Até muito pouco tempo, visitar a Holanda para mim significava ir a Amsterdam. Nunca tinha estado em nenhuma outra cidade. Só fui descobrir outra Holanda quando minha filha escolheu estudar na universidade de Groningen.
– Onde fica isso? Me lembro de ter perguntado quando ela chegou com a notícia em casa.
Foi assim que começou minha relação com essa cidade de nome estranho que fica ao norte dos Países Baixos. Como nossa cabeça sempre nos leva para aquilo que conhecemos, minha primeira ideia é que iria encontrar uma Amsterdam, só que menor, com todas suas mazelas: pessoas sem teto, drogas e criminalidade.
Groningen não merece essa comparação nem de longe. É uma cidade com personalidade própria, arquitetura e atmosfera bem diferentes de Amsterdam e carrega tantos adjetivos que me fez rapidamente afastar a péssima reputação da irmã mais famosa. Groningen acolhe. É linda, limpa e vibrante. Os espaços públicos são destinados e concebidos para as pessoas. Poucos carros e muitas, muitas bicicletas. A bicicleta é o meio de locomoção mais comum e a infraestrutura cicloviária é referência mundial.
A cidade é dividida em quatro quadrantes e os os carros são proibidos de cruzar pelo centro, sendo necessário dar uma volta por um anel exterior para chegar ao destino. Resultado: mais espaço e liberdade para bicicletas e pedestres, boa qualidade do ar e quase ausência daquele ruído contínuo de motores.
Groningen é também é conhecida por ter a população mais jovem da Holanda. A idade média é de 36 anos. Um em cada quatro dos 200 mil habitantes é estudante. A Universidade de Groningen está entre as 100 melhores universidades do mundo e os jovens de diferentes nacionalidades estão por toda parte: nos parques, em empregos de meio período, curtindo a vida noturna e fazendo atividades físicas outdoor.
De acordo com um relatório recente da UE é também considerada uma das cidades mais felizes da Europa com uma taxa de 96% de satisfação entre os moradores. Não é uma cidade grande, porém também não é demasiado pequena, tem um comércio que mantém lojas locais e charmosas, excelentes restaurantes e bares e uma oferta cultural bastante interessante.
Acabo de voltar de lá e desta vez aproveitei também para fazer um passeio de bicicleta pela área rural. Em um domingo frio de inverno, porém ensolarado, percorremos mais de 30 quilômetros ao redor da cidade em ciclovias estruturadas que passam por paisagens lindíssimas.
Deixo aqui algumas curiosidades sobre a cidade:
●A Universidade de Groningen foi fundada em 1614 e foi a primeira em toda a Holanda a aceitar mulheres. A mudança começou em 1971 com Aletta Jacobs. Ela estudou medicina e foi uma forte defensora dos direitos das mulheres ao longo da vida.
●Por falar em mulheres, a nadadora holandesa e medalhista olímpica Ranomi Kromowidjojo nasceu em 1990 em Groningen. Ela conquistou sua primeira medalha de ouro nas Olimpíadas de 2008 em Pequim e recebeu sua segunda e terceira medalhas de ouro nas provas individuais de 50 metros e 100 metros livres nas Olimpíadas de 2012 em Londres
●Assim como em Pisa na Itália, Groningen também tem sua torre inclinada. É a torre da igreja de São Walfrido em Bedum que tem 35,7 metros de altura e 2,61 metros de inclinação.
●Tem um Museu de Arte Moderna interessantíssimo – Groninger Museum – que fica em um prédio futurista e é obra arquitetônica conjunta de vários artistas. O espaço abriga uma importante colecção de arte contemporânea.
● Last but not least, tem aquele que é considerado o maior PUB da Europa. O Drie Gezusters tem uma capacidade de 3.750 clientes distribuídos em 20 bares em uma das esquinas mais movimentadas da cidade.
Fotos: Groningen, Holanda | Acervo da Autora