Há algumas semanas, exultei ao decidir voltar aos bancos universitários e estudar psicologia. Recebi o apoio e a força de muita gente pessoalmente e pelas redes sociais. Foi lindo. Me senti animadíssima.
Poucos dias antes do feriado de Carnaval, organizando minha agenda de compromissos fixos do primeiro semestre, percebi que alguma coisa estava sobrando. Sim, a graduação. A decisão havia sido tomada num impulso, sem eu me dar conta de que a minha vontade não faria as semanas terem mais de sete dias ou os dias, mais de 24 horas. Resolvi adiar a nova faculdade. Recebi o apoio e a força dos queridos com quem dividi a decisão. Foi lindo. Me senti poderosíssima.
Por que isso foi possível? Porque eu não tenho mais 30 anos e aprendi (a duras penas) que não preciso abraçar o mundo. Que a inação também pode ser satisfatória e fazer a diferença. E que não apenas não é sempre uma demonstração de derrotismo ou covardia, como pode resultar em vitórias e requer coragem. Especialmente em um mundo que valoriza tanto a ação.
Coisa parecida aconteceu com uma amiga. A poucos dias da festa que vinha planejando para comemorar o aniversário dela, no começo de março, percebeu que o estresse em torno dos preparativos estava ganhando do prazer. O que ela fez? Trocou a celebração com amigos por passagens para uma viagem de última hora, sozinha. Lindo, não?
Apenas paremos!
Das inúmeras frases motivacionais que me irritam, poucas me incomodam tanto quanto a falaciosa e fantasiosa “não sabendo que era impossível, foi lá e fez”. Junto com as tristíssimas “pensar fora da caixa” e “sair da zona de conforto”, essa máxima (ou seria “mínima”?) dos onipresentes “coaches de vida” dão o tom da postura perseguida pela minha turma (que os marqueteiros gostam de classificar como “geração X”). Aquela baboseira de que “nenhum sonho é impossível quando desejamos algo de verdade”.
Aqui faço uma pausa para o necessário revirar de olhos.
Quem já se libertou dessas crenças, sabe o quanto temos a ganhar com a simplificação não apenas das nossas vidas, como das nossas metas pessoais. Por falar em simplificação, até a Marie Kondo, que virou sinônimo de organização e guru de minimalismo com seus métodos radicais, deu um chega pra lá nos rígidos padrões que ela mesma ajudou tanta gente a se impor. Provando que, às vezes, recuar é vida.
Minha sugestão em relação a essa sanha empreendedora e produtiva é seguirmos todos a dica tão divertida da personagem do comediante gaúcho Índio Behn Dra. Rosângela Terapeuta: “Para!” Paremos, pois! Porque, senão, quando a gente vê está apenas “dando um jeito”. E por que simplesmente “dar um jeito” quando se pode apenas dizer não e fazer do melhor jeito?