O futebol é pródigo nestas situações. Consegue coisas que o cinema tem dificuldade em criar. Em 28 dias o sujeito é transformado de herói em vilão. Vejam o que aconteceu neste final de semana: Adriel, 22 anos, goleiro titular do Grêmio na temporada e protagonista no título gaúcho, foi barrado do jogo de sábado. Ficou na reserva. Uma surpresa de última hora ao ser anunciada a escalação do time em BH. O Grêmio perdeu para o Cruzeiro, 1 x 0, e justamente o goleiro que entrou no seu lugar foi o melhor do time de Renato. Salvou o Grêmio de uma goleada, tal a superioridade da equipe da casa. E Adriel, digamos, foi o pior em campo!
A direção do Grêmio quebrou protocolos no episódio. Momentos antes da partida, o vice-presidente de futebol foi aos microfones explicar a saída de Adriel do time. Paulo Caleffi disse que uma série de atos de indisciplina levaram à direção a esta decisão. Não é comum no futebol brasileiro que dirigentes assumam publicamente este tipo de situação. Pode estar aí uma mudança de paradigma interessante. A questão é saber se o clube agirá assim com todos ou apenas com meninos. Medalhões também serão fritados publicamente quando cometerem erros?
A atuação do time gremista foi constrangedora. O Cruzeiro dominou completamente o jogo. Não fossem ótimas defesas do goleiro, agora titular, Gabriel Grando, seriam 3 a 0 com naturalidade: 3 x 1 seria o placar mais justo. E a polêmica com Adriel serviu para Renato. Ele usou mais tempo de sua entrevista coletiva para seguir fritando o goleiro do que para explicar o fraco desempenho de seu time em Belo Horizonte. Foi uma cortina de fumaça e tanto para Renato. Criticou o goleiro, atacou seus empresários, e chegou a denunciar que antes havia empresários participando de decisões no Grêmio.
Enquanto os jornalistas iam se lambuzando com Renato detonando o staff de Adriel, respingando inclusive na gestão do ex-presidente Romildo Bolzan, as explicações sobre a derrota não apareciam. E, nós sabemos, isso é o mais importante para a sequência do Grêmio. O time precisa jogar mais. Com ou sem Adriel. O mesmo Adriel fundamental naquela decisão por pênaltis contra o Ypiranga, nas semifinais do Gauchão. Naquele dia, ele salvou o time. Defendeu duas penalidades do adversário e classificou o Grêmio. Foi o herói. Agora, 28 dias depois, está transformado em vilão. Ah, o futebol, às vezes, é mais criativo que o cinema.