Meu nome teve seu pico no início dos anos 70 (eu sou de 1967, quando já estava em ascensão) o que explica o fato de muitos dos xarás que conheço serem meus contemporâneos. Somos ao todo 468 mil Márcios numa população de mais 200 milhões. A maioria está em São Paulo (o que me parece óbvio, com pouco mais de 117 mil), seguido por Minas Gerais (54 mil) e pelo Rio de Janeiro (com pouco mais de 50 mil, mas ocupando, proporcionalmente, o primeiro lugar). No Rio Grande do Sul, onde nasci, estamos em quarto lugar. Aqui somos 31 mil Márcios. Uma miséria. Não lotamos um Beira-Rio, nem sequer elegemos um deputado. Fracasso maior só em Roraima (pouco mais de 800). Hoje não pego nem a Série B dos nomes.
O Portal da Transparência do Registro Civil publicou semana passada o ranking de 2022. Nele, nós, Márcios, nem somos lembrados e, por isso mesmo, perdemos de goleada para nomes ressuscitados – o mais em evidência é Miguel, seguido de Arthur e por um surpreendente Heitor – e para modismos, como Gael, Theo e Ravi, ou os neoitalianos Enzo, Pietro e Lorenzo.
Márcio pode não ser algo que esteja na moda, mas me dá tudo que eu espero de um nome. Em primeiro lugar, tem origem. Vem do Latim, Marcius, dedicado a Marte, e significa “guerreiro”. Tem ainda um tamanho exato, nem curto demais como Ruy, Ney, Gil, nem excessivamente longo como os polissílabos Reginaldo, Adamastor, Casemiro e Ludovico. Márcio também é um nome que se basta, não precisa vir acompanhado de João, Paulo, José ou Luiz. E mais: não tem tradução. Márcio é assim em qualquer lugar do mundo
Meus pais nunca souberam me explicar ao certo a escolha por tão original nome. Não homenageava nenhum familiar, nem fazia referência a nenhum personagem histórico. Aliás, nesse critério, os Márcios são fracos. Nunca tivemos um papa, um príncipe, um chefe militar (que o próprio nome poderia inspirar) ou mesmo governador ou presidente. No futebol, pffff. Me lembro de três, que ficaram mais famosos pelos apelidos (Tigrão, Mossoró e Mexerica). Até as novelas da Globo, tão pródigas em invenções, deram origem a poucos Márcios. Dos que me lembro, houve um interpretado por Stepan Nercessian, outro por Carlos Alberto Ricelli e, o mais famoso, o Márcio Hayalla, de Tony Ramos. Famosos, então, cabem numa Kombi. Um ex-presidente do Flamengo (o Braga), um ex-cantor brega (o Greyck – foto da capa), um escritor amazonense (o Souza) e um combativo deputado, estopim do AI-5 (o Moreira Alves).
A lamentar apenas a um trauma que me acompanha desde a infância: Márcio não rende nenhum apelido. Não é como Ricardo, Eduardo, Alexandre e Roberto que dão origens a centenas de Ric, Cado, Dado, Edu, Duca, Xande, Ale, Beto e Bebeto. No meu caso, o único apelido que tive na vida foi Marcito, um raro caso em que o apelido é maior do que o nome. Até nisso Márcio é original.
Foto da Capa: Márcio Greick – Reprodução