A participação de mulheres negras na esfera política é crucial para fomentar a igualdade social e assegurar que uma variedade de experiências e vozes sejam representadas nas tomadas de decisão. No Brasil, as mulheres negras são apenas 6% das vereadoras, conforme a pesquisa Gênero e Número de 2020. E quando observamos os dados referentes às deputadas federais, os números são ainda mais alarmantes: dos 513 parlamentares, apenas 1,75% são mulheres negras (Fonte: TSE, Câmara dos Deputados/DIAP 2022).
A presença de representantes negras na política, especialmente no Rio Grande do Sul, desafia as estruturas de poder que historicamente foram dominadas por grupos hegemônicos. Essas lideranças são essenciais para a articulação de políticas públicas que atendam às demandas das comunidades marginalizadas. Em um cenário político em que a diversidade de raça e gênero está presente, os debates se tornam mais ricos e abrangentes, refletindo diferentes visões e experiências. Isso é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes, capazes de reduzir as desigualdades sociais e econômicas de maneira mais assertiva.
É importante ressaltar que a presença de pessoas negras na construção de políticas públicas voltadas para a melhoria do ambiente escolar é um passo essencial para a emancipação de estudantes negros. Nossos jovens e nossas crianças precisam de espaços onde suas experiências sejam valorizadas e suas necessidades específicas, atendidas. A falta de representatividade no processo de decisão educacional perpetua um sistema que desconsidera a realidade de estudantes negros e, por consequência, mantém estruturas racistas intactas. Acompanho isso bem de perto. Minha filha está com 15 anos e ao longo de sua vida escolar, tivemos boas experiências sobre a lei 10639 porque ela tinha uma professora extremamente engajada com a temática, mas ao longo dos anos não tivemos a mesma consistência na aplicação da lei nas demais disciplinas.
A saber: a Lei 10.639/2003 tornou obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas do Brasil. Ela alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, incluindo essa temática na grade curricular do ensino fundamental e médio. Além disso, estabeleceu o Dia da Consciência Negra como data prevista no calendário escolar.
Bacana, né? Mas na realidade, após 21 anos da lei, pouco evoluímos no contexto de formação continuada de professores e aplicação transversal do tema em toda matriz curricular, porque não existe monitoramento nem punições para as escolas que não aplicam a lei.
Não é raro perceber que muitas pessoas negras rejeitam esses atos políticos porque não foram ensinadas a ser protagonistas de suas próprias escolhas. Durante séculos, fomos privados de uma educação completa e de qualidade — inclusive de uma educação política — pelas mesmas forças que desejavam que permanecêssemos apenas como serventes. Hoje, reverter esse quadro é um ato de resistência e de construção de um futuro em que todos possam ter voz e vez.
O protagonismo negro na política é um imperativo para romper com a histórica marginalização e construir um ambiente escolar mais inclusivo e justo.
Por isso, pensar no voto com intencionalidade e consciência, especialmente focando em candidaturas de mulheres negras, é uma maneira de garantir uma representação mais justa e promover políticas públicas que reflitam verdadeiramente a diversidade e as necessidades da população.
Vivo isso no meu cotidiano como profissional e como mãe. Me tornei naturalmente uma ativista porque minha pele e minha alma estão marcadas pela luta. Precisamos falar, pensar, lutar, trocar ideias juntos e juntas.
Para enriquecer ainda mais esse diálogo, a iniciativa Café Preto com Política tem percorrido a Região Metropolitana de Porto Alegre com o propósito de fortalecer o debate sobre a importância do voto em candidaturas de mulheres negras. No perfil do Instagram é possível conhecer o que já foi realizado e os próximos encontros. Inclusive, tenho o prazer de ser a mediadora da próxima edição. Se quiser saber mais, fica aqui meu contato no LinkedIn. Bora participar!
Fontes:
Lei 10.639/03
Instituto Aurora – Lei 10.639/03
Café Preto com Política
Alyne Jobim é mãe da Lauren, administradora de empresas, pós graduada em varejo e-commerce, formação executiva em Advocacy e políticas públicas, diretora de articulação e relacionamento na superintendência de educação profissional do RS, cofundadora da Odabá – Afroempreendedorismo, sócia-fundadora da Iwosan, marca de uniformes com estampas africanas, gestora de projetos de educação empreendedora, inovação social e diversidade.
Foto da Capa:Pixabay
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