Mudar é preciso, permanecer não é preciso. Você deve estar se perguntando: já ouvi esta expressão antes, mas ela não é bem assim, é? Não, não é mesmo. A frase original “Navegar é preciso, viver não é preciso” surgiu lá atrás com um general romano, foi incorporada por um poeta italiano no século XIV e ganhou popularidade com Fernando Pessoa, que abertamente declarou: “quero o espírito dessa frase” e lhe atribuiu o “propósito de vida”: Navegar é uma viagem exata e viver é uma viagem feita de opções.
Hoje, eu tomo a liberdade de mudar um pouquinho a frase para falar justamente sobre mudanças. Já faz algum tempo que entendi que mudar é uma parte natural e necessária da vida. Sempre e quando nos desafiamos a aceitar a mudança, abrimos espaço para aprender mais sobre nós mesmos e descobrir novas aptidões. Cientificamente tem a ver com a plasticidade do nosso cérebro, que é a capacidade de criar novos neurônios e conexões. Por isso que na infância e na juventude é tudo mais fácil, pois estamos a todo momento experimentando coisas novas e há um desenvolvimento cognitivo mais intenso. Entretanto, à medida que vamos envelhecendo o cérebro começa a dizer: Hum, não quero mudar não, estou tão bem assim! Passamos a preferir a rotina e tudo aquilo com que estamos acostumados. É a tal “preguiça mental”, pois ao realizar atividades cotidianas, repetidas e conhecidas, o cérebro utiliza o que já construiu e trilha os caminhos neurais já definidos. O que fazer então? Mude, aceite desafios, avance! Faz bem para o espírito e para a cabeça. Eu, como sou inconformista desde sempre, faço questão de dizer pra ele – meu cérebro – que aqui a história é diferente.
Precisamente hoje estou dando início a algo novo na minha vida, que não deixa de ser uma mudança. Você, que me lê neste momento, é parte ativa deste processo. Como é o início do nosso “relacionamento” por aqui, quero te contar um pouco da minha história e de como mudar para mim é tão natural como respirar.
Sou de Brasília, faço parte da primeira geração nascida na capital. Morei em cinco países, fiz duas faculdades e algumas especializações, tenho três filhos, abri e fechei empresas, já viajei por meio mundo, falo três idiomas e estudo mais um, mudei de emprego, de hobbies, experimentei diferentes esportes, mudei de opinião, de casa, de gosto, de cabelo, de corpo. Inconstante? Não. Gosto da ideia de que sou super adaptável e adoro mudar. Meu primeiro curso universitário foi Educação Física. Tinha 17 anos e escolhi tão somente porque gostava de esportes. Saí da faculdade, morei um tempo na Europa com uma mochila nas costas e quando voltei ao Brasil, casei, mudei para os EUA e engravidei. Isto sim se mantém, o casamento. Trinta e um anos com o mesmo marido.
Decidi voltar a estudar quando meu primeiro filho tinha dois anos. Nesta época já havíamos voltado para o Brasil e morávamos em Porto Alegre. Entrei novamente na faculdade e cursei Jornalismo. Foi na área de Comunicação que atuei por um longo período da minha vida. Um ano depois de formada, voltei para minha cidade natal e trabalhei na TV como repórter, editora e apresentadora. Com o fôlego que sobra na juventude, ainda coordenava o departamento de comunicação de um grupo empresarial que atuava nas áreas de educação, turismo e gestão hoteleira. Em 2010, veio outra mudança. Fomos de mala, cuia e três filhos para a Espanha. Continuei na comunicação, mas vislumbrei outros caminhos e decidi abrir uma empresa de eventos. Ganhei mercado, trabalhei bastante, estava correndo tudo super bem até que… mudamos para Portugal. Outra mudança, é claro, merece outro projeto. Foi aqui em terras Lusas que decidi dar forma ao sonho antigo de abrir um pequeno Café. Esse café virou um bistrô e durante anos foi o meu trabalho, minha vida, minha paixão.
O Dona Flor Bistrô me fez aprender algo novo, de novo: a culinária. Me tornei Chef de comida vegana e o Dona Flor fez história na charmosa vila de Cascais. Início de 2022 veio outra mudança. Desta vez, não foi de cidade ou país, foi uma mudança interior. Senti que precisava ter mais tempo pra me cuidar e pra me dedicar a outras paixões, como a escrita e a pintura, que são parte da minha essência. Fechei as portas do restaurante e hoje, ainda morando em Cascais, desenvolvo projetos pontuais, com a liberdade de poder fazer a gestão do meu tempo. Acolher todas estas mudanças com a mente aberta, me trouxe crescimento pessoal e me fez desenvolver novas habilidades. Não consigo me imaginar de outra maneira e não olho para o passado com a dúvida do “e se”. Carrego comigo uma lição de vida que tento compartilhar sempre que posso: nunca, jamais, tenha medo da mudança. No meu caso, mudar tantas vezes me fez descobrir que sou muito maior do que aquilo que me ensinaram, do que me fizeram acreditar, do que esperavam de mim. Sou mais do que um diploma ou um trabalho estável. Eu sou aquilo que me proponho ser. Deixo aqui novamente a frase parafraseada para que você não se esqueça e faça uso todas as vezes que tiver dúvidas quanto às mudanças.
“Mudar é preciso, permanecer não é preciso”, ou se preferir, “Mudar é (im) preciso, mas às vezes necessário. Permanecer é preciso (ou não) e só depende de você”.