Hoje se comemora o Dia dos Namorados e James Coan, neurocientista, diretor do Laboratório do Depto de Neurociência Afetiva de Virgínia, conduziu uma pesquisa muito interessante. Nela, os participantes faziam uma ressonância magnética funcional (uma técnica de imagem cerebral que, em vez de mostrar a estrutura do cérebro, mostra a atividade cerebral). Essas máquinas podem ser barulhentas, desconfortáveis. A eles eram exibidos dois slides. O vermelho significava que tinham 20% de chance de receber um pequeno choque elétrico. O azul que eles não receberiam choque.
Os participantes do estudo foram divididos em três grupos: 1) os que iam desacompanhados ao exame; 2) um desconhecido segurava a mão deles; 3) seu/sua parceiro/a amoroso/a segurava a mão.
E os resultados foram claros! Segurar a mão de alguém íntimo diminuía a ansiedade e acalmava os participantes. Tinha o efeito de atenuar a dor, igual ao de um analgésico leve. Mesmo entre os que seguravam a mão de desconhecidos havia benefícios, mas nada comparado entre os que seguraram as mãos de seus amores. Assim, a conclusão do estudo foi de que os relacionamentos dos participantes afetavam seu corpo em tempo real.
Pessoas nos provocam sentimentos. Os nossos relacionamentos vivem dentro da gente. Só de pensar em alguém importante, hormônios, substâncias químicas são produzidos, que viajam pelo nosso sangue, afetam nosso coração, nosso cérebro e outros sistemas. George Vaillant, psiquiatra, diretor do Departamento de Pesquisa da Escola de Medicina de Harvard, usando dados do Estudo de Harvard, descobriu que a (in)felicidade conjugal aos 50 anos previa melhor a boa saúde na velhice do que o nível de colesterol da mesma faixa etária.
Como vimos, James Coan conseguiu demonstrar em seu estudo que intimidade e afeto importam. Não temos “exames” que nos mostrem como seria esse funcionamento em nosso primeiro encontro ou enquanto discutimos. E para saber de que maneira nossos relacionamentos estão afetando nossas vidas, possuímos uma ferramenta de diagnóstico preciosa dentro de nós: a emoção.
As emoções são os melhores sinais do que está nos acontecendo. E elas são especialmente importantes no caso de relacionamentos íntimos. Quando experimentamos uma forte emoção, seja positiva ou negativa, isso pode nos indicar que algo mais profundo acontece se pararmos para observar e interpretar como estamos nos sentindo e compreender de onde ela está vindo.
As emoções também são os melhores sinais do que está acontecendo com a pessoa amada. Observando, investigando e reconhecendo as emoções que acontecem com quem é importante para nós.
As emoções impulsionam os relacionamentos. Por isso, aprender a percebê-las e lidar com elas é importante. A dois, quando tudo vai bem, tá tudo bom. O sol brilha. O grande medo é quando aparecem as diferenças e elas se tornam discussão. Vêm os medos, a sensação de ameaça.
Conforme Robert Waldinger, diretor do Estudo de Harvard, o maior e mais longo estudo a respeito de bem-estar, felicidade e longevidade no mundo, uma das primeiras investigações que conduziram foi levar ao laboratório pessoas casadas ou que viviam juntas e filmar por cerca de 10 minutos enquanto discutiam um problema recente ou algum incômodo na relação. Os pesquisadores avaliaram os vídeos quanto à intensidade das emoções (afeto, raiva, humor, etc.) e o comportamento de cada participante. Os pesquisadores também pediram que assistentes não especialistas avaliassem as emoções nos vídeos.
Cinco anos depois, os casais foram procurados para saber como eles estavam. Quando compararam o status dos casais com as avaliações dos vídeos, descobriram que haviam previsto com 85% de precisão os casais que permaneceriam juntos.
As emoções que se destacaram nos casais que permaneceram juntos foram empatia e afeto. Homens e mulheres que expressavam seu afeto, cultivavam a curiosidade e a disposição para escutar, mantiveram um vínculo mais saudável e duradouro. Em particular, homens que estavam mais sintonizados com suas parceiras, mais demonstravam interesse em entendê-las e quanto mais reconheciam a perspectiva delas, mais provável que o casal permanecesse unido.
Quando entram as discordâncias de opinião, diferenças de gostos, discrepância de atitudes, entram emoções. Normalmente, por dentro, a gente sente fortes emoções. E é fácil a gente se sentir ameaçado/a frente ao surgimento delas. Afinal, podem representar o fim da vida em comum.
Mesmo sentindo fortes emoções, muitas vezes nosso comportamento é o de jogar a sujeira para debaixo do tapete, fazer de conta que não está incomodando tanto, ceder pro/a outro/a, minimizando, para não precisar lidar com a diferença. E quando estoura, vira aquele bate-boca onde ninguém quer escutar ninguém, mas provar que está certo/a. E para lidar com essas horas difíceis, os pesquisadores do Estudo de Harvard criaram o W.I.S.E.R., que detalho nessa coluna que escrevi tempos atrás, aqui na Sler.
É importante que as diferenças sejam compreendidas como oportunidades para construir um relacionamento íntimo e gratificante. Elas representam uma chance para revitalizar um relacionamento ao revelar as importantes verdades escondidas debaixo da superfície.
Pois, assim como na vida, ao final das contas, o que mais importa não é o que acontece conosco, mas como lidamos com o que nos acontece.
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Foto da Capa: Gerada por IA.