Estou eu fazendo uma limpa nos escritos que guardo e me deparo com um artigo – quem sabe uma convocação! – do empresário e publicitário Nizan Guanaes*. Pela data, é de junho de 2017, mas segue muito atual pelas questões que traz. E o título é uma provocação – “É PRECISO SER MUITO MACHO PARA SER GAY NESTE PAÍS”. Vou pontuar algumas questões abordadas por ele no texto porque sintonizam com o que penso e defendo quando falo de preconceito, diversidade, inclusão e respeito. O fato é que evoluímos quase nada em relação às diferenças. A discriminação segue implacável e só vejo aumentar, de todos os jeitos e por todos os lados.
– “O Brasil é, vergonhosamente, campeão mundial de assassinato de homossexuais. Isso não é uma estatística fria, isso é gente ao nosso redor. Meu primo Junior foi cruelmente assassinado. Meu amigo de escola Antônio foi esquartejado. Isso só para citar dois bem próximos. São muitos mais”.
O preconceito não dá trégua.
E a comunidade LGBTQi+ segue sendo perseguida!
– Nizan segue – “Há diversidade nos comerciais e nos programas de TV. Mas ela é uma mentira nas ruas. E uma mentira total no Congresso Nacional, cada vez mais careta, que se intimida diante de uma bancada conservadora bem organizada e abraça a pauta medieval que assola o mundo. Defendo o direito dos conservadores professarem e viverem suas vidas como quiserem, mas esmagarem outras formas de viver não podemos aceitar”.
Para um Congresso ainda careta e hoje nas mãos do Centrão, o caminho lamentável segue sendo o conservadorismo.
No artigo, Nizan cita uma música que fez, na época, para o irmão Joca Guanaes, “Eu Sou Filho do Arco-Íris”, lançada dias antes da Parada Gay de São Paulo com o apoio de rádios conhecidas.
– “A canção, gravada por grandes nomes da MPB como Fafá de Belém, Preta Gil, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Paulo Miklos, Sandy e tantos outros, é o início de uma campanha de mobilização e conscientização que vai durar um ano e culminar na Parada Gay de 2018, ano de eleição presidencial e do Legislativo, cuja causa LGBT precisa influenciar”.
Feito isso, ele passou a dedicar seu tempo livre visitando rádios e outros veículos de comunicação para pedir que tocassem a canção e aderissem à causa em dois aspectos que considerava fundamentais: primeiro, combater e reduzir uma estatística criminal infame por meio de políticas de segurança pública com rigorosa supervisão do Judiciário. Segundo, aumentar a conscientização da população em geral através de debates nos veículos de comunicação e na sociedade em geral sobre uma pauta medieval que crescia à sombra da crise no Congresso Nacional.
A música era o mantra que a Parada Gay deveria tocar todos os anos para que o país soubesse das dores, dos enfrentamentos e dos sonhos da imensa comunidade LGBTQi+. Ao tomar contato com esta realidade, a população poderia influenciar as políticas públicas.
– “A história da minha vida é abraçar causas. É genético. Meu avô era do ‘partidão’, minha mãe era militante de esquerda. Meu papel no mundo é ajudar causas a causarem”.
E foi como embaixador global da Unesco que Nizan subiu no púlpito que a Folha de São Paulo lhe concedeu e perguntou:
– “Governador Geraldo Alckmin, prefeito João Doria, o que a locomotiva São Paulo pode fazer para reverter esses índices absurdos de violência? Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, você que é carioca, filho de uma cidade que é a diversidade em pessoa, mas que teve sua Parada Gay cancelada, o que pode fazer para aplacar a pauta medieval no Congresso? Direita e esquerda, a Aids e o crime voltaram a crescer por falta de campanhas públicas, matando gays coxinhas e gays mortadelas. Por isso estou aqui apelando para que os veículos de comunicação mudem o rumo dessa prosa”.
Citou mídias como Facebook, Google e Twitter, segundo ele “fundamentais para dar um basta nas estatísticas infames que afrontam um país moderno apenas no comercial da TV. Vocês têm o poder de pautar a discussão na sociedade, de chamar o Congresso à reflexão, de atrair a atenção do Legislativo e do Judiciário. Publishers, presidentes-executivos, chefes de redação, editores, redatores, repórteres, está na hora de arregaçarmos as mangas e sermos todos gays. E, podem acreditar, é preciso ser muito macho para ser gay neste país”.
As perguntas seguem sendo as mesmas hoje. E as respostas?
*Colunista do jornal Valor Econômico, Nizan já foi colunista da Folha de São Paulo. Em 2021, recebeu a comenda nacional Ordem do Rio Branco pelos serviços prestados ao país nas áreas empresarial e social. Lançou em 2022, em parceria com o psiquiatra Arthur Guerra, “Você Aguenta Ser Feliz?” (Editora Sextante), livro que fala da importância da saúde mental e física para o nosso bem estar e que entrou para a lista dos mais vendidos no Brasil.
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Foto da Capa: Reprodução do Instagram