Em novembro do ano passado, concluí a pós-graduação em Ciências Humanas pela PUCRS. Desde o início do curso, em setembro de 2023, dois temas se sobressaíam na pesquisa para o TCC (trabalho de conclusão de curso), ambos no âmbito da nossa responsabilidade enquanto seres vivos de um lugar rico e lindo como a Terra, que está sendo exaurido. A opção principal era desenvolver a reflexão sobre como nos relacionamos com o planeta através do nosso corpo e da interação com todos os corpos, terrenos e cósmicos. Na fase de organização da pesquisa, já bem adiantada, final de abril de 2024, começaram as chuvas em Porto Alegre e em todo o Rio Grande do Sul. Logo veio a enchente. Depois de 15 dias com nosso Estado submerso nas águas, nosso sofrimento atroz – indescritível, por mais que se tente – misturado à perplexidade e à indignação com essa tragédia, que é o retrato do abuso e da negligência, se sobressaiu a certeza sobre o tema do corpo. E também o ponto de conexão com o propósito do astrofísico e professor da disciplina A História do Universo, Marcelo Gleiser. No avanço da pesquisa e da escrita, revendo várias disciplinas, foi se confirmando, mais e mais, como todo o conteúdo da pós-graduação se relacionava profundamente com o tema do corpo. O referencial teórico envolveu também outros pensadores, vivos e mortos, com os quais o diálogo é sempre muito importante em processos de escrita. E mais entrevistas para o TCC e outras realizadas ao longo de minha carreira de 40 anos como jornalista, apreciação de obras de arte, documentários, filmes e observação da natureza.
Meu TCC tem como título Nosso corpo, o universo e recebi nota 9,1. A partir de hoje, publicarei este estudo em capítulos aqui na Sler, me unindo a tantos que buscam a responsabilidade com o nosso planeta.
INTRODUÇÃO
Seres como nós, humanos, não existem em qualquer outro lugar ou dimensão, dadas as condições em que o planeta e a vida evoluíram por aqui, sendo a Terra um lugar muito especial, raro. Esta é a única certeza que diz ter o astrofísico Marcelo Gleiser – verdadeiros cientistas não gostam de certezas. Há décadas, ele estuda e acompanha investigações astrofísicas, englobando vida extraterrestre, e argumenta que para salvarmos nosso projeto de civilização e mesmo a espécie, precisamos reinventar nossa relação com o planeta. [1]
A base de estudo deste TCC é o corpo humano e sua interação com todos os corpos terrenos e cósmicos, conhecidos e desconhecidos, visíveis e invisíveis. Há uma relação direta entre a consciência do nosso corpo – em toda a sua complexidade e grandiosidade – e a nossa responsabilidade com a Terra. Dentro dessa perspectiva, é feita também uma reflexão sobre a Ilha do Conhecimento: iniciativa (r)evolucionária de Gleiser e sua esposa Kari Gleiser, psicóloga experiencial, onde, em outubro de 2024, começaram a promover retiros para o florescimento humano, na Toscana, Itália. “Experiências de limiar profundamente imersivas são portas de entrada para uma construção significativa de sentido.” (Gleiser, 2024) Vamos ver como o corpo abre esta porta através da força eletromagnética do coração, superior à do cérebro, conforme estudos científicos.
Na consciência sobre o corpo humano – sua complexidade e grandiosidade e interação com outros corpos terrenos e cósmicos, visíveis e invisíveis, conhecidos e desconhecidos – despertamos para o mistério e milagre que nos habita, em relação direta com a Terra e o universo. Repudiamos, assim, um estilo de vida consumista, destrutivo. Não somos “consumidores”. Somos filhos das estrelas.
[1] GLEISER, Marcelo. O despertar do universo consciente. Um manifesto para o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Record, 2024. Marcelo Gleiser tem sua vida profundamente identificada com a busca por significado. A física tem sido seu passaporte para essa relação, um veículo de transcendência pessoal. Em toda a extensão de sua obra, ele promove uma consciência do que somos e do lugar que habitamos. Este seu último livro, lançado no Brasil em março de 2024, faz um chamado para salvarmos o planeta.
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Foto da Capa: Gerada por IA