Não há como negar que as agressões disfarçadas – ou não – são cotidianas
No universo das diferenças, sejam elas quais forem, é preciso ser forte. Por isso, volto a escrever sobre questões que dizem muito da minha vida – perceber, entender, incluir e promover a acessibilidade. Quero dizer que são atitudes que precisam estar presentes no nosso dia a dia. Mas o que percebo hoje é uma necessidade de “normalização”, que mais segrega do que acolhe. Uma cruel inversão de valores, porque não é a pessoa com deficiência que deve “normalizar-se” ou “superar-se” para a sua integração social. Tenho a sensação de que o mundo endureceu, ficou mais violento e o respeito pelas pessoas que têm uma deficiência, seja ela qual for, foi abandonado, assim como o respeito pela comunidade LGBTQi+, pelos negros, pela condição social e por aí vamos. A busca por aceitação enfrenta a banalidade dos comentários, quase sempre embalados pela discriminação. E a pergunta que insiste é: o que a sociedade, que é feita de gente múltipla, entende por diversidade? O que precisa mudar para atender às necessidades de uma população diversa? Esperam que nós, os estranhos neste ninho, tenhamos força para ultrapassar as barreiras que se erguem cotidianamente?
Entendo que é uma questão que deveria ser assumida coletivamente, em todas as esferas públicas, em parceria com governos, comunidades, escolas, empresas. Mas o caminho que vejo não vai nessa direção. Não se importam com leis e minimizam conquistas importantes no campo da inclusão. Mergulhamos em uma sociedade que não parece interessada em possibilitar que as pessoas exerçam seus direitos e deveres com autonomia, em condições de igualdade.
Nós, os chamados deficientes, temos limites, sim. E a sociedade nos violenta ao ignorá-los e falar exaustivamente em “superação”, uma espécie de passaporte para que sejamos aceitos e uma forma, é claro, de subestimar as nossas potencialidades. Uma sociedade capacitista é violenta quando nos faz acreditar que nossos corpos, nossas mentes, nosso desenvolvimento físico e intelectual e nossas opções de vida, por não corresponderem ao script construído como padrão, não são normais. Resumindo: Nossa existência não é tão legítima como as demais porque nosso modo de estar no mundo não é natural. Viver sob o prisma da “superação” é submeter-se a uma contínua exigência que ignora a nossa essência e a nossa humanidade – porque somos humanos, sim!
Não podemos nos violar, nem física nem emocionalmente, na busca de uma perfeição que não existe.
Falar, ensinar, aprender, dialogar, dividir saberes e experiências são compromissos que não podem ficar para amanhã. Precisamos alertar e sensibilizar a sociedade para as limitações e reivindicar direitos e políticas públicas que priorizem a inclusão e a acessibilidade, porque é um dever de cada cidadão. Cabe às famílias e aos mestres educar para a diversidade. Uma educação voltada para as diferenças, no sentido de acolher, deveria ser um compromisso dos governos, das empresas, das famílias, das escolas, dos educadores, da comunidade. Precisamos refletir sobre o que nos leva a penalizar aqueles que consideramos inferiores. E aí me encontro com uma pergunta instigante do ator, diretor, apresentador, escritor e ativista Lázaro Ramos no livro que ele recém-lançou e que comecei a ler, “Na Nossa Pele – continuando a conversa” (Editora Objetiva, 2025): “Como silenciar quando o mundo insiste em ser bárbaro?”
Sei que vou encontrar caminhos, respostas, outras perguntas nesta conversa que Lázaro propõe porque acredito que ver o outro com sensibilidade é transformador.
Todos os textos de Lelei Teixeira estão AQUI.
Foto da Capa: Divulgação