Imagine que seus filhos ou sobrinhos ou filhos de conhecidos, a partir dos 10 ou 11 anos, começassem a tomar vitaminas, medicamentos e a realizar tratamentos para repor e equilibrar doses de hormônios em desequilíbrio, por causa da adolescência. Afinal, sabemos as imensas alterações de humor, mudanças no organismo e dificuldades de relacionamento enfrentadas nesse período. Isso te soou anormal? Pareceu um exagero?
As duas faces de Eva
Mais recentemente, comecei a identificar um fenômeno. Um movimento relativamente novo. Percebo desde profissionais da saúde a influencers, e a mídia em geral, abordando o tema da perimenopausa e a menopausa (saiba mais clicando aqui). E isso tem me chamado atenção.
Por um lado eu o abraço e celebro. Penso que precisamos falar muito a esse respeito, desmistificar crenças, mitos, difundir informações e naturalizar essa fase do ciclo de vida da mulher, normalmente identificada como algo negativo, ao envelhecimento do corpo, ao desequilíbrio emocional e físico, a crenças de que a mulher fica “oca” e “seca” por dentro com a perda da possibilidade de reproduzir (ver estudos aqui e aqui).
Por outro lado, me gera desconforto identificar uma tendência a patologização e medicalização, como a que ironizei lá no início deste texto, quando escrevi sobre a adolescência. Isso me ocorre quando escuto termos como “riscos da menopausa” (por acaso a gente fala em riscos da infância, adolescência, da andropausa?), “falta de estrogênio” (desde quando os homens são “cobrados” pela falta de testosterona na andropausa?). E nas redes sociais aparecem profissionais e influencers a me indicar soluções naturais, ou não, para as minhas “faltas” e “dificuldades”. Seria eu “insuficiente”? Neste mundo capitalista, encontraram mais um mercado para explorar as inseguranças e medos de nós, mulheres?
Nesse sentido, aprecio e promovo iniciativas que promovem o diálogo, a troca, a rede entre mulheres. Quando mulheres ensinam e aprendem umas com as outras, colaborativamente. Descobrindo que a potência vem de dentro.
Homem primata
E, já que citei aqui, penso que também precisamos falar sobre andropausa! A gente ouve dizer que homens produzem espermatozoides até o final da vida, mas – veja bem – cada vez com menos testosterona, pois existe a Andropausa (!), pois o homem conviverá ao longo de décadas com essa diminuição gradual, que poderá acarretar vários sintomas, como insônia, ondas de calor, dificuldade de ereção, diminuição da massa muscular, alteração de humor, entre outros. Mas esse é um tema ainda pouco falado. Medo? Dificuldade de lidar com a fragilidade e vulnerabilidade? Com a falta de “potência” e masculinidade? Precisamos falar sobre isso. Lidando como parte da vida e da nossa natureza. Sem medicalização, por favor.
Mulher é bicho esquisito
Não escutei, ainda, muitas preocupações com os corpos de mulheres ativas e “produtivas”. Por exemplo, sobre quando uma mulher menstrua, e o turbilhão hormonal que a acomete mensalmente. Leia aqui para entender o que é menstruação.
A síndrome pré-menstrual ou TPM – tensão pré-menstrual – é frequentemente usada em contexto de piada e brincadeiras. Em pesquisa realizada com 822 brasileiras, 92% relataram sentir dores decorrentes da cólica menstrual. Para 43%, esse incômodo é intenso, enquanto 20% o definiram como insuportável. Não à toa, 73% das entrevistadas afirmaram já ter faltado ao trabalho, à aula ou a um compromisso profissional por causa desse sintoma. E, embora o sofrimento chegue a ser incapacitante, 79% das mulheres já ouviram que cólica é “frescura, drama ou exagero”. Isto posto, fico a me perguntar onde estariam os projetos e programas de apoio a mulheres nas empresas, universidades e órgãos públicos, acolhendo esse sofrimento, compreendendo essa necessidade e oportunizando as mulheres que sofrem desses sintomas que elas possam se ausentar ou, pelo menos, trabalhar ou estudar online? Parece um absurdo?
Menstruação não é doença. Mas há uma parcela de mulheres que sofrem, muito, por causa desse processo mensal e natural da vida. E as mulheres precisam ser apoiadas e cuidadas (e não apenas cuidar) pela sociedade em geral. Sim, já entendemos que vivemos numa sociedade capitalista que visa o lucro. Mas precisamos discutir a qual custo e de quem.
Pra onde iremos nós
No dia 06/03 fui convidada para o Lançamento do Report Diversidade Corporal e Mulheres 45+ , produzido pela Luzz Design. Nele, moderadas pela Paula Visoná, uma das sócias da empresa, Laura Medina, Letícia Foster e eu conversamos sobre idadismo, envelhecimento e diversidade de gênero com um público interessante e interessado, formado por pessoas de todas as idades. Foi enriquecedor. Recomendo muito a leitura do Report, um trabalho amplo e aprofundado sobre o universo feminino de mulheres 45+, que você pode acessar neste link, que faz um exercício de futurismo para 2043. Superbacana. Vá lá!
Seja uma dama
Nessa semana do “Dia da Mulher”, acessei uma imensidade de conteúdo e esse vídeo protagonizado pela Cynthia Nixon (a Miranda Hobbes, de Sex and the City), foi um dos que mais me impressionou e que mais curti. São apenas 2’41”. Acessa neste link. Mulher, você anda se comportando direitinho?
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Foto da Capa: Freepik