Aqui no Brasil, nestes anos de 2022 e 2023, a maioria de nós está muito impactada pelas chuvas catastróficas e suas consequências. Eu estava em Porto Alegre visitando meus familiares quando soubemos da tragédia do Vale do Taquari, que comoveu todo o país. Em 2022, Petrópolis, onde moro, sofreu a maior de todas a suas tragédias causadas por chuvas torrenciais e deslizamentos de terra. Até hoje me causa desalento lembrar dos ônibus tragados pelas águas para dentro de um rio em fúria, com as pessoas desesperadamente tentando salvar umas às outras, enquanto algumas eram carregadas para a morte certa pela correnteza impiedosa. Isso aconteceu a poucos metros da nossa casa.
Agora sabemos que o aquecimento global e suas consequências não são uma tragédia distante que vemos comovidos na TV no conforto dos nossos lares. É algo que está aqui, batendo em nossas portas, ameaçando a nós e aqueles que amamos.
Ainda no final do inverno de 2023, enquanto o Rio Grande do Sul continuava sob os efeitos de ciclones em série, o resto do Brasil experimentou uma onda de calor nunca vista nessa estação. Agora vemos uma seca extrema tomar conta da Amazônia. E as ondas de calor voltarão na primavera. Já no Hemisfério Norte, onde é verão nos meses de junho a setembro, ondas de calor intensas e queimadas de grande proporção repetiram este ano um padrão que está se tornando o novo normal.
Embora as grandes tempestades, inundações e deslizamentos sejam as mais dramáticas expressões das mudanças climáticas, por seu assombroso poder destruidor, o calor vai matar, e afetar, muito mais pessoas. O calor é um inimigo silencioso e traiçoeiro, que nos atinge de diferentes formas, algumas ainda pouco percebidas, mas que já estão fazendo vítimas. É fato que se as ondas de calor, as queimadas e as secas se tornarem ainda mais intensas e frequentes, podem tornar inviável a ocupação estável em grandes extensões dos continentes.
Por outro lado, estudos demonstram que a elevação da temperatura média, às vezes quase imperceptível, pode levar ao aumento das mortes por problemas renais, desidratação crônica e outros problemas metabólicos que afetam principalmente as pessoas com saúde mais frágil. Segundo a revista Scientific American, na Europa, no verão de 2022, 61 mil pessoas morreram em virtude da temperatura excessiva.
Essas não foram mortes anunciadas em manchetes nos jornais e na televisão. Foram mortes anônimas, que ocorreram em hospitais, clínicas, residenciais para idosos, ou mesmo em casas, que na Europa são mais preparadas para o frio do que para o calor. No Brasil não damos muita atenção ao calor. Afinal, somos um país tropical! Mas o que dizer do fato que o país vive uma epidemia de doenças renais, cuja causa mais provável é o aumento da temperatura média?
O aquecimento global é uma tragédia com muitas facetas, algumas claras para todos nós, outras silenciosas e sutis, mas não menos sérias. O aquecimento global causa também o aumento da temperatura das águas dos oceanos, com consequências não só para o clima, mas também para muitos ecossistemas marinhos; a elevação do nível do mar, que ameaça cidades e instalações costeiras em todo o mundo e, nos continentes, desertificação de áreas férteis e migração ou mesmo extinção de espécies. E este não é o único problema que temos com o planeta. A degradação dos oceanos, a crise da biodiversidade, o esgotamento dos solos, a intensificação química e a poluição plástica, entre outros, são também muito preocupantes.
Mas o aquecimento é, provavelmente, nosso maior e mais urgente problema. E estamos fazendo muito pouco para impedir que se agrave, e menos ainda para nos prepararmos para as consequências que não podemos mais evitar. Nas próximas colunas vou explorar com maior profundidade os diferentes aspectos do aquecimento global, suas causas e consequências. E como isso vai atingir a todos nós. Espero que você me acompanhe nessa jornada.
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