Eu não quero perder 90% dos meus amigos, nem nenhum dos meus leitores, mas mesmo assim, tenho uma revelação: não acredito em signos! Nem horóscopo, nem ascendente, descendente, transcendente, mapa astral ou que qualquer planeta desalinhado na data e hora do meu nascimento interfira na minha vida ou personalidade. Nem acho que as estrelas sabem escrever, como diz a Tetê Espíndola. Muito menos fico imaginando se o seu signo tem a ver com o meu Cláudio Zoli. Aposto que já tem gente pensando: ela só pode ser de….. (insira aqui um signo cético e pragmático).
Eu cresci convivendo com uma parente que não saía de casa sem ouvir o horóscopo do dia na rádio, com Omar Cardoso e Zora Yonara (xovens, google neles, vale a pena). As previsões do dia eram anunciadas aos poucos, 3 signos a cada intervalo, o que garantia 1 hora de audiência. O diretor de programação da rádio era esperto, deixando as pessoas na maior expectativa aguardando para saber do seu destino, e provavelmente era de… (insira aqui um signo visionário, frio e calculista). Depois de ouvir a previsão do dia para todos os signos, a prima fazia os planos, conjecturas, decidia com quem ia sair ou o que ia fazer. O divertido é que sempre alguma coisa que aquela pessoa lá do outro lado do aparelho dizia, era exatamente o que ela esperava ouvir e encaixava com o que ela já queria fazer, mas ela usava aquilo como o seu GPS da vida. Sim, ela era de… (insira aqui um signo inseguro e crédulo).
Mesmo criança, eu assistia aquilo e achava muito engraçado, pensava, será que horóscopo é tipo roupa, tem tamanho único para cada signo? Mais desconfiada ainda fiquei quando descobri que minha tia, que é calma e um doce de pessoa, era do mesmo signo que eu (que sou beeeem intensa e agridoce). Já sei, vai me falar que depende de outros fatores cósmicos que eu, uma leiga, não vou entender e que o tal do ascendente toma conta do nosso corpo sem pedir licença depois dos 30 anos de idade (imagine meus olhos se revirando aqui).
Fui crescendo sem ouvir, ler nem me importar com horóscopo, mesmo ganhando de presente um mapa astral como se fosse um bem precioso, e tendo uma mãe super ávida por novidades esotéricas. Vocês já sabem, minha mãe guerreira, moderna e mística, só pode ser de… (qual signo você vai inserir aqui?). O fato é que minha mãe nasceu no meio da guerra, na Rússia, e foi registrada tempos depois. Como ninguém sabia a data, chutaram um 1 de janeiro pra ela e 25 de dezembro pro meu tio, datas bem simbólicas e práticas, pra não esquecer. Ela passou a vida achando que era de tal signo, e já nos cinquenta anos de idade, uma tia-avó revelou uma provável nova data de nascimento dela. Foi o bastante para fazer um rebuliço na família anunciando uma nova data pra comemorar o aniversário seguido de ‘eu sempre soube que não era de tal signo, mas do outro tal’. Desconfio que minha mãe queria era ter uma festa de aniversário sem ser no Ano Novo.
Sei que aquele horóscopo da rádio da minha infância talvez não exista mais, mas também sei que ele evoluiu: agora está por toda internet, podendo inclusive comprar ou fazer seu mapa astral online, já que você vai precisar dele para sua próxima entrevista de emprego ou na escolha do destino da sua relação amorosa ou tomar outra decisão importante qualquer.
Agora que já criei bastante confusão e deixei todo mundo pronto pra defender a astrologia e o seu signo, vou chegar ao ponto. Eu convivo e gosto muito, mas muito mesmo, de pessoas que acreditam nisso tudo. Tenho uma grande e querida amiga que acredita em fadas, duendes e até constrói casinhas para elas no seu jardim. Outras pessoas da minha convivência bem próxima são aficionadas por signos e afins (já sei, é diferente, horóscopo, signo, astrologia e vão me dizer que tem picaretas em todas as áreas). Eu, no entanto, acho tudo uma grande besteira e já esnobei um cara que no primeiro encontro que queria saber o meu signo, ascendente e tudo isso.
Eu adoro ciência, astronomia e o Carl Sagan. Adoro os estudos que comprovam que as previsões do seu signo tem a mesma chance de acerto do acaso. Adoro os astrônomos que dizem que os signos que guiam o seu horóscopo, não estão mais na posição atual das constelações. Mas isso não importa, pois o universo não tem limites para a crença no que se quer acreditar.
Como tudo na vida tem um mas, eu adoro o fato das pessoas se divertirem com suas fantasias, planetas comportamentais e psicólogos imaginários. Mas acho perigoso quando isso serve de desculpa para comportamentos tóxicos, arma para preconceito com pessoas que tem atitudes e pensamentos diferentes do seu, e pra mim, o mais perigoso de todos, ser o guia para tomada de decisões. Não pelo que a pessoa segue fazendo, supostamente definido pelo signo, mas por não assumir a responsabilidade por seus atos ou decisões.
Assim como eu não quero que minha aparência, gênero e etnia me definam, não acho justo que um signo tente definir a mim ou a você ou qualquer outra pessoa. Enquanto for um entretenimento, mesmo que seja um que eu não goste, acho justo e vou continuar ouvindo e dando risadas das histórias e conjecturas que as pessoas fazem com seu signo e as imaginárias consequências dele e suas combinações.
Agora me desculpem, tenho que ir porque o Mercúrio retrogrado não vai facilitar pra mim, que sou de Áries e sofro bullying dos demais signos o tempo todo.
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Foto da Capa: Freepik