Mudar de casa é um desafio. Foi o que me aconteceu nesse último mês. Depois de 25 anos morando no mesmo apartamento, mudei. Foi um tempo de revirar gavetas, documentos, livros, encontrar memórias perdidas e separar entre elas quais eu queria levar para o novo lar. Um exercício e tanto.
Antes de morar nessa casa, eu já havia feito 12 mudanças, entre cidades e residências. Então, não sou inexperiente no assunto. Mas confesso que estava enferrujada.
Houve, primeiro, toda uma busca por um espaço que atendesse todos os meus critérios. Depois, a preparação do apartamento para minha vinda. Enquanto isso, a separação de tudo na casa que ocupava para escolher o que levaria para a casa nova. Ao contrário das outras vezes, em que eu sempre fui de uma casa menor para outra maior, dessa vez eu diminui. Um movimento de desapego, que de início me trouxe muita dor, porque precisei abrir mão de muita coisa para caber no novo espaço.
Chegando, a sensação alternada de caos e alegria com gente entrando e saindo para montagem de móveis, esvaziamento de caixas, instalação de equipamentos, colocação de quadros, iluminação, elétrica, hidráulica, jardim, limpeza, até a paz e a ordem reinar.
Experimentando uma sensação de leveza e com as energias renovadas, penso que poderia abrir mão de mais coisas. De que parte do que trouxe poderá ser, em breve, objeto de descarte para novas doações. Tomara que não seja apenas uma “onda do momento”. Confesso que tenho uma séria tendência a ser acumuladora. Adoro livros, quadros, esculturas, plantas. Amo cozinhar e juntar gente. E todos os apetrechos que isso tudo acarreta.
Admiro do fundo do coração aquelas pessoas absolutamente desapegadas a ponto de conseguirem carregar em uma mala tudo o que possuem. Fico angustiada só de pensar a respeito. Como conseguem? Sou daquelas que guardam todos os cartões das filhas. E se resolvesse ficar apenas com as memórias digitais? E se na próxima mudança doasse minhas plantas entre as amigas?
Agora, ao menos, já coloquei em uso o faqueiro e o aparelho de jantar, café e chá que eram do casamento dos meus pais! Até hoje, estavam guardados apenas para ocasiões especiais. Decidi que todo dia com vida é uma ocasião especial.
Quando mudamos, fazemos escolhas, conscientes ou não. Mas o processo não acontece de uma hora para outra, ele ocorre em passos, às vezes sofridos, às vezes alegres, mas a não ser que a gente o interrompa, continua até que ele se complete.
Se você ler novamente a frase acima, verá que ela se aplica tanto ao processo de mudança de uma casa como sobre qualquer processo de mudança que vivemos na vida. Difícil é entender e aceitar o tempo das coisas acontecerem. Parece que cada vez mais temos dificuldade de compreender as sutilezas, as acrobacias, as voltas e os ciclos que a vida possui.
Agora, uma diferença é que às vezes, quando mudamos de casa, podemos acabar ficando nela por muito tempo. Como eu, que permaneci 25 anos nessa última. No entanto, quando o processo de mudança termina na vida, sempre é bom revisar a rota, para escolher novo caminho ou não.
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Foto da Capa: Freepik