E se eu fechasse? E se eu não fosse? E se eu tivesse ido? E se eu tivesse assinado aquele contrato? E se eu tivesse aceitado aquele emprego.
Somos feitos de passado, que um dia, ontem, foi um presente.
Mas e se?
Como pronominal pessoal, essas duas letrinhas estão entre as mesas de bar dos encontros, entre talheres e pratos nos almoços de família, no sofá, entre a troca de um seriado e outro, no travesseiro, onde por baixo as mãos se cruzam.
Você se pergunta: e se?
Na organização do tempo-espaço, janeiro nos conduz aos mais mirabolantes planos para os próximos meses e para uma choradeira por conta do que não foi, do que não deu, do que se foi.
A dualidade de sentimentos, entre a empolgação por novas oportunidades e a tristeza por objetivos não cumpridos, é comum. É importante lembrar que a vida é cheia de altos e baixos, e nem sempre conseguimos realizar tudo o que planejamos.
Em vez de se concentrar apenas no que não deu certo, é produtivo considerar as lições aprendidas e como elas podem influenciar os planos futuros. O tempo-espaço é uma jornada contínua, e cada momento oferece oportunidades para crescimento e transformação.
Empreendedoras e empreendedores, caso o tempo e o bolso lhes permitam, faça e exercite o ócio. Aqui neste perfil, há um texto sobre a importância de não agir. Mas se, e aqui agora, dentro de uma conjugação de expressão de reflexividade, não der, tenha mais cautela consigo. Não existe nada entre ou a partir dos “se’s”.
O que foi, já era, e a cada segundo precisamos estar mais próximos do que aqui e agora nos acontece.
Dentro da nossa vida de empreendedores, quando estamos em outubro, já estamos preocupadas com o ano seguinte.
Já se foi janeiro, já entramos em fevereiro, tempo das férias, dos impostos vencendo, das matrículas que se renovam, dos filhos em casa, do calor que o ar condicionado não dá conta de amenizar, das chuvas que os ralos entopem, não se comemora nada, portanto, comércio, choraí, porque não há promoção que facilite as suas vendas. E você que presta serviços, eu aqui te abraço, porque sei que não seremos pagos ou que os nossos serviços mensalmente remunerados entram na pilha de assuntos que serão resolvidos após o carnaval.
Caixa, minhas queridas e meus queridos empreendedores, esta é a palavrinha mais do que mágica. Você precisa ter caixa, ou o chamado, fôlego financeiro.
Mas amada, que fôlego é esse? Capacidade de sustentar a respiração? De que jeito se nem meu nome eu tenho?
E aqui, neste instante, abre-se um arcabouço. Isso mesmo. Ninguém fala sobre o uso indevido do seu nome, e trazemos para cá o “se”.
E “se eu tivesse dito não quando ele/ela me pediu meu O ano ainda está começando. Reivindique o seu nome CPF para abrir uma empresa”?
E “se eu tivesse dito não quando ele/ela me pediu para ser sócia”?
Quantos pais “recrutaram” suas filhas? Maridos “recrutaram” suas esposas? Filhos “recrutaram” suas mães?
Ah não, mas eu achei que esse texto seria algo inspiracional, reflexivo e motivacional, afinal o ano começou agorinha.
Por isso mesmo.
Bora começar o ano falando do que não é discutido: mulheres que cedem o seu belo e bom nome, ou mais precisamente o seu CPF.
Dados, vamos aos dados. Hora de trazer dados e mulheres para este texto.
A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (PEIC), de 2022, traçou o perfil do devedor brasileiro: mulheres, com até 35 anos, ensino médio incompleto.
Sim, amiga, é você!
Só no cartão de crédito, ou seja, na análise do endividamento com o cartão, somos 88,1%.
Citando um parágrafo da conclusão de Graciela Rodriguez e Paula Sarno, no texto Endividamento familiar e pandemia, do livro “Quem deve a quem?”: “A responsabilidade das mulheres pelo sustento familiar diário em situações de precariedade as coloca em uma situação maior de fragilidade diante das necessidades que implicam cuidado de reprodução vida. Assim, endividar-se para pagar dívidas se transforma em uma prática rotineira e extenuante para enfrentar a crise de saúde, o acesso a serviços essenciais e à moradia, e inclusive para enfrentar a violência doméstica que se multiplicou na pandemia”. Leslie Kern, no livro “Cidade Feminista”, fala na “luta pelo espaço em um mundo desenhado por homens”, traz a pesquisa realizada pela Jornalista Talia Shadwell sobre o impacto do assédio nas finanças, onde por conta da violência mulheres arcam com o custos de transportes privados para curtas distâncias, ou seja, o encargo adicional financeiro decorrente da segurança que supostamente achamos que pagamos por.
A ilegitimidade aqui transpassa não só a questão do uso dos dados pessoais, mas toda a carga, a soma, o acréscimo sobre o bolso, que feminino, paga mais. E não vou nem falar de tributação em relação ao gênero. Laranja, abacaxi, morango, a fruteira inteira, não me interessa o nome, mas a natureza e os efeitos de ceder para outras pessoas o uso dos seus dados.
A pressão para ceder o CPF ou se envolver em negócios ultrapassa a manipulação, coação emocional, ou até mesmo em um contexto de relações familiares e conjugais, o abuso está dentro de casa. E sim, precisamos reconhecer e nomear este abuso que está culturalmente estabelecido.
É início de ano.
Reivindique o seu nome.