“Não tenho medo da palavra velha. Não me chamem de idosa. Palavra feia. Velha eu acho linda. Estou com muita energia, muito bem, muito disposta…e velha!” (Marieta Severo)
“Idosa é uma pessoa que tem muita idade. Velha é a pessoa que perdeu a jovialidade. A idade causa a degenerescência das células. A velhice causa a degenerescência do espírito. Por isso nem todo idoso é velho e há velho que ainda nem chegou a ser idoso.” (Autor Desconhecido)
E você? Como você sente a esse respeito?
Na convivência no coletivo POA Inquieta (aliás, não deixe de ler até o final para saber do Congresso de Educação para Cidadania) é diário o exercício da compreensão de que o que é bom para mim nem sempre significa que é bom para o outro. E um exemplo disso é o uso da nossa língua, algo vivo e que reflete as transformações culturais que vivemos. Como minha atuação é na área da Comunicação e Marketing com foco na longevidade, entendo a confusão que meus colegas enfrentam ao tentar se referir ou se conectar com o público sênior. Afinal, parece que nem o próprio público se entende, né mesmo?
Com o crescimento da população idosa, será cada vez mais importante que a gente se familiarize sobre como se dirigir a ela. Sua importância na economia já é relevante e será cada vez maior, pois o Brasil é um país com um futuro cada vez mais velho. Muitos termos para chamar as pessoas desse segmento da população já existiam e outros começaram a pipocar no mercado: idoso, pessoa idosa, 60mais, 50mais, prateado, maduro, grisalho, meia idade, ageless, perennial, melhor idade, maior idade, terceira idade, aposentado, inativo, sênior etc. E, afinal, há uma terminologia correta ou não?
É importante salientar que nas terminologias acima citadas, algumas – definitivamente – não deveriam ser utilizadas, mesmo que amplamente aceitas (por enquanto) pela sociedade. Quais? Por quê? Vamos a elas!
- Maduro – Assim como nem toda pessoa mais velha é uma pessoa madura (quantos homens e mulheres com 60 anos ou mais você conhece que ainda precisam amadurecer, hein?), também existem muitos jovens maduros. Maturidade não requer idade, certo? Por isso, essa forma embute um preconceito etário.
- Maior Idade – Quem envelhece cresce? Ao contrário, né? Então não precisa utilizar, combinado?
- Meia Idade – A cada ano a “metade da idade” está se movendo para mais além. Estudos mostram que já nasceu a geração dos que viverão até 100 anos ou mais. Qual é a meia idade num momento do mundo em que convivem nove gerações simultaneamente?
- Melhor Idade – Para quem? É unânime em qualquer pesquisa realizada junto a população idosa que essa forma é totalmente inadequada, pois traz embutida uma ideia fantasiosa da velhice.
- Inativo – No geral este termo está fortemente conectado ao público aposentado. Por favor, lembre: capacidade não se aposenta! E pessoas aposentadas estão nas ruas (ou online) consumindo, contribuindo com impostos, trabalhando e/ou cuidando de netos para outros trabalhadores e/ou realizando trabalhos voluntários (o Brasil é um dos países com o maior número de voluntários no mundo e grande parte é aposentada). E, mesmo que não esteja realizando nenhuma das atividades acima citadas e que a pessoa tenha resolvido ficar “só cuidando da casa”, isso não é justificativa para chamar de inativa quem merecidamente se aposentou após mais de 30 anos de trabalho, certo?
Importante: Sempre que possível prefira utilizar a expressão “pessoa/s idosa/s” em vez de “idoso/s”, pois é mais inclusiva e abarca todas as diversidades de gênero e identidades sexuais. Inclusive, nesse sentido, desde julho deste ano o Estatuto do Idoso passou a substituir em toda a Lei, as expressões “idoso” e “idosos” pelas expressões “pessoa idosa” e “pessoas idosas”, respectivamente.
Na minha humilde forma de encarar esse espinhoso tema, mas propositiva e colaborativa, há que se considerar alguns aspectos ao se definir por qual dessas terminologias (ou outras) utilizar. São eles:
- Idadismo – analisar em que medida a palavra escolhida reforça o preconceito etário, ou seja, utiliza a idade como fator de discriminação, humilhação e divisão, em vez de abraçar a diversidade e a inclusão.
- Gerontologia – verificar se a terminologia está adequada frente a área de conhecimento que atua no estudo da evolução do envelhecimento humano.
- Público – avaliar com relação a identificação do público com o termo proposto, a partir das características da “persona” com quem se quer estabelecer a conversa. As velhices são diversas. A mulher de 70 anos, branca, cis, hétero, agnóstica, que mora num bairro classe média alta, com pós-graduação completo e profissional liberal tem um perfil diferente do homem de 60 anos, negro, cis, hétero, evangélico, com deficiência, ensino médio incompleto, que trabalha para complementar sua aposentadoria e que mora num bairro de periferia. E as diversidades não param por aqui…vão bem além.
Esses três elementos, em diferentes medidas de acordo com cada caso, penso que precisam estar presentes nessa escolha.
A busca pelo reconhecimento da diversidade e inclusão etária ainda é um terreno onde temos muito o que aprender. Dele fazem farte a superação do idadismo, pois conforme dados do Relatório Mundial da Organização Mundial da Saúde, uma em cada duas pessoas precisa lidar com seu próprio etarismo, o que acaba influenciando as relações interpessoais e as relações institucionais na sociedade. Assim, esse movimento é inicial no mundo e especialmente no Brasil, e é normal a gente dar tropeços nesse princípio, mas seguir progredindo é o objetivo. E por falar nisso, como comecei este texto com duas citações, termino com outras duas que me inspiram, muito!
“Saiba que você tem a idade perfeita. Cada ano é especial e precioso, pois você só viverá uma vez. Esteja confortável com o envelhecimento.” (Louise Hay)
“O envelhecimento é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que sempre deveria ter sido.” (David Bowie)
Congresso de Educação para Cidadania começa nesta sexta, dia 26**
O coletivo POA Inquieta tem aprendido muito na construção do 1º Congresso de Educação Popular para Cidadania. A cada encontro, seja virtual ou presencial, o grupo troca e se enriquece com a diversidade de participantes. A iniciativa, que é realizada junto com o coletivo Ponta Cidadania, envolve pessoas de várias faixas etárias, de bairros da periferia e da zona mais central.
Qualquer pessoa pode participar do evento, que tem inscrição gratuita. A ideia é promover reflexões, escutas e estimular uma rede de cooperação para consolidação de uma (trans)formação cidadã. Os eixos temáticos do evento serão Educação Social, Inclusão Social, Educação Ambiental e Empreendedorismo Social. As atividades serão realizadas na Vila Planetário (dia 26), Vila Bom Jesus (dia 27) e Vila Morro da Cruz (dia 28). A programação completa e o link para inscrições estão disponíveis no site www.congressopopulareducacao.com.br
Participe, você vai conhecer muita gente incrível que faz Porto Alegre acontecer.
*Karen Garcia de Farias é articuladora do POA Inquieta, Graduada em Comunicação Social. **Colaborou Sílvia Marcuzzo