Meu pai, o seu Alcides, dizia que trabalhava desde os 14 anos. Isso era mais ou menos comum na sua geração. Lembrei disso ao ler um artigo do site Escola Educação. Em matéria recente, do dia 31 de janeiro de 2024, o colunista Goodanderson Gomes apresenta dados de uma pesquisa da Pew Research Center, veiculada pela rede CNBC.
O assunto pesquisado é sobre as dificuldades da geração Z em conquistar uma independência financeira. Foram ouvidos mais de 3 mil pais e cerca de 1,5 mil pessoas com idades entre 18 e 34 anos. Quase a metade dos jovens e jovens adultos entrevistados não conseguem se firmar profissionalmente, embora sejam em geral muito mais instruídos do que os das gerações anteriores.
Outro dado: 31% seguem vivendo nas casas dos seus pais. A crise econômica e os altos preços dos imóveis concorrem para que isso aconteça. Novas composições de convívio, levando mais de um casal com filhos a morarem numa mesma casa para dividirem as despesas também se mostraram nos dados colhidos.
A pesquisa não fala, mas hoje o conflito de gerações parece ser menor. A distância dos valores entre pais e filhos diminuiu. Há mais liberdade sexual e um respeito maior às individualidades. Era comum nos meus 20 anos que se saísse de casa para morar sozinho ou com amigos. A vida familiar não comportava os avanços da juventude da época.
Também o enquadramento no mundo profissional era quase inevitavelmente uma imposição social. Quem podia fazer uma boa formação técnica ou universitária nem hesitava em procurar logo um emprego. Aceitar as limitações da vida profissional estava na pauta e era aceita com uma certa naturalidade.
Hoje, com a abundância de informações, de uso de internet e redes sociais, é possível cogitar uma invenção de um espaço profissional próprio, de uma remuneração que vem de financiamentos coletivos, de venda direta online, de trabalho remoto para qualquer lugar do mundo. Contraditoriamente, a oferta de empregos tem diminuído.
Assim, nem o mundo novo com suas possibilidades recentes, nem o mundo antigo cada vez mais em crise estão conseguindo acolher as demandas de estabilidade dessas pessoas que nasceram entre 1996 e 2012. Isso também faz com que não cogitem formar uma família nem ter filhos. Outras configurações sociais vão surgindo a partir dessa nova realidade.
Aquela fala como a de meu pai, “Na sua idade, eu já trabalhava”, agora se transforma, na boca dos pais da minha geração, em “Na sua idade, eu já morava sozinho”. E tal como nossos pais, que nos acolheram, como no meu caso, até me formar na faculdade e em seguida arranjar emprego, acolheremos nossos filhos até conseguirem se estabelecer, se o novo mundo permitir, numa possível independência profissional.
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