Amar é fácil!?
Nem sempre. Depende do momento.
Quando criança, amar é simplesmente encher de beijos, abraçar apertado e olhar para o infinito.
Mas a gente vai crescendo e percebendo que o amor não é tão simples.
Que com ele vêm uma série de compromissos.
Que é exigida uma reciprocidade e que a linguagem que o traduz, na maior parte das vezes, é a da negociação.
Tudo bem que na adolescência a gente só lembra dessas regras em casa, com a família.
Na rua, a todo instante, caímos do precipício da ilusão.
Caímos ao nos relacionarmos com quem imaginamos que são nossos amigos, mas que somente o tempo, os conflitos e os testes de crescimento poderão confirmar se o são.
Caímos ao nos entregarmos aos amores, em desvario e em variedade.
A juventude tem esse poder de enevoar os pensamentos de realidade que já são perceptíveis e só colocar no roteiro o que nos convém, aquilo que o nosso ego reconhece como sendo importante.
Então, se o amigo nos elogia e se faz parceiro das nossas andanças, o amamos.
Declaramos isso facilmente.
Se, por outro lado, ele nos questiona, não aceita nossos convites ou sandices, para que é amigo?
Nossa relação com ele vai do amor ao ódio em segundos.
O amor toma um corpo dúbio.
Passa a ter duas faces.
Espelho da verdade que encontramos ao nosso redor e que reflete a nossa fase.
Mas o caminho é caminhado.
Cansamos disso e queremos mais.
Desejamos o encontro. Ou não.
Simplesmente nos oferecemos ao acaso, esbarramos com um alguém que, do nada, torna-se nosso complemento mais bonito e do qual não mais conseguimos nos desprender.
De repente, ou de forma planejada, o amor se torna uma farta refeição, servida em porcelana inglesa, com talher de prata, guardanapo de linho bordado à mão e taça de cristal compondo a mesa.
Até que ela esfria. Há agora apenas restos, os quais não permitem sua sobrevivência digna.
O amor acabou. E ninguém sentiu.
Todos ficaram inebriados com as bebidas ofertadas com o propósito de que a dura realidade da convivência e de seu necessário e constante cuidado ficasse esquecida.
No rótulo da garrafa estava registrado o ano da colheita.
Tinha sido a melhor safra daquela Casa que, no entanto, deixara seus parreirais secarem.
O que era amor viral tornou-se obrigação.
Mas não. Não ame por obrigação.
Compromisso é respeito. Não é prisão.
Amor de verdade não enclausura, nem fere.
Simplesmente acontece e se fortalece. Ou deixa de ser.
E, se assim for, que reste ao menos dignidade.
Não. Não me ame por obrigação.
Assim eu não quero.
Isso não é amor.
Mildred Lima Pitman - sou Mulher, Mãe, Advogada. E agora, na maturidade, venho buscando, por meio da escrita, uma melhor versão de mim mesma.
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Foto da Capa: Freepik