Teve até cena de envergonhar bolicho. Foi em Teresina. A capital do Piauí que já nos deu o Mão Santa, como era conhecido o médico Francisco de Assim de Moraes Souza, governador do estado e prefeito de Parnaíba, agora expõe ao Brasil o médico José Pessoa Leal, o popular Dr. Pessoa, prefeito de Teresina e candidato à reeleição. Como se espera de um bom candidato, o ilustre Dr. Pessoa usou a cabeça durante o debate promovido pela Rede Bandeirantes na noite de 8 de agosto. Pena que não foi para formular nenhuma proposta que melhore a vida na cidade.
O Dr. Pessoa, do PRD, usou a cabeça para atingir a testa do adversário Francinaldo Leão, do PSOL! Há quem diga que, depois da cabeçada, os cabos eleitorais têm uma nova apresentação do candidato: este é o Dr. Pessoa, mas pode chamar de Cabeça Dura, ou Bodinho. E fica a pergunta: quem vai ganhar? Bodinho, ou Leão? Há, também, quem diga que o Bodinho, quer dizer, o Dr. Pessoa, encarnou o Cabeça de Cuia, mito piauiense que até hoje aterroriza os moradores do estado. A lenda conta a história de um menino que, amaldiçoado pela mãe, teve a cabeça transformada num enorme porongo…
Mas deixemos de lado a cabeçada piauiense que, afinal não foi o único exemplo de mau uso da cabeça durante o primeiro debate deste 2024 e nem o último da campanha que recém começa. Muitas candidatas e candidatos deixam a impressão de que usam a cabeça mais para pentear o cabelo e experimentar cremes do que para pensar. Em São Paulo, tem candidato prometendo construir uma rede de teleféricos para melhorar a mobilidade na periferia da cidade e construir um edifício com um quilômetro de altura simplesmente porque acha que a cidade merece um símbolo… Mas as promessas mirabolantes não são exclusividade de um candidato, de uma cidade. Os que pretendem a reeleição mostram cidades que os moradores não conhecem nem nos melhores sonhos…
Os que buscam o primeiro mandato, atacam o administrador no poder, prometem o paraíso, mas não contam direito como vamos alcançar esse Éden… Candidatas e candidatos, infelizmente, quando usam a cabeça para pensar, o fazem pensando que nós, eleitores, não pensamos… Algumas e alguns ainda não entenderam que as relações interpessoais mudaram. E mudaram para melhor. Já ninguém mais é ouvinte passivo dos discursos. Às vezes, parece que as lideranças políticas não entenderam, ainda, que o que importa não é o que a gente diz, mas como os outros entendem o que a gente está dizendo. Esse, aliás, me parece o principal desafio dos marqueteiros, dos coordenadores das campanhas municipais deste ano: fazer seus candidatos falarem para as quatro gerações de eleitores que irão às urnas em outubro e novembro.
De 30 de agosto a 3 de outubro, milhares de candidatas e candidatos a vereador, vice-prefeito e prefeito vão entrar, diariamente, nas casas do Brasil inteiro pelas telas dos aparelhos de TV, pelos computadores, celulares… Nossas redes sociais e aplicativos de troca de mensagens ficarão lotados de grandes promessas. Nos trinta e poucos dias de campanha no Rádio e na TV, vamos ver e ouvir desde boomers oitentões, ou quase, como o cabeça dura Dr. Pessoa, passando pela geração X de Juliana Brizola (49 anos), candidata em Porto Alegre, onde o avô dela, Leonel, deu aula de política como governador do estado, prefeito da capital e deputado, até millennials como Tábata Amaral, candidata a prefeita de São Paulo, que vai completar 31 anos em novembro deste ano.
Essas mesmas gerações – os boomers nascidos entre a segunda metade da década de 40 do século XX e o início da década de 60, os X dos 1965 a 1980, os millennials de 1981 a 95 e até os Z, nascidos entre 96 e 2010 – estarão nas filas das seções eleitorais no dia 6 de outubro, data do primeiro turno da escolha dos prefeitos. E no dia 27 de outubro, onde houver segundo turno. Aí, é a vez de o eleitor se manifestar. Com uma vantagem. Durante a campanha, teremos oportunidades de participar, de contestar, de concordar com os candidatos e até de denunciar eventuais desmandos. O dia da eleição é o dia do nosso veredito. O dia da eleição deveria ser batizado de Dia da Verdade, o dia em que cada cidadão desfruta da liberdade absoluta.
O dia em que cada um faz valer o que pensa, sem estar limitado por nenhuma regra que não seja ditada pela própria consciência. O dia da eleição é o dia de ver quem se comunicou com o eleitor e quem falou sozinho, imaginando que enganava alguém…
Foto da Capa: Em Teresina, Dr. Pessoa acerta cabeçada no candidato do PSOL / Reprodução da Band.
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