No sábado, quando o Brasil ficou sabendo que Pablo Marçal, para lá de todos os defeitos (escreva aqui os que você lembrar) escancarados durante a campanha eleitoral paulistana, tem, também, a mancha de falsário no currículo, fiquei a pensar que adjetivo poderia qualificar uma pessoa que age como ele.
E apareceu aldrabão. Alguns dicionários tratam aldrabão como substantivo, outros como adjetivo. Use o termo da maneira que mais lhe convenha, substantivo ou adjetivo. No final, a definição resulta no que me parece um retrato acabado do coach que pretendeu ser prefeito de São Paulo:
O aldrabão é um mentiroso, um trapaceiro. O aldrabão mente, faz cara de quem está mentindo, mas imagina que suas palavras soam verdadeiras para quem as ouve, ou lê…
E olha só: dei uma parada para olhar os portais de notícias e descubro outra qualificação para o Marçal: pusilânime. É… o ex-coach está fugindo da responsabilidade. Diz que não tem nada a ver com o falso laudo que encaminharia o candidato Guilherme Boulos – acometido de crise psicótica – a uma clínica psiquiátrica. Segundo Marçal, um advogado dele recebeu o documento falso, que foi publicado. Perguntado se tinha conferido a veracidade do papel, escapou, de novo: quem recebeu conferiu…
Aliás, ele não fez outra coisa desde o começo da campanha: provoca, provoca e, diante da reação dos provocados, se faz de vítima, de perseguido. Mas, agora, parece que o tiro ricocheteou e lhe veio ao próprio pé. Até companheiros de partidos – de acordo com notícia no portal Metrópoles – já desconfiam que Marçal nunca pretendeu ser prefeito de São Paulo.
O que ele quer, mesmo, é ter cada vez mais seguidores nas redes sociais e assim seguir ganhando dinheiro. Há quem suponha até que o coach faz tudo para ter a candidatura cassada e se dizer vítima dos poderosos…
Veja, eu escrevo sem saber o que brotou das urnas no primeiro turno da eleição e uso o verbo no passado. Digo que o tal aldrabão pretendeu ser prefeito de São Paulo. É que eu acredito na soberania popular e na capacidade de discernimento dos eleitores. Não é possível que Marçal – mesmo flagrado como falsário – tenha sido levado ao segundo turno por vontade do povo, que ele tenha – contrariando o ditado – enganado tanta gente por tanto tempo.
Então, arrisco dizer que Pablo Marçal não está no segundo turno da eleição na maior cidade da América Latina. E que teve bem menos votos do que apontavam as pesquisas. Só não arrisco palpite sobre o resultado das ações movidas contra ele, Marçal. Uma delas, da filha do médico que teve a assinatura falsificada no falso laudo.
Suponhamos que eu tenha acertado no meu palpite e que Pablo Marçal esteja fora do segundo turno da eleição paulistana. Estamos livres dele? Nada disso. Marçal vai continuar por aí. Ele mesmo e os filhotes que ele vai gerar semeando desinformação e charlatanices nas nossas desregulamentadas redes sociais.
A vacina contra essa contaminação da política por gente que se diz antissistema e se beneficia do que há de pior no sistema está com os partidos políticos. Veja, o Pablo Marçal, durante toda a campanha, só fez desmoralizar os partidos. A começar pelo dele. Pablo diz que só está filiado porque precisa de uma legenda para disputar a eleição.
A campanha municipal deste ano, particularmente na capital paulista, mostra como é urgente que nossos partidos – os sérios, claro, não esses ajuntamentos de letrinhas, como o PRTB, a serviço de interesses pessoais – comecem a ir onde o povo está o tempo todo e não só em épocas de campanha. As lideranças precisam se convencer de que sem comunicação não dá!
A marquetagem eleitoral – competente, diga-se, desde a eleição de 1989 –, passada a campanha, precisa virar trabalho permanente de gestão de marca (legenda) e reputação. O Brasil é pródigo em agências de comunicação e profissionais altamente qualificados.
Não há empresa de sucesso que não disponha de um sistema de comunicação afinado, com propósitos bem definidos. Não há governo ou órgão público bem avaliado que não tenha em seus contratos uma boa agência de comunicação.
Será que só os partidos políticos não entenderam isso? Que sem comunicação não dá? As empresas fazem questão de manter comunicação permanente com seus colaboradores, considerados embaixadores das marcas. Pergunte a um filiado a qualquer partido político quantas vezes, fora dos períodos eleitorais, ele foi procurado para participar de debates, para apresentar sugestões, para conversar com as lideranças e receber insights para defender a legenda em sua comunidade?
Enquanto não tomarmos consciência – especialmente nós, que mexemos com comunicação – dessa necessidade permanente de comunicação política, estaremos à mercê da influência de pablosmarçais e assemelhados que usam – descaradamente – nossas desregulamentadas redes sociais para espalhar fake news e tirar vantagem da vulnerabilidade de uma sociedade mal informada.
Se o Pablo Marçal está no segundo turno, desculpem. Onde foi que eu errei?
Foto da Capa: Reprodução de Redes Sociais
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