Que linha linda! Nem lembrava que tinha em casa. Vou fazer um tapete. Hum, não gostei da textura deste ponto com a agulha 6. Ficou frouxo demais. Quem sabe se eu juntar com esta outra linha, mais clara? Agora, sim. Vou fazer um tapetinho pro banheiro. Ah, esqueci que estava quase acabando aquele outro de fio reciclado. Acho que vou voltar a ele antes deste ganhar corpo. Tá aqui! Ai, olha este cachecol que eu comecei no final do inverno. Será que consigo terminar antes do frio chegar? Hoje não consigo nem pensar nele. Imagina trabalhar com esse fio de lã com sensação térmica de 30 graus? Não vai ter ar que dê conta. O que eu vim fazer aqui mesmo? Ah, o tapete que estava quase pronto. Que agulha mesmo que eu tava usando com ele? 5 ou 6 mm? Vou tentar com a 6. Tá igual? Acho que tá igual. Bem que a Kelly sempre me disse pra anotar as especificidades do projeto depois de começado. Quase 50 anos nas costas, e eu ainda não aprendi que não posso confiar na memória pra certos tipos de coisa. Tá uma graça esse tapete. Vai ficar lindo no lavabo. Se bem que faz tempo que estou devendo uma peça pra Carol. Taí. Vou terminar e dar pra ela de aniversário atrasado. Ou adiantado, enfim. Aliás, nunca mais peguei naquela capa de pufe que comecei a fazer pra Tati. Será que ela ainda tem o pufe? A essa altura, deve ter até mudado as cores da decoração da sala e a capa cinza ia ficar destoando. Podia também fazer uma almofada, pra acompanhar. Com a parte de trás em um daqueles tecidos de algodão rústicos que comprei antes do começo da pandemia. Aliás, já sei. Antes de acabar o tapete, vou finalizar aquele vestido que comecei no ano passado de última hora. Falta só o viés da gola. Que vergonha. Bem que o vô Ibsen brincava que me via fazendo muitas e muitas coisas e terminando quase nada. O que não é exatamente verdade. De vez em quando eu termino alguma coisa, e é uma delícia, mas o bom mesmo são os planos. E a execução, claro. Nhoin, tinha esquecido desse tecido colorido que comprei pra fazer vestido pra Lina. Será que ela ainda vai curtir, se eu fizer? Mas agora vai ter que ser uma batinha ou uma blusa. Ela cresceu tanto que nem Mary Quant faria um vestido com ele. Se for o caso, faço um de tricô bem larguinho com aquele fio de algodão que comprei na Casa Hermosa em… 2019! Vai ficar lindo. Jesus, eu tinha prometido pra Paula que ia fazer a peça e postar nas redes sociais. Ou quem sabe uma saia para usar com uma camiseta básica com bordados nas mesmas cores. Eu preciso usar aquelas linhas de bordado que comprei da China. Como explica aquele preço por aquele material? Provavelmente o fato de que levaram 10 meses pra chegar. Vou dar uma olhada nos livros pra ver se me inspiro. Ah, e tem aqueles que baixei no Kindle. O que foi mesmo que eu vim fazer aqui? Sim! O tapete que eu vou terminar pra dar pra Carol. Ou quem sabe pra Cláudia? A Vicky não faz sentido, ela faz coisas mais lindas do que eu. Tá bem bonito. Se bem que… acho que vai ficar mais bonito redondo. Vou desmanchar e começar de novo.
Novelo de pensamentos
Como nascem as peças têxteis que, de vez em quando, eu finalizo
Cássia Zanon é tradutora e jornalista, com mais de 100 traduções publicadas, incluindo autores como Kurt Vonnegut, Herman Melville, Daniel Goleman e Woody Allen. Depois de começar a carreira na RBS TV e no jornal Zero Hora, em 2000 migrou para a Internet, trabalhando como editora e gerente de projetos no Terra e no clicRBS. Em 2012, virou mãe e assumiu as traduções como atividade profissional principal. Pesquisa e escreve sobre criação de filhos, etarismo, relações humanas e o que lhe provoque curiosidade. Além de textos, tece com fios, linhas, tecidos e agulhas.
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