A frase título desse artigo foi uma das declarações marcantes proferidas pela atriz Viola Davis em sua passagem pelo Brasil nesta semana. Para além da invisibilidade que tanto nos esconde na sociedade, no cinema, na vida, a fala dessa mulher negra ecoa como um basta a esses tempos absurdos que nos joga na cara os dislikes no post sobre a pequena sereia negra da Disney ou os brados de protesto contra um elfo negro “deturpando” a obra de Tolkien. Hoje, dia 22/09, estreia o filme “A Mulher Rei”, produzido e estrelado por Viola. Ir aos cinemas, bombar as bilheterias é mais do que uma resposta possível.
Não é de hoje e não é por acaso – aquele em que ninguém acredita – que essa mulher me fascina. Sua biografia poderia ser um filme de terror não fosse uma realidade vivenciada por muitos de nós, negros. O que impressiona é que a miséria a qual ela sobreviveu foi vivenciada num país do primeiro mundo. A gente – eu, no caso – tem essa mania de pensar que qualquer coisa ruim no primeiro mundo é infinitamente menor se comparada ao que se passa aqui ou em outro país em desenvolvimento. Em seu livro “Em Busca de Mim” Viola mostra que não é bem assim.
Encontrando Viola
Proveniente de uma família em situação de pobreza extrema, ela ainda teve de enfrentar o preconceito e a rejeição múltiplos. Aquela criança negra, com fome, frio, malcheirosa e feia, sofrendo bullying por todos os lados, encontrou na arte a sua tábua de salvação. Piegas… Vida. Tapa na cara de quem ainda não entendeu. Ela atua desde o final dos anos 1990, mas somente em 2008 começou a ser vista. Concorreu ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Dúvida“, em 2009, e as portas começaram a ser abertas. Depois disso, vieram as indicações por “Histórias Cruzadas” (2012) e “Um Limite Entre Nós” (2017), levando a estatueta para casa. Enquanto isso, ela ganhava destaque também na TV como protagonista da série “How to Get Away with Murder“, ainda em cartaz na Netflix (onde também é possível ver a desconcertante entrevista de Viola para a apresentadora Oprah Winter).
Agora, em “A Mulher Rei”, ela brilha com a história das Agojie, uma unidade de guerreiras composta apenas por mulheres que protegiam o reino africano de Daomé (hoje Benin) nos anos 1800, com habilidades e uma força diferentes de tudo já visto. O filme gira em torno da épica general Nanisca (Viola Davis) em paralelo com Niwa. Nanisca treina uma nova geração de recrutas e as prepara para a batalha contra um inimigo determinado a destruir o modo de vida delas. Veja o trailer:
A Mulher Rei | Trailer Oficial | YouTube
História real
Já clicou para ver o trailer? É impactante e nos induz a pensar que o filme dirigido por Gina Prince-Blythewood se assemelha a uma nova aventura da Marvel. Pode parar, pode parar. Viola faz questão de ressaltar que não há nada de superpoderes na história. Esta é uma história real. As Agojie realmente existiram, lutaram e refrearam a invasão dos colonizadores. “É uma história verdadeira e, infelizmente, pouco conhecida. Foi o motivo que nos impulsionou” – afirma a atriz.
Aliás, tem uma curiosidade pra brasileiro ver: ao longo da trama, há várias menções ao Brasil, já que boa parte das riquezas de Daomé veio da venda de negros de outros reinos e tribos aos europeus, que os traficavam para as Américas para serem escravos.
Há um personagem português e outro brasileiro no filme, que estão na África justamente para tirar vantagem do regime escravocrata. Assim, é possível ouvir português sendo falado aqui e ali, embora os atores Hero Fiennes Tiffin e Jordan Bolger sejam britânicos.
Representatividade importa sempre
Viola e seu marido, Julius, que também assina como produtor do longa, desejam que a produção se torne um “box office”, ou seja, um sucesso de bilheteria. “Vocês precisam colocar seu dinheiro em filmes com pessoas como a gente. Se vocês não pagarem o ingresso para filmes como esse, eles não serão mais feitos”, alertou.
A atriz ainda comentou sobre outros filmes com protagonismo feminino. “Pessoas pretas, mulheres pretas, podem ser heroínas das suas próprias histórias?! Como “Lara Croft – Tomb Raider” (2001 e 2003) e “Salt” (2010). Se vocês pagam para ver Scarlett Johansson, Brie Larson e Angelina Jolie, se vocês podem pagar para vê-las batendo nos homens, sendo fodas, vocês podem pagar para ver a mim, Lashana Lynch e várias mulheres negras”, completou.
Então, minha gente, Viola tá certa ou não tá? Tá esperando o quê? Bora assistir ao filme e cumprir a nossa parte! Representatividade importa, bilheteria também.