Desde a sexta-feira, 30 de junho, temos uma nova fruta genuinamente nacional na árvore da política: o cabo eleitoral que duvida… do sistema eleitoral. Condenado à inelegibilidade por desmoralizar o processo de votação e atacar ministros de tribunais superiores em reunião com embaixadores de dezenas de países, dentro do Palácio da Alvorada, com transmissão pela TV estatal, o ex-presidente Jair Bolsonaro é apontado por aliados como o melhor cabo eleitoral para as eleições municipais do ano que vem. Lideranças do PL acreditam que Bolsonaro pode fazer o partido pular das 300 prefeituras que ocupa hoje para 1300 a partir de 2025. Meta ousada, não?
Que discurso fará o ex-presidente para neutralizar as lembranças de todas as vezes em que ele atacou a credibilidade das urnas eletrônicas – sistema pelo qual ele chegou à Presidência da República – incentivou manifestações contra o resultado da eleição e até ofendeu ministros do STF e do TSE? Acreditam os líderes do PL que durante a campanha do ano que vem ninguém vai lembrar, por exemplo, das falas de Bolsonaro no 7 de Setembro de 2021, na avenida Paulista? Quem não lembra “disso daí”, como perguntaria o capitão ex-presidente?
“Dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá (do Palácio do Planalto).” Será que ninguém vai tirar do arquivo pérolas como essa – pra não dizer outra coisa – sobre o processo eleitoral também jogada ao vento pelo ex-presidente no dia da Independência em 21? “Não é uma pessoa que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável, porque não é. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do TSE” bradou o agora cabo eleitoral do PL na festa da Pátria.
No ano que vem, o sistema eleitoral será o mesmo. Convocará Bolsonaro seus correligionários a participar do que ele considera uma farsa, ou negará o que passou quatro anos afirmando e cunhará um novo bordão: “minha gente, esquece o que eu falei táoquei? Isso daí é coisa do passado. Vai lá que a urna é legal, táoquei?” E tem mais… a eleição municipal é preliminar do jogo maior, a sucessão presidencial e estadual. Para Bolsonaro, entretanto, a disputa pelas prefeituras é como decisão de campeonato. Se o PL ficar longe da meta de 1300 vitórias, o cabo eleitoral, que já está fora da disputa presidencial, puxa com ele o time da direita para perto da zona rebaixamento…
E aí, será que o governador Tarcísio de Freitas, o Romeu Zema e a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina apontados como possíveis candidatos a Presidente (não cito a Michelle porque o marido já disse que ela não está preparada para ser candidata) vão querer Bolsonaro no palanque?
Outra coisa a ser avaliada quando se mede a força eleitoral de Bolsonaro são resultados de pesquisas recentes. Passados pouco mais de seis meses da eleição, mais de 40 por cento dos eleitores dele – Bolsonaro – já consideram o governo Lula regular, bom e ótimo… Isso, sem falar nos governadores e prefeitos bolsonaristas até aqui, que dependem da caneta do presidente do Presidente da República para garantir investimentos federais em seus estados e municípios. Será que eles vão continuar bolsonaristas, agora que a bic do ex secou e a do presidente Lula está cheia? Enfim, vamos ver como amadurece essa jabuticaba.