Escrever requer tanto de nós. Às vezes as palavras saem fluídas, mas, verdade seja dita, outras vezes são praticamente retiradas a fórceps. Digo isto por mim, pois para outros talvez seja sempre suave.
Minha cabeça dá voltas e voltas tentando encontrar algo que faça sentido neste mundo tão sem sentido em que vivemos ultimamente. Para fugir dessa “loucura” e do massacre constante de notícias ruins, busco referências em experiências passadas para contar histórias.
Foi nessa busca que encontrei os registros de uma visita a um santuário de elefantes na Tailândia. Poder passar algumas horas ao lado destes animais enormes foi uma das experiências mais incríveis que já tive viajando.
Os elefantes ficam soltos, no ritmo deles, no espaço deles e nós ali somos “convidados”. Parávamos quando eles paravam para comer, participamos do banho no rio, das brincadeiras com o filhote. Sem pressa, sem ordens. Os cuidadores estavam sempre ao lado, mas o tratamento com os animais era com palavras e reforço positivo, sem nenhuma violência. E eles pareciam entender. Não pareciam propriamente felizes, mas sim conformados por estarem enfim livres e em condições o mais próximas possíveis de seu habitat natural.
Fiquei triste ao conhecer as histórias e saber de onde e como haviam sido resgatados. Muitos dos elefantes são cegos ou têm lesões físicas, vítimas de exploração madeireira, circos e outras atividades relacionadas ao turismo.
Durante nossa visita, havia duas fêmeas, um bebê, um “jovem” e um “senhor” enorme! Apesar do tamanho, era dócil e andava devagar por causa de uma lesão antiga na região lombar, consequência de anos carregando peso. Esse centro de reabilitação que visitamos foi Elephant Nature Park, um dos primeiros santuários do país. O local fica na zona rural de Chiang Mai e já resgatou mais de 200 elefantes das indústrias do turismo e da exploração florestal desde a sua criação na década de 1990. É inquietante pensar que ainda hoje há pessoas que pagam para andar nas costas destes animais, mesmo sabendo da crueldade que tem por trás desta indústria.
Pelo menos, enquanto uns ainda insistem em explorar, outros se dedicam a curar, como é o caso de um músico inglês que faz concertos na natureza.
Música para Elefantes
Paul Barton é um pianista britânico que desenvolveu o projeto “Piano for Elephants” com um único objetivo: proporcionar conforto e bem-estar aos elefantes. Ele começou a tocar no Elephants World, um outro santuário que fica em Kanchanaburi, também na Tailândia. O local abriga elefantes idosos, doentes ou que sofreram maus-tratos. O artista acredita que a música clássica tem um efeito calmante sobre os animais e ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade destes animais que sofreram abusos.
Há vários vídeos do pianista tocando e as reações dos animais são comoventes. Alguns ficam parados e parecem escutar atentamente. Outros balançam suavemente a cabeça ou as trombas, como se estivessem sentindo a música.
Barton toca peças de compositores como Bach, Beethoven, Chopin e Debussy, e suas apresentações são feitas ao ar livre, onde os elefantes podem se aproximar livremente. Em seus relatos, ele afirma que a música clássica “ativa emoções positivas nos animais, promovendo um ambiente mais tranquilo”.
O projeto de Barton ganhou notoriedade mundial, com milhões de visualizações no YouTube, e tem servido de inspiração para pesquisas e discussões sobre os efeitos terapêuticos da música nos animais. Algumas destas pesquisas demostram que a resposta emocional à música é semelhante à experimentada nos humanos, sugerindo que a música tem um impacto profundo e universal.
Para desenvolver o projeto, Barton conta que a inspiração veio quando conheceu uma elefanta cega que ficou encantada ao ouvi-lo tocar pela primeira vez no santuário Elephants World. Segundo o pianista Barton, os elefantes jovens preferem músicas mais animadas, como ragtime e showtunes. Já os mais velhos preferem peças clássicas suaves e tranquilas. Ele só toca para elefantes desacorrentados e livres para ir embora se quiserem. Para ele, os animais devem ouvir a música por escolha, e não por imposição.
Curiosidades sobre estes animais
Todos conhecemos a expressão “memória de elefante” pela capacidade que eles têm em lembrar de acontecimentos passados. Vários experimentos demonstram também que os elefantes são criaturas excepcionalmente inteligentes. Eles têm o maior cérebro de qualquer animal terrestre e três vezes mais neurônios que os humanos. Embora muitos desses neurônios existam com uma função específica de controlar o corpo.
Pesquisadores da Universidade de Sussex em Brighton, Reino Unido, descobriram que os elefantes podem distinguir diferenças em gênero humano, idade e etnia puramente pelo som da voz de alguém. Além disso, eles entendem linguagem corporal, imitam o timbre da voz humana e sofrem quando morre algum animal do grupo.
Aliás, essa relação que eles têm de “família” me fez lembrar de um episódio que aconteceu na nossa visita ao santuário. O bebê do grupo estava sempre acompanhado de duas fêmeas. Quando estávamos chegando perto do rio, de repente as duas cercaram o elefantinho e começaram a balançar a cabeça e as trombas com bastante intensidade, fazendo muito barulho. O guia explicou que talvez elas tivessem identificado algum perigo, como uma cobra, por exemplo, e por isso agiam assim. Mas a parte lúdica desta história é que, quando nasce um bebê, a mãe escolhe outra fêmea do grupo para ser uma espécie de “madrinha”. Elas ficam todo o tempo juntas até que o pequeno seja capaz de se defender sozinho.
Alguns vão dizer que é instinto, eu prefiro pensar que é amor.
E esse, que começou como um texto difícil, acabou me levando por lembranças doces. Em tempos difíceis, qualquer forma de amor e afeto vale a pena.
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Foto da Capa: Reprodução do YouTube.