Meus últimos dias foram intensos. Cheios, repletos de estímulos. E aí, qual é o meu lugar nesse turbilhão de acontecimentos? Convido você a pensar comigo sobre o nosso lugar, nossas escolhas. No mundo, na família, na sociedade. Talvez para muitos seja um questionamento bobo, invisível ou mesmo inexorável. Cada um tem o direito e o dever de escolher como se posicionar, ser o que quiser, comprar o que desejar. Será?
Provoco essa reflexão porque vivenciei distintas situações, de caminhada pelo setembro amarelo, promovida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT10), até momentos de deleite em exposições e restaurantes, onde pessoas tiveram a oportunidade de escolher entre isso ou aquilo. Em Brasília, tive pouco tempo e fui obrigada a eleger prioridades. Até hoje lembro de um poema, da minha infância, Ou isso ou aquilo, de Cecília Meirelles. Como é curtinho, replico aqui:
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Ora, será mesmo que só temos apenas duas opções? Ou melhor, quanto mais ficamos sabendo dos contextos, dos emaranhados que envolvem as coisas, seria coerente ficar no oito ou 80?
Nesses primeiros dias de setembro de 2022, estive em Brasília, sentindo a energia, vivendo as nuances de uma cidade que aprecio por vários motivos, mas que me intriga por muitos outros. Acho que todo gaúcho deveria morar um tempo fora do Estado para se dar por conta do quanto podemos e devemos aprender com os demais brasileiros. É claro que há vários problemas, aliás, não existe lugar perfeito, mas lá pulsa uma mistura de gente de vários cantos do mundo e do Brasil, em meio à natureza exuberante do Cerrado. Lá senti na pele a secura, 10% de umidade do ar, o efeito das queimadas, que pincelou o horizonte de uma cor estranha. A propósito, enquanto estava lá, também vieram parar em Porto Alegre, na região Sul, cinzas das queimadas.
Como comecei a falar das nossas opções, escolhas, estou provocando em mim e em você, o que faz escolhermos entre isso e aquilo. Porque para escolher, é preciso avaliar um, dois, três, os vários lados de uma situação. E, quanto maior o nosso repertório, mais podemos perceber que há sutilezas e circunstâncias que podem nos empurrar mais devagar ou mais rápido para o precipício. Ou será que o prazer de cair das alturas é maior do que pensar no encontro brusco do corpo com o chão? Quais opções nós temos para não sermos impactados pelas queimadas?
Mesmo inconscientemente, escolhemos se cavamos nossa cova com colherinha de chá ou com retroescavadeira. Nesse cenário de pá ou colher em punho, podemos comparar com o isso ou aquilo. Depois de tanto ouvir, ler, constatar e conversar com pesquisadores, cientistas, comunidades de vários matizes entendo que estamos no mesmo navio, digo planeta. Só que, é claro, há várias categorias, uns estão na proa, outros na janela, outros no porão. Mas todos irão ou já estão sentindo os efeitos das mudanças climáticas.
Sente o clima
No dia 14 de setembro, foi realizado o Seminário do Instituto Todavida, obrigado a ser adiado por dois anos devido à pandemia. A 12ª edição do evento, que tradicionalmente acontece todos os anos no Auditório Dante Barone, da Assembleia Legislativa, teve como tema Crise Climática, como combatê-la? Com uma programação diversificada, a iniciativa oportunizou que protagonistas do nosso tempo mostrassem de que lado da história do Antropoceno escolheram estar.
Na mesa que mediei, duas integrantes do movimento Fridays for Future/Greve pelo Clima e Eco pelo Clima, Amália Garcês e Adriani Maffioletti, deram o recado do quanto há jovens preocupados com a elevação da temperatura do planeta. As seguidoras da Greta Thunberg defendem uma educação climática, maneiras de explicar na escola o quanto vivemos uma emergência civilizatória e que todas nossas escolhas geram impactos.
Elas participaram inclusive da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, no ano passado. E devido a mobilização da juventude, o próprio secretário geral da ONU, Antonio Guterrez, criou um conselho formado por sete jovens para assessorá-lo. A Paloma Costa, única brasileira que integra o grupo, me contou, em Brasília, que há espaços dentro da Conferência que a juventude tem voz. No entanto, um grande desafio para os brasileiros é a língua, já que o português não é uma das línguas oficiais da ONU.
Acredito que temos muito a aprender com a juventude. E uma das falas da Paloma (quem quiser ver a entrevista dela, confira no @silmarcuzzo no Instagram) reforçou a necessidade de termos mais acesso à informação de qualidade, de se ter mais transparência nas organizações, de se aumentar a produção acadêmica, as pesquisas com relação à crise climática e de se ter instâncias de participação para debater o assunto.
Por tudo isso e muito mais, escolha bem em quem votar nas próximas eleições. Seu candidato tem ideias ou vontade de adiar o fim do mundo (só pra lembrar o Ailton Krenak)? Não é só uma questão de isso ou aquilo, é a vida, a extinção de espécies, prejuízos incalculáveis com eventos extremos entre outros impactos que estão em jogo. E nesse tabuleiro, você pode escolher cavar com pá ou retroescavadeira o leito de morte da sua e de outras gerações.