porque requer disciplina, foco, uma dose de obsessão e muita coragem para lidar com a imprevisibilidade da vida, dos momentos e do contexto externo.
Porém, quando se tem coragem, a sensação é a de dar passos sem ver o chão. E, mesmo com medo e frio no estômago, apostar em buscar o que você está sonhando. Não existe conforto na coragem. E talvez esta seja a maior adrenalina. E aí você percebe outra questão: quando você tem coragem passa a acreditar no invisível, na força que não se vê. Eu tenho para mim que é aí que começa a noção de “Deus” e nossa humanidade inquieta e curiosa em viver.
Que você que está lendo esta coluna tenha coragem para viver. E, quando morrer, possa ter grandes memórias e não sonhos. O ano está só começando e o que te desejo é uma dose extra de inquietação e rejeição ao conforto para ter energia em transformar seus sonhos em realidade.
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